sexta-feira, 22 de junho de 2012

O preço do progresso. Em discussão desde as primeiras conferências mundiais sobre problemas climáticos, a maior floresta do planeta está em pauta também na Rio+20. O que mudou no pensamento sobre a Amazônia ao longo dos anos?

  • A Amazônia brasileira está determinada por dois elementos básicos: o rio e a floresta. O maior banco genético do planeta ocupa 42% do território nacional com seus 510 milhões de hectares, tem uma cobertura vegetal equivalente a 22% da reserva florestal do mundo, e seu reservatório de água doce detém 25% do total disponível na Terra. Com aproximadamente 20% de todas as espécies de animais, e com espécies únicas, é um verdadeiro paraíso terrestre. Só o Rio Amazonas, o maior do mundo em volume de água, possui mais de cem afluentes, e um celeiro de peixes que enriquece este exótico acervo natural. 
    Nos últimos 20 anos, a preocupação com essa biodiversidade e com a diminuição do efeito estufa vem ganhando cada vez mais adeptos. A Amazônia foi protagonista de inúmeros encontros internacionais sediados no Brasil e no exterior e, neste mês, volta a ser discutida na Rio+20, a Conferência das Nações sobre o Desenvolvimento Sustentável, que busca estabelecer metas para uma economia verde, em que sociedade, governo e empresas possam utilizar os recursos da natureza respeitando o meio ambiente.
    As capitais dos maiores estados do Norte do país possuem hoje mais de um milhão de habitantes. Manaus e Belém, por exemplo, se situam em locais de antigos acampamentos de tropas de resgate e foram escolhidas pelos portugueses em função de suas características estratégicas militares: em geral grandes platôs de desenho triangular ou quadrado, vastamente irrigados, localizados no meio da floresta Amazônica, à margem dos rios Amazonas, Negro, Solimões, Guaporé e Branco.

    Economia amazônica em décadas
    O declínio da economia baseada na extração do látex, entre os anos 1920 e 1940, por um lado, reduziu a pressão sobre as florestas e, por outro, isolou a região do contexto nacional e do capitalismo internacional, retornando à economia de subsistência, os produtos complementares à borracha passando a se constituir a base da economia regional.
    Área de desmatamento na Amazônia/ Imagem: Greenpeace
    Área de desmatamento na Amazônia/ Imagem: Greenpeace
    Entre os anos de 1970 e 1980, as possibilidades de expansão da economia da Amazônia Ocidental cresceram na medida em que a ciência, a tecnologia e o conhecimento dos recursos naturais se ampliaram, fazendo aumentar as opções e as oportunidades da população.  As reflexões sobre ecologia e desenvolvimento sustentável envolveram o planeta, quando, por exemplo, Estocolmo sediou, em junho de 1972, a “Primeira Conferência Mundial sobre o Homem e o Meio Ambiente”, com a presença de apenas dois chefes de Estado: o anfitrião sueco Olof Palme e Indira Gandhi, da Índia.
    Nessa conferência, foram introduzidos temas ligados à ecologia: os índices de poluição, desmatamentos, inversões de temperatura e os danos que causariam às futuras gerações. Na ocasião, os países em desenvolvimento não concordaram em reduzir suas atividades produtivas, uma vez que seus crescimentos estavam relacionados ao processo de industrialização.
    No início dos anos 1990, perante o Conselho da Comunidade Econômica Européia e, depois, em reunião do G-7, o chanceler alemão Helmut Kohl comprometeu-se a levantar recursos para financiar o desenvolvimento sustentável na Amazônia. O projeto então proposto pelo G-7, em reunião de dezembro de 1991, teoricamente destinava-se à preservação das florestas tropicais do Brasil. Medidas de impacto se faziam oportunas: decidiram investir U$ 1,5 bilhões nas nossas florestas. Um dinheiro que, no final, acabou não sendo liberado.
    Seis meses antes da Conferência Rio-92, quando a região estava mais do que nunca em evidência, o Duque de Edinburgo, Príncipe Philip, esteve em Manaus e se surpreendeu com a exuberância da floresta e seu grau de preservação. Na oportunidade, o visitante questionou a autoridade dos países europeus em acusar os amazônidas de devastar suas florestas, se eles próprios foram incapazes de preservar as suas. Merece também ser ressaltada a ida a Manaus do próprio chanceler alemão Helmut Kohl, também antes da Rio-92. O que ele viu, segundo seu próprio depoimento, foi uma Amazônia praticamente intocada. Suas impressões sobre a exuberância das florestas e dos rios foram registradas pela imprensa internacional que o acompanhava.

    Amazônia na Rio 92
    Em 1992, o Brasil sediou a Conferência das Nações Unidas Rio-92: foram mais de cento e cinquenta chefes de Estado debatendo o futuro da humanidade.  A questão amazônica foi posta no centro das discussões, de modo a insinuar a incapacidade dos amazônidas de conter o que era então chamado abertamente de processo incontrolável de devastação.
    Em outras palavras, parecia que a população local deveria ser advertida em alto e bom som por estar pondo em risco o futuro das espécies, incluindo a humana. Mas sabemos que a história não é bem assim: o interesse econômico pela região é gigantesco. É preciso deixar claro que existe a Amazônia intocada da floresta de terra firme, aquela sobre a qual pouco se sabe: a Amazônia dos rios, das várzeas, da estrada, da mineração, do extrativismo, das tribos indígenas , das metrópoles e do caboclo.
    Hoje, o conhecimento disponível sobre a região nos autoriza a desmentir alguns mitos que têm sido cultivados em relação a ela. Os mitos se devem à falta de informação repassada sobre o tema e o pouco interesse científico brasileiro sobre ela. No Brasil, apenas 2% dos pesquisadores pensam e investigam a Amazônia. É possível localizar, em certas universidades dos Estados Unidos ou da Europa, mais informações sobre o tema do que aquelas disponíveis nos institutos locais de pesquisa. O custo dessa desinformação é muito maior do que se pode imaginar.
    Pesquisas recentes indicam que o aumento da temperatura nas próximas décadas pode causar o derretimento das calotas polares e a elevação do nível dos oceanos. Esse aumento pode resultar na destruição de inúmeros ecossistemas, com a extinção de espécies animais e vegetais, além de destruição de cidades litorâneas. Preocupados com esses problemas, organismos internacionais, ONGs, autoridades de diversos países e a população estão exigindo medidas para a redução do desmatamento, da poluição e da emissão de gases. O Protocolo de Kioto, assinado em 1997, prevê a redução de poluentes nos próximos anos. Entretanto, alguns países do G-7, como os Estados Unidos, tiveram dificuldades no cumprimento do acordo alegando que a redução na emissão de gases poderia dificultar o avanço de suas indústrias.
    Na Conferência Rio+20 espera-se a presença de 110 Chefes de Estado e de Governo, cujo tema principal será em torno da economia verde. Ela representa uma oportunidade de debater as questões ambientais, e uma reflexão sobre a atuação de certas organizações, com enorme dinamismo em suas redes sociais, que não estão sintonizadas com as necessidades da população de oito Estados Amazônicos. Seguidamente noticiadas pela imprensa, as áreas de conservação ambiental e terras indígenas são alvo de contrabando de diamantes, ouro, mogno etc. Elas deveriam alertar os executores das políticas públicas da FUNAI e do Plano de Ação para Preservação e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal. Espera-se que o encontro coloque a utilização das potencialidades amazônicas acima dos interesses comerciais. E que as coisas, enfim, comecem a mudar.

    Graciete Guerra da Costa é arquiteta pela Universidade Federal do Pará, mestra e doutora em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de Brasília e autora dos projetos “Calha Norte na Região do Alto Rio Negro – AM”, “Peixe-Boi de Mamíferos Aquáticos – INPA-AM”, “Programa Manaus Sustentável – AM”


    FONTE
    REVISTA SADOL
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    MUNDO ESTRANHO
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