HISTÓRIA DAS COPAS - 1954
O Maracanazo húngaro
O imponderável voltou a deixar suas marcas numa Copa do Mundo. Quatro anos depois de o Brasil ver o título escapar diante do Uruguai,foi a vez de uma das supremacias mais incontestáveis da história do futebol ruir diante da força física e da obstinação dos alemães. A poderosa Hungria, campeã olímpica em 1952 e dona de um futebol extremamente ofensivo e eficiente, chegou à final do torneio com uma marca invejável: 31 jogos de invencibilidade e o retrospecto de uma goleada por 8 x 3 diante dos mesmos alemães na primeira fase.
A maior estrela húngara era Ferenc Puskas, o "Major Galopante". A seleção comandada por Gusztav Sebes tinha outros jogadores de extremo talento. Além de Puskás, destacavam-se os atacantes Sandor Kocsis e Nandor Hidegkuti e o meia Jozsef Bozsik.
Na fase inicial, em cada grupo de quatro países, os dois cabeças-de-chave enfrentavam somente as duas outras seleções e não jogavam entre si. Assim, o técnico da Alemanha, Sepp Herberger, foi para o jogo contra a Hungria sabendo que poderia perder e ainda assim se classificar em segundo lugar se derrotasse em um jogo extra a outra cabeça-de-chave, a Turquia, que os alemães já tinham vencido por 4 x 1. Herberger fez sete mudanças, assistiu a uma sonora goleada diante da Hungria, mas levou uma equipe muito mais forte a vencer por 7 x 2 o jogo extra diante da Turquia para chegar às quartas-de-final.
Chuva de gols
Com 41 gols somente no grupo da Hungria, a competição em solo suíço foi a edição da Copa do Mundo da FIFA com o maior número de gols marcados. Em 26 jogos, as redes balançaram 140 vezes, com uma média superior a cinco por partida. Outro recorde foi o de 12 gols em apenas um jogo, no confronto entre Suíça e Áustria nas quartas-de-final. Os donos da casa fizeram 3 x 0 em 19 minutos, tomaram cinco gols em um período de apenas dez minutos antes do intervalo e acabaram perdendo por 7 x 5.
Mesmo com a chuva de gols, os estreantes Coreia do Sul e Escócia saíram zerados na lanterna dos respectivos grupos. A Escócia levou 7 x 0 do Uruguai, que provou ser o carrasco britânico ao eliminar a Inglaterra nas quartas-de-final , por 4 x 2.
O adversário seguinte do Uruguai seria o vencedor do confronto das quartas-de-final entre Hungria e Brasil. Os brasileiros usavam pela primeira vez a famosa camisa canarinho, escolhida em um concurso nacional. Mas a esperança de conquistar o primeiro título mundial acabou após um encontro turbulento que ficou conhecido como a "Batalha de Berna". Kocsis, que depois viria a ser o goleador da competição com 11 gols, balançou a rede duas vezes na vitória húngara por 4 x 2. O jogo ficou marcado pelas expulsões do húngaro Bozsik e dos brasileiros Nilton Santos e Humberto, além de uma briga já nos vestiários.
Dois gols de cabeça marcados por Kocsis na prorrogação ajudaram a Hungria a obter um resultado idêntico na semifinal diante do Uruguai. A Celeste Olímpica, que havia conquistado as duas únicas Copas do Mundo da FIFA que disputara, conseguiu se recuperar de uma desvantagem de 2 x 0 com dois gols de Juan Holberg, mas no fim teve de aceitar a sua primeira derrota na história da maior competição do futebol mundial. Enquanto os húngaros enfrentavam dois duelos dilacerantes, a Alemanha Ocidental avançava à final sem maiores dificuldades, derrotando a Iugoslávia por 2 x 0 e tirando de letra a vizinha Áustria por 6 x 1. Nesta última partida, os irmãos Fritz e Ottmar Walter marcaram dois gols cada um.
O “Milagre de Berna”
A final foi disputada em um encharcado Estádio Wankdorf no dia 4 de julho de 1954. As condições do tempo eram um bom presságio para a Alemanha Ocidental, pois o capitão e meio-campista artilheiro Fritz Walter tinha notórios problemas com o calor após ter sofrido com a malária durante a guerra. Os torcedores alemães comemoraram o que chamaram de "clima Fritz Walter".
Por sua vez, a Hungria tinha dúvidas sobre as condições físicas de Puskas, que não participara das duas partidas anteriores após ter o tornozelo acertado por Werner Liebrich justamente no primeiro encontro com a Alemanha Ocidental. Mesmo sem totais condições, Puskas abriu o placar aos seis minutos. Aos oito, os favoritos já faziam 2 x 0 após o goleiro alemão Toni Turek largar a bola nos pés de Zoltán Czibor. No entanto, só foram necessários mais dez minutos para os alemães empatarem. O primeiro gol veio com uma finalização de Morlock. Depois foi Rahn quem concluiu um escanteio cobrado por Fritz Walter.
A chuva seguiu torrencial, a tensão aumentou e somente a trave impediu o gol de Hidegkuti. Mas, faltando somente seis minutos, Rahn pegou a bola na entrada da área e chutou de perna esquerda no ângulo. Ainda houve tempo para Puskas ter um gol anulado pelo bandeirinha antes de o apito final confirmar a derrota da Hungria e o nascimento de uma nova potência do futebol mundial. A partida ficou conhecida como o “Milagre de Berna”.
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