segunda-feira, 9 de julho de 2012

Verdade ou mito? João-de-barro.

 João-de-barro prende a parceira se descobre que foi traído

por Fábio Paschoal em 6 de julho de 2012
     
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João e Maria em seu ninho de barro - Foto: Fábio Paschoal


O que você faria se descobrisse uma traição? O joão-de-barro fecharia a parceira dentro do ninho, aprisionando-a ali para sempre. Essa história, que ouvi durante uma roda de tereré no Pantanal, me deixou intrigado e resolvi investigar a origem da crença.


O joão-de-barro constrói seu ninho junto com a fêmea. Eles são excelentes arquitetos e utilizam lama para fazer uma estrutura complexa, semelhante a um forno de pizza. Para entrar na casa é preciso passar por um corredor em forma de “L”, que leva a uma câmara onde a fêmea irá colocar seus ovos. Lá eles estarão protegidos do bico do tucano, que não consegue fazer a curva.


Depois de muito tempo olhando para esses ninhos encontrei um exemplar fechado, o que dava sustentação à crença. Sentei na pedra mais próxima e comecei a observar. Reparei que havia insetos entrando e saindo por um pequeno orifício. Seriam moscas colocando seus ovos na carcaça da “maria-de-barro”? Resolvi chegar mais perto para averiguar.


Quando consegui identificar os animais tudo fez sentido. Eram abelhas.


Algumas espécies de abelhas utilizam ocos de árvore para construir a colmeia. Se a entrada for muito grande, as operárias irão diminuir a abertura com cera. Um ninho de joão-de-barro abandonado é uma ótima cavidade para os insetos, e eles irão aproveitá-la se não acharem um lugar melhor para se estabelecer.


Para mim, essa era uma explicação muito mais convincente do que a história da traição. Porém, já vi tanta coisa surpreendente na natureza que fico inseguro em afirmar que a crença não é verdadeira. Prefiro colocar de outra forma: até hoje não há registros confiáveis que sustentem essa teoria de crime passionaldo joão-de-barro.

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REVISTA SADOL
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Um dia no Sesc Pantanal...

por Zé Edu Camargo em 26 de junho de 2012

Nascer do sol no rio Cuiabá

Acho que ninguém pensou ainda em uma lista dos melhores lugares para o birding no Brasil. Mas em nenhuma delas deveria faltar o Pantanal. A alta concentração de fauna em geral (e da avifauna em particular), os espaços amplos e abertos, a possibilidade de encontrar espécies de diferentes biomas (como Amazônia, Cerrado e até Mata Atlântica) são atrativos irresistíveis.
Para gente de boa parte do país, no entanto, Pantanal remete a um lugar longe e inacessível. Nada mais falso. A duas horas de carro de Cuiabá, a capital de Mato Grosso, o hotel Sesc Pantanal permite desfrutar as belezas dessa região sem abrir mão de conforto e segurança. E fica numa excelente região para a observação de aves. O Sesc mantém uma RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural) que conserva uma enorme área. Este ano, durante uma viagem a trabalho para Cuiabá, tirei um dia para passarinhar no hotel. Saí da capital no meio da tarde e cheguei ao hotel no entardecer. A rodovia (asfaltada) que liga Poconé ao Sesc, na região de Porto Cercado, não leva o nome de estrada-parque à toa. Nas margens já é possível observar, do carro mesmo, diversas aves que procuram os campos e plantações: marrecas, tapicurus, gaviões.
 Um dia de birding por lá começa antes do sol nascer. Ainda de madrugada, saí com o guia do hotel e mais alguns turistas para um passeio de barco pelo rio Cuiabá. Com um farolete, o guia procura por aves noturnas, como bacuraus e urutaus. Já no alvorecer, encontramos tachãs, garças-reais e um bando de jacutingas-de-garganta azul.
Depois do café (e de uma chuva que apareceu do nada), parti para um dia de birding solo. Na verdade, o entorno do hotel é tão rico que, mesmo para quem não tem muita experiência, encontrar as aves não se mostra uma tarefa difícil. Passei a manhã percorrendo a pé a estrada asfaltada ao lado do hotel, que atravessa áreas de vegetação baixa e alagada. Usando o playback, consegui boas fotos do bentevizinho-do-brejo, de caturritas, graveteiro, sabiá-gongá e do coleiro-do-brejo.
À tarde, depois do almoço, explorei (também a pé) a estrada de terra que leva à Baía das Pedras, uma outra unidade do Sesc. Ao longo da estrada há um cerradão alto, com alguns trechos de mata alagável. Fiz um grand-slam de martins-pescadores (a expressão é minha), com o martim-pescador-grande, o martim-pescador-verde, o martim-pescador-pequeno e o (mais raro) martinho. Na estrada também encontrei um casal de curiós, comprovando que a área é muito bem-preservada.
No final, a conta era fantástica: mais de 30 lifers, fora aqueles que escutei e não consegui avistar, como o arapaçu-de-garganta-amarela e o saci. Isso em apenas um dia. O que você está esperando?

Cavalaria, ave muito comum na região

Martim-pescador-pequeno


Sabiá-gongá


Bentevizinho-do-brejo


Jacutinga-de-garganta-azul

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Flamingos: aves gregárias...

Toda a graça e exuberância do flamingo-americano nas salinas e manguezais no litoral mexicano.


                Flamingos interagindo em cortejo na panínsula de Yucatán, no México
Um flamingo mais parece uma ave desenhada por excitadas crianças de três ou quatro anos – as pernas absurdamente compridas, os tornozelos protuberantes (que lembram joelhos), o pescoço sinuoso e o bico exagerado – que usam os crayons mais berrantes que tem à mão. Mas é exatamente esse conjunto de características físicas inusitadas que permite ao flamingo-americano (Phoenicopterus ruber) sobreviver e prosperar em salinas, várzeas lamacentas, lagunas e manguezais. Com os bicos curvos ele revolve pedaços de lama para fazer um ninho. E no interior do bico, cerdas rijas filtram a água e retêm pequenos crustáceos, moluscos, insetos e suas larvas, assim como a vegetação submersa.


                Bando de flamingos voa durante a noite 
               
E as penas tão deslumbrantes? Elas parecem existir apenas para o nosso deleite, mas na realidade nem começam sendo rosadas. Quando saem dos ovos, os filhotes têm penas brancas que logo se tornam acinzentadas – e só mais tarde adquirem o tom rosado, devido a bactérias aquáticas e ao betacaroteno ingerido com os alimentos.
Embora tenham virado um clichê visual, imortalizado em baratos ornamentos plásticos de jardim, os flamingos ainda são estranhamente misteriosos. “Por mais reconhecíveis que sejam, o fato é que não sabemos grande coisa a respeito deles”, comenta Chris Brown, o responsável pelas aves no zoológico e aquário infantil de Dallas, que estuda os flamingos-americanos da península de Yucatán, no México. Os cientistas não têm certeza nem mesmo a respeito dos comportamentos mais corriqueiros, como a propensão a se apoiarem apenas em uma perna. (Alguns avançam a hipótese de que isto está relacionado com o modo como essas aves repousam.) Além disso, como os flamingos vivem em áreas remotas e se mudam à medida que as áreas de alimentação são inundadas ou ficam secas, não é fácil para os pesquisadores sequer fazer a contagem e acompanhar a movimentação das populações – e muito menos entender como elas são afetadas por secas, furacões e variações no nível das águas em função de mudanças climáticas ou da ocupação humana dos litorais.
O que de fato sabemos sobre os grandes bandos de flamingos em condições naturais é que eles são extremamente sociáveis e dedicados uns aos outros. E que realizam danças de acasalamento em grupo. Os pais são muito ciosos de seus filhotes, reunindo-os em berçários enquanto machos e fêmeas saem em busca de comida. E quando surge alguma ameaça, milhares deles se movem em perfeita sincronia – um balé que talvez aumente a probabilidade de sobrevivência em um mundo repleto de perigos. – Nancy Shute.


                Flamingos se alimentando de pequenos crustáceos




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