segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Blindagem chega à classe média. Mas vale a pena? Para tentar se proteger da violência urbana, um número cada vez maior de brasileiros opta por blindar seus veículos.

Blindagem chega à classe média. Mas vale a pena?
Você já pensou em ter um carro blindado? Ano após ano, uma maior parcela dos brasileiros passa a considerar esta possibilidade. A falta de segurança nas grandes cidades somada aos crescentes índices de violência faz com que os mais favorecidos financeiramente invistam um dinheiro alto para blindarem seus veículos e circular pelos centros urbanos com mais segurança, ou pelo menos, com a sensação de estarem mais protegidos. A novidade é que agora a blindagem passou a ficar mais acessível e até modelos novos estão sendo vendidos já blindados. 
O Brasil possui uma frota de cerca de 120 mil veículos blindados. Para termos uma ideia, no ano de 2003 o número de carros com proteção balística no País era de 22 mil veículos, o que representa um crescimento estrondoso de 445% em dez anos. 
Hoje, o mercado brasileiro de blindagens civis é o maior do mundo, tipo de recorde do qual não podemos nos orgulhar. Em média, uma pessoa gasta cerca de R$ 47.300 para blindar seu veículo, o que não deixa de ser um valor significativo mesmo em veículos que custam mais de R$ 200 mil.

Mesmo assim, trata-se de um mercado promissor e, de acordo com aAssociação Brasileira de Blindagem (Abrablin), apresenta um crescimento de 5% ao ano. Para abocanhar uma parcela deste nicho, empresas como a DuPont, estão investindo em um sistema de blindagem “popular”, mais acessível – que chega a custar até 50% menos que a blindagem tradicional.
A sacada da marca foi desenvolver kits pré-moldados para 20 modelos de automóveis, com preços que variam de R$ 18.950,00 a R$ 33.000,00. Para se blindar um Chevrolet Agile vendido por cerca de R$ 40 mil, por exemplo, o cliente desembolsaria metade do valor pago pelo veículo, R$ 21.950. Batizada de Armura, a blindagem “popular” é mais leve, adiciona cerca de 90 quilos ao veículo enquanto a proteção mais comum pode adicionar até 170 quilos extras. Para conquistar clientes, a marca ainda afirma que seu produto não provoca alterações significativas no desempenho e consumo de combustível e, além disso, a instalação é feita em apenas 15 dias úteis.

No entanto, embora o produto seja certificado pelo Ministério da Defesa, ele se enquadra no nível I da norma NBR 15000 da ABNT que oferece proteção contra tiros de armas calibre 38 e abaixo. Segundo Rodrigo Fukuoka, chefe dos investigadores da Divisão Especial de Atendimento ao Turista - DEATUR - , os calibres mais utilizados pela bandidagem são os das armas que tem venda autorizada no País ( como .38, .32, 380). "Geralmente são armas que os bandidos roubam de vigilantes e seguranças particulares de estabelecimentos comerciais. No entanto, de dez anos para cá calibres restritos começaram a ser vistos em assaltos comuns, o que é reflexo do contrabando de armas que vem do Paraguai, país que faz fronteira com o Brasil", explica. 

Embora o produto da DuPont tenha contribuído para uma popularização do serviço, a blindagem mais praticada no mercado ainda é a de nível III-A, que suporta até tiros de submetralhadoras (pistolas) 9mm e revólveres .44 Magnum. Fukuoka acredita que a classe média não irá poupar esforços para instalar a proteção balística mais em conta, o que não deixa de ser uma vantagem, pois, segundo ele, é melhor estar 10% mais protegido do que nada.

Outro cuidado para quem pensa em blindar o veículo é procurar empresas sérias que que saibam fazer a instalação adequada do produto. "Não adianta a blindadora vender o material adequado se não possui a capacidade técnica para instalá-lo”, conclui.

Níveis de proteção
Segundo levantamento conduzido pela Abrablin, 8.384 veículos foram blindados em 2012, número que deve crescer em 2013. No ranking dos estados que mais blindam veículos, segundo a pesquisa da entidade, São Paulo é o primeiro, com 72%, seguido pelo Rio de Janeiro, com 8%. Os outros três estados que mais investem neste tipo de proteção ficam no Nordeste: Pernambuco (6%), Ceará e Bahia (2% cada).

Quem blinda mais?
De acordo com a DuPont, os homens ainda lideram a decisão de compra, representando 76% das vendas do Armura. No entanto, as mulheres lideram o percentual de usuárias, 51% segundo dados da companhia. “A compra é realizada pelos homens preocupados com a segurança de suas esposas e filhos. No entanto, este cenário vem mudando nos últimos anos e a mulher já representa uma parcela importante”, destaca Carlos Benatto, gerente do DuPont Armura.

Você sabe usar?
Para valer o que se paga, os adeptos dos sistemas de blindagem devem adotar novas atitudes no dia a dia. Manter os vidros sempre fechados e redobrar a atenção ao desembarcar do veículo são alguns exemplos. Confira outros cuidados que são necessários para conservar e até prolongar a vida útil da blindagem:
"Aconselho o carro blindado 100%"



O ex-piloto de Fórmula 1 Raul Boesel descobriu da pior forma a utilidade da blindagem. Seu irmão mais novo foi assassinado num assalto em 2001 e viu sua família sofrer várias tentativas de assalto. Desde que voltou ao Brasil, ele não dispensa a blindagem em seus carros.

Desde quando você utiliza a blindagem em seus veículos e por que resolveu adotar a proteção?

Voltei para o Brasil em 2002 e desde então uso carro blindado. A razão é muito triste, meu irmão caçula foi assassinado em um assalto aqui em São Paulo no dia 26 de janeiro de 2001, uma segunda-feira de Carnaval às duas horas da tarde. Além disso, minha esposa Deborah por duas vezes passou por tentativas de assalto e meu filho Enrico também. O problema é grave.

Você consideraria utilizar a nova blindagem "popular" da DuPont? Se não, por quê?

Acho que todos que tenham condições de se proteger não podem se poupar, não vejo a situação melhorar, bem pelo contrário, por isso aconselho o carro blindado 100%.

Quais hábitos você passou a adotar após utilizar os blindados?

Sempre estar atento onde estacionar, entrar rápido no carro e imediatamente trancar as portas antes de ligar o carro, sempre estar atento aos retrovisores e deixar algum espaço entre o carro da frente quando parado em semáforos.

Você se sente inseguro ao andar no carro de alguém que não possua a proteção balística ou nem pensa nisso?

Nas cidades perigosas sim, como Rio e São Paulo. Nesses locais, as chances de um assalto ou uma tragédia são maiores. Infelizmente a segurança no Brasil inteiro está muito precária, a impunidade fez os marginais perderem o valor de uma vida.

Mesmo com o costume de blindar os veículos, você não dispensa o uso da motocicleta. Não tem medo?

O trânsito em São Paulo virou um caos, ainda mais com o governo incentivando a venda de carros sem nenhum plano de infraestrutura. Sei que estou sendo 8 ou 80, mas a motocicleta passou a ser uma necessidade para locomoção. É meio contraditório ficar entre o carro blindado e motocicleta e confesso que ando de moto com certo medo, onde você fica mais exposto e vulnerável. É nossa realidade. Sinto prazer em viajar de moto, mas na cidade é sempre muita tensão.
NívelArmas e calibresVendas no Brasil
l
II-A
II
.22, .32 e .38
9 mm
.357 Magnum
Menos de 10%
III-A.44 MagnumMais de 90%
IIIFuzis AK-47 e AR-15Uso restrito
IVFuzis e rifles com munição perfuranteCom autorização especial

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