Esta não é a primeira vez que estes sedãs se enfrentam aqui no CARPLACE. Logo na estreia da nova geração do Nissan, promovemos um embate entre as novidades e o líder do segmento: Sentra, C4 Lounge e Focus desafiaram o Civic pelo posto de referência da categoria. Só que daquela vez os modelos eram topo de linha, com preços entre R$ 72 mil e R$ 89 mil. Nossa intenção agora é falar com aquele consumidor que deseja um sedã médio, mas não pode (ou não quer) gastar muita grana. Por isso, convocamos as versões de entrada Sentra SV e C4 Lounge Tendance, ambas com câmbio automático – ainda que o Nissan usado nas fotos seja da versão S com câmbio manual, configuração que você confere o teste ao final desta reportagem.
Após uma década de reinado da dupla Civic e Corolla, a concorrência chegou com munição pesada. O problema é que normalmente o público deste segmento é mais conservador. Ou seja, mesmo trazendo novidades e com melhor custo benefício, é difícil para outras marcas roubarem uma fatia do bolo de Honda e Toyota. Neste cenário, em 2013 prevaleceu a supremacia absoluta da dupla japonesa, com mais de 50% das vendas da categoria. Mas agora o leque se ampliou, e você tem nos novos Sentra e C4 boas opções para sair do óbvio gastando menos e levando até mais, dependendo de suas prioridades.
O Sentra renovado agora se sente parte da “família” Nissan. Não que o anterior não fosse, mas neste o visual está muito mais alinhado aos demais modelos da marca, principalmente ao irmão maior Altima. Quando a geração anterior chegou por aqui, em 2006, o comercial dizia “não tem cara de tiozão”, numa época em que o sedã queria passar a imagem de modelo mais jovem. Hoje a conversa é outra: a nova geração traz visual assumidamente clássico e mais bonito. Está longe de ter apelo jovem, mas tem mais chance de emplacar.
O C4 Lounge, pode se dizer, segue caminho oposto. Com estilo mais ousado e digno de elogios do público, ele não é tão “tiozão” quanto o antecessor C4 Pallas, mas ainda transmite muita classe. Parece que a Citroën acertou desta vez, com um sedã de desenho equilibrado sem cometer exageros. Por dentro, Lounge é moderno e bem construído, com plásticos de boa qualidade, material emborrachado no painel, apliques de bom gosto nas portas e bancos confortáveis. Falta couro nesta versão, mas o tecido de cor clara é bem agradável ao tato.
O volante multifuncional tem boa pegada e facilidade para acionar os comados, mas poderia ser menor e revestido de couro – o plástico usado não condiz com a categoria do carro. Já o painel de instrumentos segue o padrão atual da Citroën, com o velocímetro no círculo maior ao centro, conta giros à esquerda e marcador de combustível à direita. A iluminação é laranja, em oposição ao azul usado na versão 1.6 THP. Os dados do computador de bordo são mostrados no display que fica no console, junto com as informações do sistema de som. Há entrada USB e Bluetooth, mas a qualidade sonora do Sentra é melhor. O rádio do francês, aliás, destoa um pouco da atualidade do carro.
Mesmo na versão de entrada, o Sentra não decepciona: traz revestimento dos bancos em tecido muito agradável ao tato, predominância da cor cinza no interior e ótimo acabamento nas portas, com a parte central em tecido e apliques de ótima qualidade e aparência. O painel tem linhas mais horizontais e simples, enquanto o cluster segue o padrão tradicional, com dois mostradores grandes (velocímetro e conta giros) e as informações do computador de bordo e hodômetro ao centro. Não transmite o refinamento do C4 L, mas oferece leitura mais fácil e rápida. Sem deixar de mencionar que a iluminação na cor branca também conta pontos a favor.
O que joga contra o modelo da Nissan é o sistema de som não possuir entrada USB/i-Pod/SD-Card, restando a opção pelo velho CD com arquivos MP3. O rádio AM/FM também não conta com a função RDS. Apesar deste deslize, a potência e qualidade do som são muito boas. Outro pequeno detalhe é a falta de iluminação para os demais botões na porta do motorista, já que apenas o que aciona o vidro dianteiro acende. Dessa forma, fica complicado destravar as demais portas ou acionar os vidros traseiros sem se atrapalhar e desviar a atenção do trânsito. Por fim, apenas o vidro do motorista tem função “um toque” para subida e descida nesta versão.
Ambos os sedãs oferecem amplo espaço para os ocupantes na frente e atrás. O C4 L garante boa acomodação para quem vai no banco traseiro, mas no Sentra o espaço para pernas chega a surpreender – é muito amplo, parece um sedã grande! Fora isso, seu porta-malas leva 503 litros contra 450 litros do Citroën, ainda que os dois tenham as hastes da tampa para atrapalhar.
Em relação à ergonomia, eles agradam por conta dos ajustes do banco do motorista e volante. A visibilidade, porém, é melhor no Sentra graças à linha de cintura mais baixa. Outro destaque do Nissan é a partida por botão, que conta com a chave presencial e botãozinho na maçaneta. No Citroën ainda usa a tradicional chave, o que destoa um pouco do requinte do carro.
Os dois estão próximos em conforto de rodagem. A suspensão do Sentra é um pouco mais firme, mas ainda assim está longe de ser rígida: a traseira dura que batia seco na geração anterior não existe mais. O Citroën, por sua vez, tem rodar mais macio e oscila mais a carroceria. Não chega a comprometer a estabilidade, mas fica um pouco abaixo do Nissan no comportamento em curvas e frenagens fortes. Ambos possuem ótimo isolamento acústico, só que novamente o Sentra vai além: a suavidade de funcionamento do motor impressiona.
Equipado com direção elétrica de assistência variável, o Nissan agradou mais na cidade. Não que o C4 Lounge seja ruim, até porque ele conta com direção elétrico-hidráulica, mas a extrema leveza e progressividade tornam o Sentra melhor neste aspecto. Suavidade também é palavra de ordem para a transmissão CVT do japonês, que garante uma condução sem solavancos. Por mais que o câmbio automático de seis marchas do Citroën seja muito bom, você consegue sentir as mudanças de marcha algumas vezes.
Mas é do Citroën o melhor desempenho, graças ao motor mais potente e torcudo: são 151 cv e 21,7 kgfm no C4, contra 140 cv e 20,0 kgfm no Sentra, sem contar que a transmissão de seis marchas favorece mais a performance do que a CVT. Apesar de ser mais pesado, o Lounge se mostrou um pouco mais esperto na cidade e também na estrada – nos testes ele foi melhor nas acelerações e retomadas. O C4 agrada pelas trocas rápidas e sem trancos, além de ser decidido nas retomadas. O baixo nível de ruído também é destaque, mais por conta da baixa rotação e isolamento acústico, do que pelo motor em si.
O Sentra, por sua vez, se vale das relações infinitas do câmbio variável para andar a maioria do tempo com o giro lá em baixo, em silêncio e gastando menos. O japonês conseguiu média de 7 km/l na cidade e 10,5 km/l na estrada, usando etanol, enquanto o C4 ainda manteve a fama de beberrão do motor 2.0 da PSA. Obteve 6 km/l e 10 km/l, respectivamente, nas mesmas medições.
Convivendo com os dois sedãs no dia-a-dia, não resta dúvida de que o segmento tem boas opções afora os mais vendidos. O C4 Lounge chama mais atenção pelo visual externo e pelo interior com jeitão moderno. Agrada também pelo rodar macio, silêncio interno e desempenho. Já o Sentra ficou bem mais bonito com a reestilização, mas seu visual é mais conservador também internamente. Apesar de mais firme, também é confortável e entrega um acerto mais justinho, que proporciona mais prazer ao volante. E ainda é um pouco mais barato: R$ 67.390 contra R$ 68.990 do C4 Lounge. Tudo somado, a balança pende levemente a favor do sedã japonês.
Por Julio Cesar
Fotos Diogo Dias
Sentra manual é “outro carro”
Entendo os apreciadores do câmbio CVT: o carro acelera sem interrupções e está quase sempre com o giro baixo, privilegiando o conforto e a economia de combustível. Pode ser inteligente e eficiente, mas não é pra mim. Quando dirigi o novo Sentra pela primeira vez, gostei de tudo, menos da transmissão – que é muito boa para um CVT, mas é uma… CVT. Eis que agora pego a versão manual, e com ela o Sentra se transforma! O câmbio de seis marchas tem engates justinhos, a embreagem é bem modulada em peso e as relações curtas das primeiras marchas garantem acelerações bem mais animadas: foram 10,6 s de 0 a 100 km/h, quase 1s mais rápido que a versão CVT. Fora que o câmbio manual permite controle maior do carro em uma tocada mais esportiva, permitindo reduções antes das curvas. Na estrada, a sexta marcha garante conforto acústico e silêncio em velocidades de viagem. Este seria o meu Sentra. E, por R$ 62.190, essa versão manual de entrada custa pouco mais que um Focus hatch básico! (Daniel Messeder)
Teste rápido – Sentra 2.0 S manual
Aceleração 0 a 100 km/h: 10,6 s
Retomada 80 a 120 km/h: 8,5 s
Frenagem 80 km/h a 0: 25,9 m
Ficha técnica – Nissan Sentra SL
Motor: dianteiro, transversal, quatro cilindros, 16 válvulas, 1.997 cm3, comando duplo variável na admissão, flex; Potência: 140 cv a 5.100 rpm; Torque: 20,0 kgfm a 4.800 rpm; Transmissão:automática do tipo CVT, tração dianteira; Direção: elétrica; Suspensão: independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira; Freios: discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira, com ABS; Peso: 1.288 kg; Capacidades: porta-malas 503 litros, tanque 52 litros; Dimensões: comprimento 4.625 mm, largura 1.761 mm, altura 1.500 mm, entre-eixos 2.700 mm
Medições CARPLACE
Aceleração
0 a 60 km/h: 5,3 s
0 a 80 km/h: 7,9 s
0 a 100 km/h: 11,5 s
Retomada
40 a 100 km/h em D: 9,1 s
80 a 120 km/h em D: 8,7 s
Frenagem
100 km/h a 0: 40,1 m
80 km/h a 0: 26,2 m
60 km/h a 0: 14,3 m
Consumo
Ciclo cidade: 7,0 km/l
Ciclo estrada: 10,5 km/l
Números do fabricante
Aceleração 0 a 100 km/h: 10,1 s
Consumo cidade: 6,9 km/l
Consumo estrada: 9,1 km/l
Velocidade máxima: 186 km/h
Ficha técnica – Citroën C4 Lounge Tendance A/T
Motor: dianteiro, transversal, quatro cilindros em linha, 16 válvulas, 1998 cm³, flex; Potência: 143cv gasolina/151cv etanol a 5.250 rpm; Torque: 20,2 kgfm gasolina/21,7 kgfm etanol a 4.000 rpm;Transmissão: automática de seis velocidades; Direção: eletro-hidráulica; Suspensão: Tipo Pseudo McPherson na dianteira e travessa deformável, molas helicoidais , amortecedores hidráulicos telescópicos e barra estabilizadora na traseira; Freios: discos nas quatro rodas, com ABS, RFU e AFU;Rodas: aro 17″ com pneus 225/45 R17; Peso: 1.439 kg; Capacidades: porta-malas 450 litros; Dimensões: comprimento 4.621 mm, largura 1.789 mm, altura 1.505 mm, entre-eixos 2.710 mm;
Medições CARPLACE
Aceleração
0 a 60 km/h: 4,8 s
0 a 80 km/h: 7,6 s
0 a 100 km/h: 11,0 s
Retomada
40 a 100 km/h em S: 8,1 s
80 a 120 km/h em S: 8,2 s
Frenagem
100 km/h a 0: 39,6 m
80 km/h a 0: 25,0 m
60 km/h a 0: 14,0 m
Consumo
Ciclo cidade: 6,0 km/l
Ciclo estrada: 10,3 km/l
FONTE: