A revista de negócios alemã manager magazin publicou na semana passada uma matéria afirmando que a Volkswagen estava negociando a compra a parte do conglomerado FCA – Fiat Chrysler Fiat Automóveis, o que posteriormente foi negado por ambas as empresas.
A negativa faz parte do jogo, evidentemente, até mesmo porque sua ausência seria a confirmação tácita do negócio, o que teria repercussões previsíveis nas negociações em bolsas de valores dos papéis não só das envolvidas, mas também de outros players do mercado automotivo.
Assim, a imprensa e analistas do setor automotivo continuam a discutir as consequências de uma eventual aquisição por parte da Volkswagen do conglomerado ítalo-americano, que poderia marcar uma mudança importante e rápida no cenário automotivo global.
Não é segredo que os planos de Ferdinand Piëch - chairman do conglomerado Volkswagen – vão além do sucesso na construção do maior fabricante automotivo europeu. Ele quer que a VW se torne um gigante global incomparável e trazer de volta a marca Auto Union, como nome dessa holding.
E ele quer fazer isso rapidamente. Atualmente a VW luta ombro e ombro com Toyota e GM para se tornar a maior do planeta, então o Piëch, com 77 anos, precisa de um atalho.
Adquirir a controle de 30% da família Agnelli-Elkann na Fiat-Chrysler daria a Piech sua tão sonhada Auto Union. Com mais de 14 milhões de veículos vendidos por ano, deixaria a Toyota e a GM lutando pelo segundo lugar, bem atrás, com 4 milhões de unidades a menos.
“A lógica do negócio é muito simples”, diz Arndt Ellinghorst, analista britânico do setor em nota a investidores: "A Chrysler, ou melhor, a Jeep e a Dodge, podem corrigir os problemas da VW dos EUA; a Alfa-Romeo poderia substituir a Seat que vem tendo problemas na Europa; a Fiat na Europa é basicamente uma empresa que fabrica a família 500; a operação da Fiat na América Latina poderia ser vendida para um potencial comprador chinês".
Como é que o negócio fica sob o prisma italiano? A dinastia Agnelli-Elkann, que compreende cerca de 150 descendentes, provavelmente enfrenta uma decisão difícil. A família está diante de duas opções.
Ou confia no ambicioso plano de relançamento do grupo Fiat Chrysler, que exigiria ao menos cinco anos sem o recebimento de dividendos, apostando em um futuro melhor que poderia ser decorrente da expansão global da Alfa, Maserati e Jeep.
Ou pega US$ 5 bilhões ou US$ 6 bilhões de dólares já e mantém a joia da coroa, a Ferrari, que além de fazer carros fantásticos, resulta em quase meio bilhão de dólares de lucro operacional por ano.
Apesar de muitos analistas verem riscos no negócio, eles também citam razões objetivas que mostram como a aquisição da Fiat por parte da VW faria sentido para ambos os lados.
Para começar, é um negócio viável. A VW tinha US$ 24 bilhões em caixa no final de março. Assim, para comprar a Fiat precisaria usar cerca de 20% disso para pagar os US$ 5 ou US$ 6 bilhões pelos 30% da participação da Exor na Fiat Chrysler, algo totalmente factível.
Benefícios do negócio
Os problemas de escala de VW nos Estados Unidos seriam imediatamente resolvidos, assim como sua posição de fraqueza no segmento de caminhões leves (pick-up´s médias). A soma de vendas de VW, Fiat e Chrysler nos EUA soma 1.3 milhão de unidades – o que é o suficiente para colocar o grupo resultante como a segunda maior montadora dos EUA atrás de GM e à frente da Ford.
Há uma crescente demanda global por SUV´s de qualquer tamanho, de modo que para a VW seria melhor ser dona da Jeep do que competir com ela.
A VW nunca ganhou dinheiro com carros sub-compactos. Sua aliança com a Suzuki azedou há três anos, e um tribunal arbitral em Londres está definindo os termos do divórcio. Comprando a Fiat, que é a líder mundial na obtenção de lucros com carros pequenos, pode ser crucial, especialmente porque normas de emissão mais rigorosas estão forçando os fabricantes de automóveis a construir mais carros pequenos.
Para a Chrysler, a ideia pode trazer más memórias de uma infeliz tentativa de fusão com uma montadora alemã (Daimler) há alguns anos, mas objetivamente falando, as metas da Alfa Romeo e da Jeep receberiam um importante impulso e as pick-ups RAM poderiam ser vendidas em muitos outros mercados com a marca VW.
A sabedoria convencional diz que as marcas premium são o futuro, e uma holding Auto Union incluiria Alfa-Romeo, Audi, Bentley, Bugatti, Lamborghini, Maserati e Porshe.
Potenciais riscos
Depois que os custos de Pesquisa e Desenvolvimento da VW subiram mais do que o planejado, a Volkswagen anunciou recentemente um plano para aumentar a rentabilidade, cortando US$ 6,8 bilhões em custos por ano até 2012. Entretanto, o custo de relançar a marca Alfa-Romeo, utilizando números da Fiat, levaria sozinhos um ano dessas economias.
Sérias questões legais antitruste seriam levantadas nos EUA e Europa. E isso seria praticamente intransponível no Brasil, onde a Fiat é a número 1 e a VW a número 2, o que explica a necessidade de venda da operação brasileira para um comprador chinês.
Um conglomerado gigante como o Auto Union, resultante da compra da Fiat pela VW, seria altamente complexo de ser administrado, mesmo para um executivo como Ferdinand Piech.
Por fim, os analistas financeiros se dividem. Alguns dizem que fazer a integração das cadeias de produção na América Latina e ao mesmo tempo gerenciar o negócio nos EUA seriam um desafio enorme, e que os benefícios desse negócio podem não justificar os riscos.
Outros, porém, têm visões positivas. Apesar de a eventual aquisição da Fiat Chrysler por parte da VW ter potencial de deixar os acionistas da VW preocupados com uma redução na lucratividade no curto prazo para diluir os custos da aquisição, no longo prazo o negócio vai ao encontro dos objetivos de ambos os lados da equação.
Fonte: Automotive News
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