sexta-feira, 31 de agosto de 2012

ESCULTURAS COMO ROLOS DE PAPEL HIGIÊNICO.


ejam que fantástico o trabalho da artista francesa Anastassia Elias, que criou cenas utilizando r de papel higiênico como matéria prima.




 





















































FONTE
www.r7.com/
FOTOS ILUSTRATIVAS


quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Conheça a história do macarrão.


A Itália não é mãe natural do macarrão, mas o adotou de tal forma que mudou sua história - e influenciou a alimentação em todo o mundo. É o que conta Encyclopedia of Pasta

Leila Zampieri | 01/06/2010 15h10
Não é de hoje que finas tiras de um simples preparado à base de água e farinha enfeitam, geralmente cobertas com molho de tomate, as mesas de pessoas famintas (ou somente gulosas). Ferramentas usadas para a manufatura de massa datadas de antes do século 7 a.C. foram encontradas em tumbas etruscas. Poetas romanos, como Horácio (65-27 a.C.), escreveram na Antiguidade sobre um alimento chamado laganum, o provável ancestral da lasanha. Ele, aliás, não foi nem de longe o único personagem histórico a se render aos encantos da pasta. Há registros de que o escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) era fã de espaguete. O multitalentoso Leonardo da Vinci (1452-1519), que dizia preferir ser mais lembrado como cozinheiro do que como pintor ou engenheiro, gostava tanto de macarrão que chegou a dedicar horas de seu tempo à industrialização do alimento. O Código Atlântico, um compêndio de seus projetos, registra o desenho de uma gigantesca máquina de preparar lasanha. A geringonça não deu certo: a mistura, que deveria ser submetida à alta pressão, quebrava antes mesmo de ser cortada. Frustrado, não sossegou enquanto não conseguiu calcular a exata tensão que o talharim e o espaguete suportavam antes de se romper.


Como se vê, a pasta tem história. E muita. Vários cientistas, baseados em achados arqueológicos, atribuem sua invenção aos chineses, há 4 mil anos. Outros dizem que ela surgiu na Palestina da Antiguidade. Há ainda os que afirmam que os gregos foram os primeiros a consumi-la. Se a origem causa discórdia, uma coisa é certa: foi na península Itálica que a massa se transformou naquilo que hoje conhecemos. Lá, ganhou centenas de formatos, recheios, molhos e fama. Por isso, só podia ter saído da cozinha italiana um livro como Encyclopedia of Pasta (Enciclopédia da Massa, inédito em português), da pesquisadora Oretta Zanini de Vita. Durante dez anos, ela entrevistou centenas de conterrâneos para conhecer antigos métodos de produção do alimento e suas diferenças regionais. E escarafunchou arquivos país afora para encontrar registros sobre a fabricação, o comércio e o consumo de massa. O resultado são os 130 tipos que ela lista em seu livro, um verdadeiro tratado sobre a comida. Oretta tem sido comparada à Julia Child, a americana que ajudou a desmistificar a cozinha francesa ao escrever um best-seller sobre o tema (e que teve sua vida retratada no filme Julie & Julia, de 2009, com Meryl Streep como uma das protagonistas). Mas a italiana esclarece: "Este não é um livro de receitas". E tem razão. Sua obra tem muito de história social. Os verbetes da enciclopédia trazem o nome da massa, os ingredientes, como ela é preparada, outros apelidos pelos quais é conhecida (o espaguete, por exemplo, era chamado vermicelli, algo como "vermezinhos", até a virada do século 20. Hoje há os dois tipos, com espessuras variadas), a forma como é tradicionalmente servida, em que regiões da Itália ela é encontrada e curiosidades sobre sua história.

A pesquisadora traça ainda paralelos entre a trajetória de seu país e a de sua comida preferida. Alguns tipos de massa criados no século 19 foram batizados com os nomes de proezas militares da Itália na África. É o caso do grupo de um macarrãozinho simpático que tem diversos tamanhos e geralmente é servido cozido em um caldo, cujos nomes são tripolini, bengazini e abissini. As referências são, respectivamente, às cidades de Trípoli e Bengazi, na Líbia, e à região da Abissínia (Etiópia), onde os italianos empreenderam algumas campanhas militares. Outra massa desse grupo é a assabesi, uma alusão à compra do porto de Assab, em 1869, no mar Vermelho, por uma companhia de navegação genovesa.
 
Mitos

Encyclopedia of Pasta também se encarrega de desvendar alguns mitos. Talvez o maior deles seja o de que o explorador Marco Polo teria trazido o macarrão para a Itália. Segundo Oretta, uma massa seca feita com trigo duro já era consumida na península por volta do ano 800. Ela foi levada de lá para o resto do mundo por navios de conquistadores muçulmanos da Sicília. No século 12, as repúblicas de Gênova e Pisa comercializavam a pasta seca para várias regiões próximas e também para outros países da Europa. "Existem documentos para provar isso, se há alguém que ainda acredite - e parece mesmo que há - que Marco Polo levou os noodles para a Itália em 1296 em seu retorno a Veneza da China", diz a autora no livro. "Na verdade, naquela época as pessoas de toda a Itália já comiam pasta havia pelo menos um século. Marco Polo relata um encontro com o noodle chinês e usa a palavra ‘pasta’ para descrevê-lo, claramente mostrando familiaridade tanto com o termo quanto com o conceito."

Produzir pasta, descreve Oretta, foi durante vários séculos um processo extremamente trabalhoso, que dependia de mão de obra especializada. A massa era feita na martora, uma espécie de tina em que o operário entrava e, como fazem os produtores de vinho ao esmagar as uvas, amassava-a. Misturar sêmola à água levava entre duas e três horas. Depois a massa era transferida para uma máquina com dois rolos, da qual saía mais fina para ganhar seu formato a mão. A secagem era demorada e ainda mais trabalhosa. Massas frescas são sensíveis ao clima - por isso, os antigos produtores eram considerados praticamente mágicos. "Eles rastreavam o céu, questionavam as estrelas e examinavam as fases da Lua e os ventos para estabelecer a posição de secagem da pasta", escreve Oretta. Tudo porque nos primeiros dias era necessário ar úmido, para depois a massa ser submetida ao ar seco. Esse método começou a cair em desuso no século 16, com o surgimento do engenho, que, como os nossos engenhos de açúcar, tornou o trabalho mais rápido e fácil, além de possibilitar o aumento da produção. A massa passou a ser feita com água quente, o que facilitava a mistura. Moinhos eram movidos com água dos rios ou com a força de burros, cavalos ou mesmo humana. Mas foi só no fim do século 17 que esse processo de produção multiplicou-se pelo país e o preço da pasta começou a cair - assim, a população mais pobre pôde, enfim, consumi-la em datas que não fossem exclusivamente a Páscoa, o Natal e o Carnaval.

A industrialização, porém, seguiu caminhos tortuosos. No começo do século 20, ainda faltavam energia e canais de comunicação em diversas províncias. Até hoje, a antiga forma de fazer macarrão sobrevive em pequenos negócios familiares. Cada região, província, cidade e até família, claro, fazia a pasta no formato que quisesse. E esses diversos modelos levaram muito tempo até se espalhar pela Itália. Pouco depois da Segunda Guerra Mundial, quatro quintos da população do campo ainda tinham sua dieta baseada em vegetais. A massa, por ser ainda cara (apesar do barateamento iniciado cerca de 300 anos antes), era reservada a dias especiais - e geralmente servida diluída no meio de uma sopa de legumes. Hoje, o consumo médio de pasta no país é de 25 a 28 kg por ano por pessoa. Para ter uma ideia do que significa isso, nada como examinar a própria mesa: cada brasileiro, no ano passado, comeu apenas 6,4 kg, apesar de sermos o terceiro maior produtor mundial de macarrão.
O revolucionário italiano Giuseppe Garibaldi havia proferido no século 19: "Será o macarrão, eu juro para vocês, que unificará a Itália". Se o alimento não teve a capacidade de fazer isso por sua nação, ele, pelo menos, conseguiu unificar o paladar do mundo todo. Pois não há sujeito bom da cabeça que resista a um saboroso prato de massa.


Variadas e deliciosas


Os mais curiosos tipos de massa



Nhoque

Ingredientes: farinha de trigo ou farinha de trigo duro e água. Às vezes, misturam-se batatas e ovos.

Como é servido: com molhos variados, em sopas de legumes e ainda in brodo (no caldo).

Onde é encontrado: por toda a Itália.

Curiosidades: é o ancestral de todo tipo de pasta na Grande Bota. O termo - gnocco, em italiano - é usado para inúmeras formas, desde a redonda, comum no Brasil, até uma mais alongada, parecida com o espaguete. Costumava ser cozido ou frito, coisa que ainda acontece em certas regiões italianas. Sabe-se que é consumido desde a Antiguidade. A princípio, era feito apenas com farinha e água. Em regiões pobres, sua massa era constituída por sobras de alimentos ou de pão. A batata passou a fazer parte dos ingredientes só no século 19.

Capeletti

Ingredientes: farinha de trigo e ovos. Para o recheio, uma mistura de carne e temperos, de acordo com o costume local, ou de ricota temperada. Espinafre ou outra verdura podem ser adicionados.

Como é servido: com caldo de frango ou carne.

Onde é encontrado: no norte da Itália (Emilia-Romagna), mas também em Lazio, Marche e Úmbria.

Curiosidades: o formato é o de um chapéu medieval, do qual vem seu nome. Na Idade Média, uma grande variedade de massa recheada deliciava o paladar dos mais afortunados. O capeletti sem carne, como era feito em Romagna, ajudava a preencher o vácuo que a Quaresma e outros feriados deixavam no estômago dos menos privilegiados.

Farfalle

Ingredientes: farinha de trigo, ovos e água.

Como é servido: os menores são geralmente cozidos em caldo. Os maiores, servidos com molhos típicos da região em que são consumidos.

Onde é encontrado: por toda a Itália.

Curiosidades: o nome significa "borboletas", por causa de seu formato. Algumas de suas variações ganharam nomes também referentes ao mundo animal, como lumachine ("minhoquinhas", em italiano), coralli ou corallini ("coral") e fischiotti (uma espécie de pato).

Gloria patri

Ingredientes: farinha, ovos e água.

Como é servida: geralmente em sopas, com condimentos tradicionais de cada região.

Onde é encontrada: Marche e Úmbria.

Curiosidades: o nome significa "Glória ao Pai". Donas de casa, na cozinha, costumavam rezar orações como o pai-nosso ou ave-maria para medir o tempo de cozimento da pasta. Gloria patri era reservada apenas para os dias de festividades porque exigia um processo de preparo longo e trabalhoso. Os pauzinhos usados para fazê-la eram de um tipo muito específico de madeira, como a faia.

Mafalda
Ingredientes: farinha de trigo duro e água.

Como é servida: como o espaguete, com molhos tradicionais de acordo com a região.

Onde é encontrada: por toda a Itália.
Curiosidades: o nome é uma homenagem à princesa Mafalda, nascida em 1902. No começo do século 20, um pequeno grupo de massas foi dedicado à casa real de Savoia, os novos monarcas italianos. Têm o mesmo formato que a mafalda as massas chamadas regine, "rainhas", e seus diminutivos, como reginelle e reginette, além de signorine, "senhorita".


Saiba mais



A obra

Encyclopedia of Pasta
Oretta Zanini de Vita, University of California Press, 2009 R$ 74,88

Seis mil anos de pão: a importância do pão para a humanidade.


Vítima da fome (como judeu perseguido na Segunda Guerra), Heinrich Eduard Jacob fez um retrato apurado de um dos principais alimentos da história da Humanidade

Ernani Fagundes | 29/03/2012 16h3
Há três mil anos, numa província egípcia próxima de Tebas, um grupo de operários trabalhava sob o sol forte em obras ordenadas pelo faraó Ramsés IX. Ao fim da jornada, aliviados e ansiosos, os trabalhadores esperam o salário pelo dia de labuta: três pães e duas canecas de cerveja. Mas a ração naquela tarde chegou diferente: gordura no lugar da mistura assada de farinha, água, sal e um pouco de fermento. Não deu outra: na manhã seguinte, recusaram-se a sair de casa. No registro do livro de pagamentos, a prova de uma das primeiras greves da História.

Um mês depois, a ração mais uma vez veio incompleta e os operários voltaram a cruzar os braços. Os grevistas foram protestar na capital, até serem atendidos, por ordem direta do governador. A falta de pão pode ter um duro efeito sobre qualquer patrão ou Estado - e, como se vê, há bastante tempo. Desde que ganhou espaço na dieta das famílias com base na receita inventada no Egito, por volta de 4000 a.C. Em Seis Mil Anos de Pão - A Civilização Humana através de Seu Principal Alimento, o escritor e historiador Heinrich Eduard Jacob revela a saga do pão de trigo, marcada por poucas mesas fartas e muitos períodos de fome e guerras.
Do Egito, o alimento seguiu para a Europa mediterrânea e se espalhou pelo planeta (ilustração: Vanessa Reyes)
O intelectual judeu alemão, autor de 29 livros, sobrevivente da Primeira Guerra e perseguido pelo nazismo, foi preso em Viena, em março de 1938, e teve seus bens confiscados. Ficou cativo no campo de concentração de Dachau, na Alemanha, até que um tio americano conseguisse libertá-lo, em 1939. Refugiou-se primeiro na Inglaterra e depois obteve asilo nos Estados Unidos. Lá escreveu Seis Mil Anos de Pão, publicado originalmente em 1944. Gravuras do antigo Egito são os rastros primordiais do pão. Os agricultores das margens férteis do Nilo conseguiram cultivar o trigo em safras regulares. Eles perceberam que, além de uma papa, o cereal fornecia uma massa que, levada ao forno, resultava num alimento saboroso e nutritivo. "Os cereais foram domesticados pelo homem no Egito e na Mesopotâmia na mesma época", afirma Pedro Paulo Funari, professor de arqueologia e história antiga da Unicamp, conhecedor da obra de Jacob. De acordo com o livro, o processo de levedura da massa, a fermentação, tardou algum tempo para ser dominado. Os egípcios perceberam que, se deixassem a massa "descansar" antes de assá-la, isso a fazia crescer e, se parte dela fosse acrescentada a outra massa, ela a faria crescer mais. "Tão logo isso aconteceu, os egípcios passaram a comer o pão assado com frutas como figos e tâmaras e, mais tarde, com azeite ou azeitonas, quando estabeleceram contatos com outros povos do Mediterrâneo, como os gregos", diz Funari.

"Não foi preciso muito tempo para que houvesse 50 variedades de pão. Assado, ele não tinha semelhança com nenhum dos ingredientes", escreve Jacob.

Até o fim do Novo Império (de 1550 a 1070 a.C.), os egípcios viviam quase isolados entre os desertos da Líbia, do Sinai e da Núbia (no atual Sudão). Nessa época, o pão já tinha o status de moeda. Esse isolamento foi rompido com as invasões dos hicsos, um povo de origem semita, e pelas guerras com os hititas (que habitavam a região da Turquia), o que gerou uma nova dinâmica para a cultura do trigo.

Rota


Os egípcios passaram a exportar seu excedente de produção para outros povos do Mediterrâneo pelas mãos de comerciantes fenícios. Foi dessa forma que os gregos (e toda a Europa, em seguida) conheceram o trigo e a arte de fermentar o pão.

Antes disso, os gregos comiam uma espécie de broa de cevada e uma bolacha de centeio. A chegada do trigo reservou ao cereal importado um papel de destaque em cerimônias ao culto de Deméter, "a mãe que faz crescer o povo" e de Dionísio, incorporado pelos romanos como Baco: o casamento perfeito entre pão e vinho.

Os judeus, sobretudo, atribuíram um significado sagrado a esse alimento - a Páscoa judaica tem raízes na comemoração da saída do Egito. No capítulo 13 do Êxodo, Moisés diz: "Recordai-vos deste dia em que saístes do Egito, da casa de servidão. Não se comerá pão fermentado. (...) Durante sete dias comer-se-ão pães ázimos, e no sétimo dia haverá uma festa em honra ao Senhor". Ele também proibiu que, nesse período, eles mantivessem em casa qualquer produto fermentado.

Historiadores interpretam a ordem para consumir o pão ázimo (sem fermento) como uma forma de diferenciação do pão egípcio. Jacob, porém, oferece outra hipótese e cita o mesmo costume de diversos povos nas oferendas às divindades. Ele lembra, por exemplo, que os sacerdotes de Júpiter, o deus supremo para os romanos, eram proibidos de usar farinam fermento imbutam, ou seja, farinha embebida em fermento.

O que civilizações tão diferentes tinham em comum? Consideravam o fermento "algo podre" e "impuro" para agradar aos deuses. O hábito de tornar alimentos sagrados era comum a vários povos da Antiguidade. Mais de mil anos depois da saída de Moisés do Egito, quando os judeus passavam fome para atender aos tributos romanos, Jesus Cristo repartiu o pão da Páscoa (em 27 d.C.) e o consagrou para bilhões de seguidores no futuro. Distribuiu os pedaços aos apóstolos como o "pão da vida", a transformação do alimento em sua própria carne.

Pão e circo


"Foi nesse mundo do Império Romano que apareceu Jesus Cristo. Era um mundo de carência, de verdadeira fome, um mundo em que especuladores retinham os cereais e no qual o Estado e o imperador se serviam do pão para fins políticos, dando alimento a quem apoiasse o seu poder", diz o autor, referindo-se ainda à prática dos governantes de oferecer trigo e diversão, como as disputas entre gladiadores. Para alimentar a plebe, sucessivos dirigentes canalizaram todo o trigo do Egito e das províncias para Roma, deixando a população mediterrânea sem pão.

Os romanos herdaram dos gregos o gosto pelo pão e a adoração a Deméter, batizada como Ceres e incluída nos mistérios de Elêusis, único culto que concorria seriamente com o cristianismo nascente da época. Tão importantes que eram no cotidiano romano, o pão e o azeite tinham preço e estoque controlados pelo Estado. Entre tipos e formatos variados, como o panis testuatius, cozido num vaso de barro, o pão de Parta era considerado uma especialidade leve - a massa era deixada dentro da água durante muito tempo e só depois cozida. Registros apontam que, em 72 a.C., 40 mil romanos recebiam o cereal gratuitamente do Estado. Com Júlio César, esse número passou para 200 mil e seguiu crescendo. Mas toda essa estrutura ruiu entre os séculos 3 e 4, quando as províncias não puderam mais suportar o peso de Roma e sua estrutura corrupta e inflacionada. E os invasores bárbaros trouxeram um novo gosto alimentar: sopas de legumes, aveia e centeio, que levaram a civilização ocidental para a Idade Média do sabor. À época, boa parte da população adulta era desdentada e a sopa vinha bem a calhar.

Jacob afirma que, por cerca de mil anos, até quase o fim do medievo, os europeus comeram mal. Nas crises de abastecimento, até cascas de árvore eram misturadas a grãos de trigo nas moendas do cereal. A partir daí, o historiador conta como a humanidade teve de se virar em diferentes partes do planeta para alimentar a população. O milho e a batata encontradas na América pelos colonizadores se espalharam para a Europa, a China e a Arábia. Mas, segundo Jacob, a preferência pelo trigo parecia imbatível. "O pão era rico em calorias: 2,4 mil calorias por quilo." Além disso, era um alimento barato.
O livro é um clássico não apenas sobre o trigo mas também sobre a agricultura e as técnicas de produção e conservação de alimentos - essenciais ao avanço das civilizações. E, claro, cita a importância de exércitos bem alimentados em todas as guerras. Napoleão, por exemplo, alimentava suas tropas com "um pão fabricado com duas partes de trigo e uma de centeio", enquanto o restante da população francesa comia uma mistura de farelo de trigo que não matava a fome. Na Revolução Francesa, durante períodos de escassez do cereal, as mulheres foram ao Palácio de Versalhes e à Convenção de Paris exigir das autoridades o essencial. Conseguiram, em 1793, fazer valer uma lei (mesmo que por pouco tempo) que distribuía o pão gratuitamente. Só assim diminuíram os gritos nas ruas: "Queremos pão!" O mesmo apelo dos grevistas egípcios e de qualquer família (faminta ou não) até hoje.


Saiba mais


A obra

Seis Mil Anos de Pão - A Civilização Humana através de seu Principal Alimento.
Heinrich Eduard Jacob, Nova Alexandria, 2003. R$ 93.


FONTE
REVISTA SADOL
FOTOS ILUSTRATIVAS


quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Para que servem a meia-lua e a pequena área?


Mesmo a gente não entendendo muito bem para que servem essas marcações, já nos acostumamos tanto que um campo de futebol sem elas fica meio capenga. Por isso, Placar e Mundo Estranho explicam a utilidade desses dois desenhos e da bandeirinha de escanteio.
1. MEIA-LUA
É a parte visível de um círculo que tem como centro a marca do pênalti. A principal função dela é na hora da cobrança de uma penalidade máxima. Antes de o cobrador chutar a bola, os demais jogadores devem estar atrás das linhas da grande área e da meia-lua
2. PEQUENA ÁREA
Tem duas funções. Na cobrança do tiro de meta, a bola não pode estar fora da pequena área. Já quando há uma falta em dois lances (um "pé alto", por exemplo) na pequena área, a bola deve ser colocada sobre a linha dela e a barreira na linha do gol. Para o ex-árbitro e hoje comentarista José Roberto Wright, há ainda uma terceira função: "Dentro da pequena área, o goleiro não pode ser tocado no ar". Outro ex-árbitro, Emídio Marques de Mesquita, discorda: "O goleiro só não pode ser acossado quando estiver com a bola". Na regra, não há menção a esse suposto "território de proteção ao goleiro".
3. BANDEIRA DE ESCANTEIO
É só uma referência visual que orienta todos em relação à linha lateral e à linha de fundo. A bandeirinha deve ter altura mínima de 1,50 metro. A colocação desse referencial no meio do campo é opcional. Vale lembrar que a bandeirinha não pode ser removida na hora de bater o escanteio. O jogador também não deve se apoiar nela durante a disputa de um lance. Se isso ocorrer, é falta.




FONTE
MUNDO ESTRANHO
FOTOS ILUSTRATIVAS


terça-feira, 28 de agosto de 2012

PROFESSORA - CARLA LANG - ORIENTADORA DO TRABALHO: A LENDA DA ORIGEM DAS ESTRELAS.

PARABÉNS PROFESSORA CARLA 
LANG PELO EXCELENTE TRABALHO REALIZADO COM OS ALUNOS DA EEF GUSTAVO BARROSO.

TEMA:  A LENDA DA ORIGEM DAS ESTRELAS.



















segunda-feira, 27 de agosto de 2012

A busca dos portugueses por especiarias no século XVI.

Aventuras na História
No século 16, os portugueses buscaram e conquistaram as terras que alimentavam a Europa com especiarias
Fábio Marton | 13/06/2012 19h25

Em 10 de agosto de 1511, em uma península no meio do oceano Índico, a mais de 20 mil quilômetros de sua terra natal, marinheiros portugueses prenderam um junco chinês no meio de uma ponte. De lá, atiravam para as duas margens. Eram 1,2 mil, contra 20 mil nativos. E os defensores locais não eram como os que espanhóis e portugueses enfrentavam nas Américas: estavam armados de canhões e mosquetes - e contavam com elefantes de guerra.
A ponte cruzava o rio que divide a cidade de Malaca, na atual Malásia, um sultanato muçulmano comandado por Mahmud Shah (1488-1528). A cidade, um dos portos mais ricos da Ásia, recebia navios persas, árabes, chineses e japoneses. Por ali passava o comércio vindo das chamadas Ilhas das Especiarias (veja na pág. 56), que chegava ao Oriente Médio e de lá rumava para a Europa pelas mãos dos venezianos, os rivais comerciais da emergente potência portuguesa.


O ato era uma dupla vingança. Dois anos antes, os portugueses haviam tentado estabelecer relações comerciais com o sultão por meio de uma expedição saída da Índia sob o comando de Diogo Lopes de Sequeira. O sultão tentou assassiná-los, mas eles descobriram o plano e fugiram a tempo. A outra vingança era parte de uma grande estratégia contra os muçulmanos em geral, uma antipatia que remontava ao tempo da Reconquista Ibérica, no século 14. "Os portugueses vinham com a ideia de uma cruzada, acabar com o poder muçulmano não só ali c omo também na Indonésia -, afirma Geraldo Affonso Muzzi, ex-embaixador brasileiro na Malásia, autor de Os Portugueses na Malásia. "A mentalidade hispano-portuguesa era a mesma. Era, de certa forma, uma vingança.




Mapa holandês das Ilhas das Especiarias do começo do século 17: riqueza e cobiça
A má recepção malaia não era fruto apenas de diferenças religiosas. Ela dizia respeito à fama dos portugueses: com frequência, seus pedidos por contatos comerciais terminavam em desastre. Calicute, na Índia, foi contatada por Vasco da Gama em 1498. Em 1500, a esquadra de Pedro Álvares Cabral estacionou por lá como o destino final de sua viagem, que, de passagem, descobriu o Brasil.


Alegando privilégio comercial pelos acordos firmados com Vasco da Gama, Cabral tomou um navio dos comerciantes árabes, que responderam com uma revolta da população, massacrando 70 portugueses, inclusive o autor da Carta do Descobrimento do Brasil, Pero Vaz de Caminha. Cabral respondeu com um bombardeio de 24 horas, matando 600 pessoas e arruinando a cidade, ao que se seguiu uma guerra que ainda continuava quando os 1,2 mil portugueses atiravam do meio do rio naquele 11 de agosto. Outras cidades, como Mascate (Omã, 1507), Ormuz (Irã, 1507) e Goa (Índia, 1510), tiveram destino diferente. Não houve nem tentativa de diplomacia. Caíram pelo pesado braço armado da marinha portuguesa, a frota do "leão do mar - Alfonso de Albuquerque.


Era Albuquerque quem estava no meio do rio, em sua nau Frol de la Mar, com mais 17 navios. A reação dos malaios foi mandar os elefantes de guerra. Os portugueses usaram lanças para repeli-los, atingindo-os nos olhos. Os elefantes, desesperados, voltaram em estouro na direção do próprio exército, causando o caos. Os portugueses asseguraram sua posição na ponte e passariam as duas semanas seguintes estacionados lá, trocando fogo dos canhões de seus navios com os 2 mil canhões malaios nas margens do rio.


"Uma das chaves do sucesso da implantação portuguesa na Ásia foi a superioridade militar, verificável nos domínios da construção naval, das táticas de guerra marítima, qualidade da artilharia e até do recurso a armaduras pessoais -, diz a historiadora Alexandra Pelúcia, da Universidade de Lisboa. Os malaios tinham mais canhões e mosquetes, mas eram armas ultrapassadas, algumas atirando projéteis de pedra, obsoletos na Europa havia 200 anos.


Acreditando na derrota, os comerciantes de Malaca - que eram, compreensivelmente, a classe mais influente do lugar - começaram a pressionar o sultão a render-se. O soberano resistiu, mas as tropas, desmoralizadas e desorganizadas, ofereceram pouca resistência quando os portugueses partiram da ponte para os dois lados da cidade, em 24 de agosto. O sultão fugiu e a corte continuou no exílio, juntando aliados para ataques periódicos (e frustrados) aos portugueses pelo século que se seguiu.


Malaca foi saqueada. Ouro, especiarias e até um elefante branco foram embarcados para a Europa. O elefante, chamado Hanno, foi dado de presente ao papa Leão 10 em sua posse, em 1514 - o papa e os italianos adoraram o presente, mas o bicho só viveu dois anos. O saque de Malaca não foi total. A coroa portuguesa tinha planos para a cidade, e esses planos dependiam de ela não estar em ruínas. O primeiro ato dos portugueses foi construir um forte, cujo portão ainda hoje é atração turística. A seguir, enviaram uma missão diplomática ao reino de Sião (na atual Tailândia), com o que conseguiram iniciar seu projeto mais ambicioso: Sião deu aos portugueses as coordenadas e a permissão para aportarem nas Ilhas das Especiarias. Com manobras diplomáticas e militares, conquistaram ou transformaram em vassalos Ternate, Maçácar e Timor - a última permaneceu como colônia até a independência, em 2002.


As ilhas, conhecidas como "das especiarias" tanto por portugueses quanto por chineses, são o arquipélago das Molucas, situadas na atual Indonésia, a cerca de 1 000 km a leste da península malaia. Eram a única fonte mundial de noz-moscada e cravo, as especiarias mais caras entre todas.


Meio quilo de noz-moscada era capaz de comprar 7 bois na Europa. Os cravos valiam mais ou menos seu peso em ouro. Com o controle de Mascate, Ormuz, Goa, Malaca e das Ilhas das Especiarias, os portugueses esperavam dominar todo o comércio no oceano Índico, mas o plano começou a fazer água pouco depois da conquista de Malaca. O sultanato era protegido da dinastia Ming, da China. E os chineses responderam com hostilidade - mais ainda por causa de relatos de portugueses atuando como piratas ou sequestrando crianças chinesas para torná-las escravas em Malaca. Missões diplomáticas e caravanas comerciais portuguesas foram aprisionadas, torturadas e mortas. Em 1521 e 1522, nas batalhas de Tamão, juncos chineses botaram para correr as caravelas portuguesas, que haviam estabelecido um forte na região (hoje Tuen Mun, em Hong Kong). Os capturados foram usados como reféns, exigindo a reinstalação do sultão Mahmud Shah. Diante da recusa portuguesa, foram esquartejados.


Na Europa, outras más notícias: em 1522, a expedição do português Fernão de Magalhães voltou ao continente, após dar a volta ao mundo, passando pelas Ilhas das Especiarias. Magalhães, um veterano da conquista de Malaca que caiu em desgraça com os nobres portugueses, estava a serviço dos espanhóis. Sua expedição foi um desastre. Apenas 18 dos 237 homens que saíram chegaram vivos à Espanha, baixas que incluíam o próprio Magalhães, morto em combate em 27 de abril de 1521, nas Filipinas. Mas os espanhóis perceberam uma oportunidade: o Tratado de Tordesilhas (1494), pelo qual Espanha e Portugal dividiram o mundo entre si, tinha um defeito grave: não levava em conta que o mundo é redondo.


Os espanhóis clamaram para si as Molucas. Se o mundo fosse dividido em dois hemisférios a partir da linha de Tordesilhas, as ilhas estariam à leste da área portuguesa. No mesmo ano de 1522, os espanhóis instalaram um forte em Tidore. Os portugueses enviaram forças contra eles e tomaram Tidore no ano seguinte. Seguiu-se uma década de conflitos, só resolvidos no Tratado de Saragoça, de 1529, que entregou as Filipinas aos espanhóis e as Molucas à Lisboa.


Portugal conquistaria a paz com os chineses na década de 1540, ajudando-os a vencer piratas japoneses na região, o que resultou na cessão de Macau em 1557. A paz foi bem-vinda, mas as guerras e os embargos fizeram seu estrago: os árabes passaram a usar outras rotas, evitando Malaca, para levar especiarias aos parceiros venezianos. Os produtos da China, como seda e canela, ficavam vedados aos portugueses.


O plano do monopólio foi um fracasso. E o grande ardor militar português acabaria enterrado no deserto do Saara, em 1578, com o desaparecimento do rei dom Sebastião na Batalha de Alcácer-Quibir, que levou o país a perder sua independência para a Espanha entre 1580 e 1640. Em 1641, as combalidas forças portuguesas perderam Malaca para tropas combinadas de holandeses e do sultanato de Johor, da Malásia. Em 1824, a região passaria para os ingleses por meio de um acordo - e conquistaria sua independência, com o resto da Malásia, em 1946.

Resta uma curiosa colônia na Malásia, em um bairro português que mantém seu orgulho étnico na cidade. Os malaio-portugueses (que também têm holandeses e ingleses na mistura) são católicos, falam entre si um estranho dialeto chamado kristang, tocam músicas parecidas com o fado e sua cozinha inclui porco, proibido aos muçulmanos, o grupo dominante no país. Os malaio-portugueses já sobreviveram como pescadores pobres, mas hoje estão integrados à economia emergente do país: o CEO da Air Asia, maior companhia aérea da Malásia, chama-se Anthony Francis Fernandes.

O que eram as especiarias?


Especiarias são temperos secos, que podiam ser transportados de navio ou caravana por meses sem perder o sabor. Algumas eram conhecidas desde a Antiguidade, através de rotas comerciais que ligavam Egito, Grécia e Roma aos impérios da Índia e China. Com a queda do Império Romano, os europeus tiveram que se conformar com as ervas locais. Além da culinária e perfumaria, as especiarias eram usadas na medicina - durante a epidemia de peste bubônica (1340-1400), médicos acreditavam que uma máscara com flores, perfumes e especiarias tornaria o usuário imune à doença. A partir do século 8, as conquistas islâmicas na península Ibérica e também na Sicília reintroduziram as especiarias na Europa. Quando Jerusalém foi capturada na 1ª Cruzada (1099), nobres europeus de países do norte, que lutavam nos exércitos cristãos, acabaram tomando contato com os temperos, bem conhecidos no mundo islâmico. A partir de então, rotas comerciais começaram a suprir a Europa - mercadores asiáticos levavam as especiarias de navio, da Índia, até suas terras, pelo mar Vermelho, ou por terra, em caravanas cruzando o centro da Ásia até o mar Negro. Mercadores venezianos e genoveses compravam as especiarias em portos árabes, gregos ou turcos e as distribuíam pela Europa. Em 1453, Constantinopla foi capturada pelos turcos do Império Otomano, que continuaram a se expandir ao sul, tomando terras árabes, e tornando-se, assim, um intermediário monopolista para as rotas. Os turcos cobravam impostos exorbitantes sobre as especiarias, levando seu preço às alturas. Isso incentivou portugueses e espanhóis a buscar uma rota alternativa para o Oriente.

Pimenta-do-reino

Especiaria conhecida desde os tempos greco-romanos, perdeu importância com a descoberta da pimenta americana (Capsicum annuum), com a qual não tem parentesco
Nome científico Piper nigrum
Região Índia
Canela
Conhecida desde o Egito antigo e citada na Bíblia, era a especiaria mais comum e barata
Nomes científicos Cinnamomum zeylanicun, Cinnamomum aromaticus
Região Sri Lanka (zeylanicum), China (aromaticus)

Cravo
Extremamente valorizado, o cravo era usado em temperos, incensos, perfumes e até para o tratamento da dor de dente (para o que, de fato, funciona).

Nome científico Syzygium aromaticum
Região Molucas
Noz-moscada
A noz-moscada é a semente de uma fruta parecida com o pêssego. Duas especiarias derivam dela: a noz em si e o macis, tempero vermelho da casca da noz.
Nome científico Myristica fragrans
Região Molucas
Saiba mais
Livro
Os Portugueses na Malásia, Geraldo Affonso Muzzi, Edições Vercial, 2002


FONTE
REVISTA SADOL
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www.superinteressante.com/
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