Dr. Ricardo Luiz Bruno;
Docente FAAL - Faculdade de Administração e Artes de Limeira
1 – Introdução
A água encontra-se disponível sob várias formas e é uma das substâncias mais comuns existentes na natureza, cobrindo cerca de 70% da superfície do planeta. É encontrada principalmente no estado líquido, constituindo um recurso natural renovável por meio do ciclo hidrológico. Todos os organismos necessitam de água para sobreviver, sendo sua disponibilidade um dos fatores mais importantes a moldar os ecossistemas. É fundamental que os recursos hídricos apresentem condições físicas e químicas adequadas para sua utilização pelos organismos, eles devem conter substâncias essenciais à vida além de estar isentos de outras substâncias que possam produzir efeitos deletérios aos organismos que compõem as cadeias alimentares. Assim, disponibilidade de água significa que ela está presente não somente em quantidade adequada em uma dada região, mas também que sua qualidade deve ser satisfatória para suprir as necessidades de um determinado conjunto de seres vivos (biota). (BRAGA ET AL, 2006)
Atualmente, com o aumento da demanda devido ao crescimento populacional, a água tem se tornado um recurso natural cada vez mais escasso. Uma das maneiras viáveis para a minimização do problema é a captação de água de chuva, onde a água captada pode ser utilizada para fins domésticos, tais como descargas em vasos sanitários, torneiras de jardins, lavagens de roupas, de calçadas, automóveis e até para o consumo humano, desde que receba o devido tratamento.
Com um sistema de captação de água de chuva é possível reduzir o consumo de água potável e consequentemente os gastos, minimizar alagamentos, enchentes, racionamentos de água e ainda preservar o meio ambiente reduzindo a escassez dos recursos hídricos, além de minimizar o arraste de lixos e resíduos de automóveis para os corpos hídricos através das águas pluviais.
O presente artigo tem como objetivo mostrar as vantagens em se utilizar sistemas de captação de água de chuva.
2 – Revisão Bibliográfica
2.1 – Águas Pluviais
As águas de chuva são encaradas pela legislação brasileira como esgoto, pois ela usualmente vai dos telhados, e dos pisos para as bocas de lobo, onde, como "solvente universal", vai carreando todo tipo de impurezas, dissolvidas, suspensas, ou simplesmente arrastadas mecanicamente, para um córrego que vai acabar dando num rio que por sua vez vai acabar suprindo uma captação para Tratamento de Água Potável. Essa água sofreu um processo natural de diluição e autodepuração, ao longo de seu percurso hídrico, nem sempre suficiente para realmente depurá-la. Uma pesquisa da Universidade da Malásia concluiu que após o início da chuva, somente as primeiras águas carreiam ácidos, microorganismos, e outros poluentes atmosféricos, sendo que normalmente pouco tempo após a mesma já adquire características de água destilada, que pode ser coletada em reservatórios fechados. Em resumo, a água de chuva sofre uma destilação natural muito eficiente e gratuita. Esta utilização é especialmente indicada para o ambiente rural, chácaras, condomínios e indústrias. O custo baixíssimo da água nas cidades, pelo menos para residências, inviabiliza qualquer aproveitamento econômico da água de chuva para beber. (CETESB, 2010)
Segundo Júnior (2009), “as águas pluviais são aquelas que se originam a partir das chuvas. A captação dessas águas tem por finalidade permitir um melhor escoamento, evitando alagamento, erosão do solo e outros problemas”.
Já Neto (2010) salienta a importância da água em nossas vidas “cada vez mais, a água é o centro de nossas atenções, pois não bastasse ser a maior constituinte do corpo humano, a ideia de sua escassez irá inviabilizar a vida humana”, e mostra os benefícios do aproveitamento das águas de chuva “os pensamentos em todas as áreas, neste século XXI, devem estar voltados não só para um consumo responsável, mas também para novas formas de aproveitamento desse líquido. Uma prática cada vez mais frequente nas construções é o aproveitamento de águas pluviais para fins não-potáveis, como lavagem de jardins e calçadas e descarga de vasos sanitários”, mas também alerta sobre a importância em se ter um tratamento de qualidade, pois, “apesar de ser uma boa iniciativa, o cidadão que fizer uso de tal sistema deve se lembrar de que a água não tratada, quando em contato com a pele humana, pode causar alergias e infecções, por isso, recomenda-se que a água armazenada seja tratada”.
2.2 – O ciclo hidrológico
A água pura (H2O) é um líquido formado por dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio e os cientistas acreditam que apareceu no planeta a cerca de 4,5 bilhões de anos atrás. O ciclo da água, também denominado ciclo hidrológico, é responsável pela renovação da água no planeta. O ciclo da água inicia-se com a energia solar, incidente no planeta Terra, que é responsável pela evapotranspiração das águas dos rios, reservatórios e mares, bem como pela transpiração das plantas. As forças da natureza são responsáveis pelo ciclo da água. A água é fator decisivo para que a vida surgisse e se desenvolvesse na Terra. O vapor d'água forma as nuvens, cuja movimentação sofre influência do movimento de rotação da Terra e das correntes atmosféricas. A condensação do vapor d'água forma as chuvas. Quando a água das chuvas atinge a terra, ocorrem dois fenômenos: um deles consiste no seu escoamento superficial em direção dos canais de menor declividade, alimentando diretamente os rios e o outro, a infiltração no solo, alimentando os lençóis subterrâneos. A água dos rios tem como destino final os mares e, assim, fechando o ciclo das águas. A movimentação da água na natureza é mostrada na Figura 1. (CETESB, 2010)
2.3 – Declaração Universal dos Direitos da Água
Atualmente sabemos a importância que a água tem em nossas vidas e que é fator essencial para a sobrevivência dos seres humanos. Devido tamanha importância, a ONU (Organização das Nações Unidas), em 22 de março de 1992, instituiu a Declaração Universal dos Direitos da Água, que conta com dez itens sobre o uso consciente da água. A seguir, os itens dessa importante declaração:
Item 1: A água faz parte do patrimônio do planeta. Cada continente, cada povo, cada nação, cada região, cada cidade, cada cidadão, é plenamente responsável aos olhos de todos.
Item 2: A água é a seiva de nosso planeta. Ela é condição essencial de vida de todo vegetal, animal ou ser humano. Sem ela não poderíamos conceber como são a atmosfera, o clima, a vegetação, a cultura ou a agricultura.
Item 3: Os recursos naturais de transformação da água em água potável são lentos, frágeis e muito limitados. Assim sendo, a água deve ser manipulada com racionalidade, precaução e parcimônia.
Item 4: O equilíbrio e o futuro de nosso planeta dependem da preservação da água e de seus ciclos. Estes devem permanecer intactos e funcionando normalmente para garantir a continuidade da vida sobre a Terra. Este equilíbrio depende em particular, da preservação dos mares e oceanos, por onde os ciclos começam.
Item 5: A água não é somente herança de nossos predecessores; ela é, sobretudo, um empréstimo aos nossos sucessores. Sua proteção constitui uma necessidade vital, assim como a obrigação moral do homem para com as gerações presentes e futuras.
Item 6: A água não é uma doação gratuita da natureza; ela tem um valor econômico: precisa-se saber que ela é, algumas vezes, rara e dispendiosa e que pode muito bem escassear em qualquer região do mundo.
Item 7: A água não deve ser desperdiçada, nem poluída, nem envenenada. De maneira geral, sua utilização deve ser feita com consciência e discernimento para que não se chegue a uma situação de esgotamento ou de deterioração da qualidade das reservas atualmente disponíveis.
Item 8: A utilização da água implica em respeito à lei. Sua proteção constitui uma obrigação jurídica para todo homem ou grupo social que a utiliza. Esta questão não deve ser ignorada nem pelo homem nem pelo Estado.
Item 9: A gestão da água impõe um equilíbrio entre os imperativos de sua proteção e as necessidades de ordem econômica, sanitária e social.
Item 10: O planejamento da gestão da água deve levar em conta a solidariedade e o consenso em razão de sua distribuição desigual sobre a Terra.
2.4 – O problema da escassez de água no mundo
Temos nos preocupado constantemente com racionamentos e cortes de bens e serviços indispensáveis a nossa sobrevivência. De tal forma, que acabamos nos sentindo amedrontados, ameaçados no nosso dia-a-dia. O custo de vida, conseqüentemente, acaba aumentando, devido aos incessantes reajustes nas tarifas desses bens e serviços. Logo, somos obrigados a tomar alguma atitude, ou seja, cortar gastos de setores das nossas finanças em que ainda tenhamos algo a relegar, ou conseguir alguma forma de ganhar mais, aumentando assim, o nosso poder aquisitivo. A água é um desses bens indispensáveis, sem as quais não poderíamos viver. Ainda que na atualidade a falta desse bem não se apresente como um grande problema para a América Latina e, em especial ao Brasil, este é um tema de suma importância a todos nós. Em uma rápida síntese sobre as condições da água, vemos que apesar da terra ser coberta por cerca de dois terços de água ou mais precisamente 71% da superfície, o planeta está começando a passar por problemas de escassez da mesma. Do total de água existente no mundo 97,5% são de águas que se encontram nos Oceanos, ou seja, água salgada, restando apenas 2,5% de água doce. E nem mesmo esses 2,5% podem ser totalmente aproveitados, pois 1,75% se encontram em calotas e geleiras polares, restando tão somente 0,75% desta água podendo ser considerada aproveitável. Devemos ressaltar ainda que essa quantia deverá ser dividida entre 6 bilhões de pessoas (total de habitantes no mundo). Devido a esse problema, já vemos em vários locais do mundo, principalmente no Oriente Médio (onde o problema é mais grave), as constantes desavenças que a escassez de água vem proporcionando. (WANDSCHEER, 2003).
Ainda segundo CETESB (2010) a escassez de água “é agravada em virtude da desigualdade social e da falta de manejo e usos sustentáveis dos recursos naturais. De acordo com os números apresentados pela ONU - Organização das Nações Unidas - fica claro que controlar o uso da água significa deter poder”.
2.5 – Sistema de captação de água de chuva
Com o sistema de captação de água de chuva é possível armazenar a água e utilizá-la de acordo com as necessidades da residência. Com a captação de água de chuva é possível economizar água potável, uma vez que serviços gerais como lavagem de quintal, carros, descargas em vasos sanitários podem ser feitos com a água armazenada.
Cobertura: É a parte de uma edificação que tem por finalidade proteger as áreas construídas contra a ação do tempo (chuva, neve, raios solares, etc.). (JÚNIOR, 2009)
Águas da Cobertura: É a área do telhado composta de uma superfície plana, que, por sua inclinação, conduz para uma mesma direção as águas das chuvas, que terão de ser captadas de alguma forma, como calhas, grelhas, etc. (JÚNIOR, 2009)
Beiral: É o prolongamento do telhado além das paredes externas. Normalmente, é projetado para proteger os vãos (portas, varandas e esquadrias) das chuvas e da insolação direta. Para captar as águas pluviais que chegam à sua extremidade, podem-se utilizar calhas e condutores externos ou executar uma pequena platibanda – nesse caso, utilizar calhas e condutores embutidos ou simplesmente deixar que a água caia e seja captada por meio de grelhas nos pisos externos. (JÚNIOR, 2009)
Platibanda: É uma pequena parede (murada) utilizada com a finalidade de esconder o telhado ou simplesmente embutir as calhas, caso em que o uso da platibanda é impreterível, assim como a colocação de condutores (embutidos ou externos) para a condução das águas pluviais. (JÚNIOR, 2009)
2.5.1 – Partes constituintes do sistema de captação de água de chuva
Calhas: As calhas têm por objetivo coletar as águas de chuva que caem sobre o telhado e conduzi-las aos condutores verticais (prumadas de descida). As seções das calhas possuem variadas formas, dependendo, obviamente, das condições impostas pelo projeto arquitetônico e dos materiais empregados em sua confecção (chapas de aço galvanizado, folhas-de-flandres, chapas de cobre, PVC rígido, fibra de vidro, concreto ou alvenaria). (JÚNIOR, 2009)
Condutores verticais: São tubulações verticais que tem por objetivo recolher as águas coletadas pelas calhas e transportá-las até a parte inferior das edificações, despejando-as livremente na superfície do terreno, ou até as redes coletoras, que poderão estar situadas no terreno ou presas ao teto subsolo, por meio de braçadeiras, no caso dos edifícios com esse pavimento. (JÚNIOR, 2009)
Condutores horizontais: Os condutores horizontais têm por finalidade de recolher as águas pluviais dos condutores verticais ou da superfície do terreno e conduzi-las até os locais permitidos pelos dispositivos legais. (JÚNIOR, 2009)
Caixas coletoras de águas pluviais: É uma caixa detentora de areia e/ou inspeção, que permite a interligação de coletores e a limpeza e desobstrução das canalizações. Também devem ser executadas sempre que houver mudança de direção, de diâmetro e de declividade nas redes coletoras. (JÚNIOR, 2009)
2.5.2 – O projeto do sistema de captação de água de chuva
Níveis do terreno: Os níveis projetados da edificação devem ser convenientemente estudados pelo arquiteto com relação ao escoamento das águas pluviais por gravidade. (JÚNIOR, 2009)
Posicionamento de calha em telhados: De acordo com a NBR 10844, as calhas de beiral e platibanda devem sempre que possível, ser fixadas centralmente sob a extremidade da cobertura e o mais próximo desta. A inclinação das calhas deve ser uniforme, com valor mínimo de 0,5%, e no sentido dos condutores verticais. Já as calhas de água furtada têm inclinação de acordo com o projeto da cobertura. (JÚNIOR, 2009)
Condutores embutidos e aparentes: De acordo com a NBR 10844, os condutores de águas pluviais podem ser colocados externa e internamente ao edifício, dependendo de considerações de projeto, do uso e da ocupação do edifício e do material dos condutores. (JÚNIOR, 2009)
Sobreposição de telhados: É comum coletar águas de chuva em um telhado, em um nível mais elevado, e jogar em um telhado em nível mais baixo. Sabe-se que telhados são estruturas delicadas, e, portanto, não devem receber vazões concentradas, que se transformem em carga de impacto sobre ele. Quando isso acontece, são inevitáveis danos à edificação, podendo ocasionar umidade no madeiramento de sustentação, devido a infiltrações pelo telhado. (JÚNIOR, 2009)
Coberturas horizontais de laje: É muito comum o empoçamento de água em coberturas horizontais de laje, mesmo não ocorrendo tempestades. Isso, normalmente, acontece devido à declividade incorreta da laje para o escoamento da água e a obstrução ou quantidade insuficiente de ralos. Para evitar isso, as superfícies horizontais de laje devem ter declividade mínima de 0,5%, de modo que garanta o escoamento das águas pluviais até os pontos de drenagem. (JÚNIOR, 2009)
3 – Materiais e Métodos
O Presente artigo foi desenvolvido através de pesquisas em livros didáticos relacionados à engenharia ambiental, engenharia civil e instalações hidráulicas, além de pesquisas em internet em sites com assuntos relacionados ao tema do artigo.
4 – Resultados e Discussões
Entre as vantagens de se utilizar a água da chuva pode-se citar a redução no consumo de água potável, redução dos gastos com taxas de água, preservação da água na natureza, minimização de enchentes, alagamentos e ainda evita um possível racionamento de água.
O fato é que o sistema de captação de água de chuva proporciona bons resultados para os usuários, uma vez que a implantação não tem custo elevado e os ganhos são satisfatórios, com relação à conscientização ambiental, como na parte financeira.
A tendência é que com a obtenção de bons resultados, famílias e empresas que possuem um sistema de captação de água de chuva tendem a divulgar os bons resultados, consequentemente difundirão esse tipo de sistema, propiciando maior conhecimento e aumentando a utilização do reuso de água de chuva.
De acordo com a Tabela 1 pode-se observar o consumo de água mensal numa residência com cinco moradores que é de aproximadamente 29.000 litros de água. De acordo com as tarifas da Companhia de Saneamento Básico de São Paulo – SABESP, a conta de água dessa residência será de aproximadamente R$50,00. Pode-se observar na Tabela 2 os gastos mensais com a conta de água sem o sistema de tratamento de água de chuva e em seguida na Tabela 3 é possível observar a redução de custos após a implantação do sistema de captação de água de chuva para armazenamento de 10.000 litros de água, a redução é de quase R$ 30,00.
O custo de implantação do sistema de captação de água de chuva para armazenamento de 1.000 litros de água varia de R$ 1800,00 a R$ 2000,00, ou seja, com a redução dos gastos em R$ 30,00 o retorno do investimento será de até cinco anos.
5 – Conclusão
Após a realização de pesquisas sobre o sistema de captação de água de chuva e a comprovação de bons resultados através das tabelas, fica concluído que: o sistema de captação de água de chuva é viável.
FONTE
www.superinteressante.com/
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DIÁRIO CATARINENSE
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http://www.tpa.com.br
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