terça-feira, 16 de dezembro de 2014

PI menor não deve ser fator nº 1 na compra de carro, dizem analistas

PI menor não deve ser fator nº 1 na compra de carro, dizem analistas

Desconto no imposto é previsto para acabar em 1º de janeiro.
Preço deve subir 4,5%, em média; veja o que mais deve pesar na decisão.

Peter Fussy e André PaixãoDo G1, em São Paulo
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Tabela IPI (Foto: Arte/G1)
Com a proximidade do fim do desconto no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), a indústria automotiva espera um leve "aquecimento" nas vendas no final do ano, que deve ser marcado pela segunda queda seguida, após uma década de altas.
A partir de janeiro, a alíquota do IPI deve voltar ao normal(veja na tabela ao lado), o que deverá fazer o preço dos carros subir, em média, 4,5%, segundo a associação de fabricantes (Anfavea).
As montadoras têm promovido feirões para incentivar a compra do carro ainda em dezembro, com imposto menor. Mas, segundo especialistas ouvidos pelo G1, o consumidor deve avaliar uma série de fatores antes de decidir pela compra ou troca de um automóvel. O desconto no IPI não é o mais importante, afirmam.
Veja abaixo 5 passos para decidir se é hora de comprar um carro novo.
1) A primeira pergunta
“Está no seu projeto de vida adquirir ou trocar de carro? Essa é a primeira pergunta. Se está no seu planejamento financeiro, sem dúvida o momento é oportuno para fazer uma pesquisa e buscar o veículo que quer”, afirma o presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin), Reinaldo Domingos.
2) Preço + custo do uso
De acordo com Reinaldo Domingos, para saber se o carro novo "cabe" no bolso, o consumidor deve levar em conta não só o preço do veículo, mas também o seu custo mensal, que fica em torno de 2% do valor do bem.
GASTO CARRO (Foto: Arte/G1)
Para um modelo de R$ 30 mil, por exemplo, o gasto deve ser de R$ 600 por mês. O cálculo feito pela Dsop Educação Financeira leva em conta combustível, manutenção, licenciamento, seguro, IPVA, estacionamento, lavagem e depreciação de 10% ao ano.
O educador financeiro Reinaldo Domingos ressalta a importância, além de checar os custos de manutenção (revisões e peças) do modelo de interesse, informar-se sobre a disponibilidade de estoque no mercado nacional e sobre a extensão da rede de concessionárias no Brasil.
3) Vai financiar?
O passo seguinte é ver se esse carro está de acordo com seu padrão de vida, somando o custo mensal ao da prestação, em caso de financiamento. “Caso esta soma esteja no limite do orçamento, sem reserva, não é aconselhável comprar. Pode ser o IPI menor do mundo, mas se não conseguir pagar depois, não vale a pena", recomenda Domingos.
Para Ricardo Bacellar, diretor de relacionamento da consultoria KPMG no Brasil para o setor automotivo, a impulsão pelo consumo e pelo status deve ficar em segundo plano. "O risco de se perder o bem aumenta, apesar da maior facilidade de crédito", apontou.
4) Analise as ofertas
As regiões Sudeste e Sul concentram as melhores ofertas e os preços mais baixos devido ao maior número de concessionárias e modelos disponíveis, em função da competição, segundo diretor executivo do Banco Nacional de Veículos (BNDV), Rafael Campos. “Porém a maior percepção do consumidor é em relação ao custo-benefício das promoções, que podem incluir acessórios, opcionais e serviços de despachante e seguros, reduzindo o ‘pacote’ da negociação”, afirmou.
Assim como no começo deste ano, as concessionárias devem fazer ofertas do tipo "sem IPI maior" ou "preço antigo" ainda no início de 2015. No entanto, o presidente da associação dos concessionários diz que pode ser um risco deixar para depois. “Em dezembro, o consumidor terá mais opções de compra. Com passar do tempo essas opções vão caindo."
5) Pensa em dar o usado de entrada?
“Quem tem um valor à vista deve negociar descontos maiores. O ideal seria vender o seu usado antes, e evitar a venda casada”, recomendou Bacellar (leia mais sobre compra e venda de carro usado).

Desconto já dura 2 anos e meio
Lançado em 2012, quando as montadoras também tinham estoques altos e dificuldades de venda, o desconto no IPI deve terminar depois de 2 anos e meio de prorrogações e diminuição gradual do incentivo, sem evitar uma nova queda nos emplacamentos.
Em 2013, o mercado automotivo apresentou recuo de 0,91%, e 2014 deve acabar com contração de cerca de 5%, conforme projeção das montadoras.
Mesmo com as vendas piores do que o ano passado, tudo indica que, desta vez, o governo manterá o cronograma e acabará com o IPI reduzido. Ainda não foi feito, no entanto, um comunicado oficial.
Se (o IPI cheio) não voltar, vai ser uma surpresa"
Flávio Meneghetti, presidente da Fenabrave
“Se (o IPI cheio) não voltar, vai ser uma surpresa. Vamos lembrar que o Brasil é o país que mais tributa veículo no mundo. Os impostos representam em torno de 37% do preço final, somando toda a cadeia tributária, sem contar IPVA e licenciamento. Todo aumento de preço é negativo para o setor”, diz Meneghetti, da Fenabrave.
Consumidor receoso, pátio cheio
A retomada aos poucos do IPI gerou algumas "corridas" às concessionárias -e recordes mensais de vendas- ao longo desses 2 anos, mas agora o cenário é diferente, dizem analistas.
“A população está vivendo um cenário de incertezas, que vai muito além de compra de carro”, comentou o diretor da KPMG, Ricardo Bacellar.
“Quando o consumidor começa a ter uma percepção de risco do próprio emprego, vê que sua capacidade de endividamento está no limite, ele pensa duas vezes antes de comprar um carro, apesar de o acesso ao crédito ter sido facilitado”, completou.
No final de novembro, 414,3 mil veículos estavam parados nos pátios das montadoras e nas concessionárias, o que representa 42 dias de vendas ao ritmo atual – um nível bem acima do ideal para a Anfavea.
Os primeiros dias úteis de dezembro já apresentaram maior fluxo de clientes às concessionárias e pedidos formalizados, segundo Campos, do BNDV. “A média diária de vendas aumentou, mas ainda não é possível saber quanto. Normalmente, leva-se cerca de 7 a 10 dias para o emplacamento e entrega de um veículo dito pronta-entrega”, disse.
Com menos dias úteis, dezembro registrou altas de 9,83% e 11,5% na média diária, em relação a outubro, nos anos de 2012 e 2013, respectivamente, conforme dados do banco. A alta pode ser relacionada à expectativa de aumento do IPI em 1º de janeiro, que ocorre pelo 3º ano seguido.

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