Sedã 530 quer transformar Lifan em marca conhecida no Brasil.
A Lifan não foi a única e nem a primeira, mas está entre as marcas que começaram sua carreira no Brasil com o pé esquerdo. Em meio à avalanche de montadoras chinesas que chegaram ao País nos últimos anos, ela desembarcou no mercado por meio da empresa Effa, do empresário uruguaio Eduardo Effa.
Conhecida pelo amadorismo de suas ações, a Effa apresentou a Lifan ao brasileiro de uma forma um tanto patética. Estreante no Salão do Automóvel de São Paulo de 2010, a marca usou um sósia do personagem Mr. Bean para chamar a atenção para o Lifan 320, uma cópia pouco inspirada do clássico Mini Cooper. E isso ao lado da versão original.
É verdade que a Lifan também colaborou ao colocar o 320 como seu produto de exportação, mas qualquer estrategista de marketing teria barrado a ação, por mais que ela fosse barata por pegar carona num ícone.
Dois anos depois, no entanto, algo aconteceu com a Lifan. Com vendas magras em território nacional e sem um trabalho de pós-venda adequado com os cerca de 4 mil clientes do 320 e do sedã 620 (este levemente inspirado no Corolla de 2002), a matriz da montadora decidiu romper com o representante e assumir ela mesmo a operação no Brasil.
Empresa jovem
O período de gestação da nova fase da Lifan foi concluído há alguns meses quando a marca lançou o X60, um utilitário esportivo do mesmo porte de um Tucson, mas com preço bastante competitivo e de projeto bem mais aceitável. O evento de lançamento, no Uruguai, contou até com a presença do então desconhecido dono da Lifan, Yin Mingshan, um senhor de 76 anos de idade e aparência de 60 cujo currículo inclui até 20 anos de prisão por discordar do governo comunista da China.
Yin é um caso ainda raro em seu país, um chinês empreendedor que possui uma empresa 100% privada. A Lifan tem apenas 21 anos de vida e atua no setor automobilístico há apenas seis anos. A montadora tem como principal produto os motores para motos, além da sua própria linha de motocicletas e o trabalho com veículos de quatro rodas ainda é um processo novo para ela.
O site iG conheceu as duas fábricas da montadora na cidade de Chongqing, no interior da China. A primeira, que faz os automóveis, é uma adaptação de uma antiga linha de montagem de motos, já a segunda é nova e produz os utilitários leves, dois dos quais serão vendidos no Brasil. A marca também está concluindo uma terceira unidade ao lado da primeira que fará os novos modelos em desenvolvimento.
O que impressiona na Lifan é a rapidez de aprendizado, algo um tanto comum com os chineses. Eles erram, mas têm humildade de reconhecer o erro como a própria concepção do 320 que, nas palavras do empresário, “é uma prova que ainda precisamos descobrir nossa personalidade”.
As palavras de “Mr Yin”, como seus funcionários o chamam, encontram eco nos novos produtos da Lifan. Além do X60, a marca prepara o lançamento de vários outros modelos para ocupar quase todos os segmentos conhecidos, até de sedãs mais sofisticados.
Entre os novos modelos, dois nos chamaram a atenção, o X50, flagrado na pista de testes da empresa, e o sedã 530. Parte da mesma família, os dois devem virar os carros chefe da marca no exterior já que mostram bom custo-benefício e são mais acessíveis.
O site iG teve contato com o 530 durante a visita às instalações da Lifan na China e pôde notar a evolução no aprendizado dos chineses. O 530 é um veículo com mais personalidade e pensado para agradar seus ocupantes, ao contrário do 620, um sedã de maior porte, mas de construção pobre (e que será substituído pelo 630, um facelift ainda aquém do ideal para o modelo).
A melhor notícia do 530 é que se trata de um sedã com personalidade, a que Mr. Yin tanto busca. A frente do carro já exibe uma boa ligação com o X60 notada na grade volumosa e cromada. As proporções do veículo são equilibradas e bem resolvidas. Nada surpreendente, mas honesto. O porta-malas exibe uma capacidade adequada para o segmento, com 450 litros.
Por dentro, o sedã permite encontrar uma posição confortável de dirigir e a ergonomia é bastante positiva. O acabamento, no entanto, embora tenha melhorado, ainda deixa a desejar. É um problema dos chineses como um todo. Ainda não se uniformidade na montagem, apesar de algumas peças parecerem de melhor qualidade. A Lifan diz que as versões que serão vendidas no Brasil terão melhorias perceptíveis, mas o ideal é que os chineses adotassem isso em qualquer unidade produzida.
Apesar de ter identidade própria, o 530 ainda bebe em algumas soluções estrangeiras. O computador de bordo, por exemplo, é praticamente idêntico ao doHonda Fit e duas soluções de design foram claramente inspiradas na Chevrolet e na Volvo. As molduras do mostradores do painel lembram as do Corvette e a base do console central, um V40 com seu espaço vazado.
Um passo atrás na potência
A Lifan forneceu aos jornalistas a ficha técnica do 530 e, baseado nela, foi possível perceber que o sedã está um passo atrás de potência em relação aos seus rivais caseiros, o Chery Celer e o JAC J3 Turim. O motor é 1.5 litro com comando variável de válvulas, mas só dispõe de 103 cv com gasolina (não há previsão de flex). A Chery usa um 1.5 litro, mas com 108 cv e a JAC possui um 1.4 também com 108 cv.
A receita do Lifan 530, aliás, é a mesma dos seus concorrentes locais: muito conteúdo de série que inclui trio elétrico, ar-condicionado, direção assistida (ainda indefinida se elétrica ou hidráulica), rádio com entrada para iPod e USB, mas apenas câmbio manual inicialmente – há uma transmissão CVT a caminho.
A avaliação do 530 foi limitada a uma pequena pista de teste, o que impediu conclusões mais claras sobre seu comportamento, mas comparado ao seu irmão maior, 630, o sedã tem dirigibilidade mais apurada e equilibrada, com uma suspensão um pouco mais firme.
Chegada no início de 2014
A estratégia da Lifan, agora que assumiu a operação brasileira, primeiro tem sido assistir os clientes dos tempos de Effa: “fizemos um trabalho especial com os donos de Lifan em Brasília contatando todos eles e os convidando para um check-up geral de seus veículos por conta da marca”, explicou Luiz Zanini, diretor de marketing da empresa. O objetivo é reverter a má impressão causada pela falta de assistência nos primeiros anos de atuação no País.
O segundo passo é renovar e ampliar o portfólio no Brasil. Para isso, além do X60 e do 530, que chega ao mercado no início de 2014, a Lifan atuará no segmento de comerciais leves com a picape Foison que será vendida a partir do final deste ano. Todos esses modelos são montados numa fábrica própria da marca no Uruguai e obedecem a outro acordo comercial fora do Inovar-Auto. Nele, a Lifan precisa atingir conteúdo regional de 60% em 2015, mas a fórmula é diferente da adotada agora pelas montadoras no Brasil.
Porém, antes de poder encarar rivais de peso, a Lifan precisará enfrentar seus conterrâneos que preparam versões nacionais de seus compactos. Se a produção nacional dará vantagem a JAC e Chery não se sabe, mas certamente produzir os carros num lugar distante do Brasil dificultará tanto logística quanto atingir um padrão de qualidade exigido pelos consumidores daqui. Nada disso parece assustar o veterano empresário. Para Yin Mingshan, com humildade e perseverança a Lifan será uma marca reconhecida no Brasil: “hoje temos um bom custo-benefício, mas quero que a qualidade de nosso carros seja o principal motivo de interesse por eles em breve”.
Ficha técnica
Lifan 530
Motor: 4 cilindros 1.5 VVT com 103 cv de potência a 6.000 rpm e 13,6 kgfm de torque a 3.500 rpm
Transmissão: Manual de cinco marchas
Dimensões: Comprimento: 4,3 m - Largura: 1,69 m - Altura: 1,49 m - Entreeixos: 2,55 m
Porta-malas: 475 litros
Velocidade máxima: 175 km/h
Consumo de combustível: 15,6 km/l
Texto: Ricardo Meier / Fotos: Divulgação / Fonte: iG Carros
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