quinta-feira, 14 de maio de 2015

Especialistas cobram fiscalização na fabricação de vidros temperados


Fabricante não é obrigado a comprovar padrões de segurança ao Inmetro 

Ao relatar o acidente de sua filha com uma porta de viro temperado em boxe de banho, o colunista de ZH Tulio Milman trouxe a tona o debate sobre segurança e fiscalização sobre a fabricação destes itens. O jornalista recebeu cerca de 50 mensagens de leitores contando incidentes semelhantes. 

Hoje, a certificação de indústrias pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) é voluntária — ou seja, quem fabrica e instala não precisa da aprovação do órgão quanto ao cumprimento de padrões de segurança. 

O órgão de fiscalização alega que não há índice de acidentes com portas de vidro temperado no Sistema Inmetro de Monitoramento de Acidentes de Consumo (Sinmac) que justifique a regulamentação compulsória do produto — mas não especifica quantos casos seriam necessários para mudar de procedimento. A certificação é voluntária, com requisitos mínimos de segurança. Em nota enviada à reportagem, o Inmetro informou que as causas de acidentes estão relacionadas à instalação inadequada do produto e falta de manutenção nos prazos recomendados pelo fabricante. 

No entanto, não se pode ignorar que um material de pouca qualidade ou um processo de fabricação falho possam gerar vidros mais suscetíveis a acidentes, observa o professor de Engenharia de Materiais da Ulbra José Carlos Krause de Verney. Para chegar ao ponto de tensionamento — que torna o material seis vezes mais resistente —, os temperados são submetidos a altas temperaturas e depois resfriados. 

— Se este processo não for bem feito, a superfície e o núcleo podem ter tensões diferentes, favorecendo o surgimento de fissuras e o desgaste acelerado do vidro — explica Verney. 

O Sindicato das Indústrias de Vidros, Cristais, Espelhos, Cerâmica de Louça e Porcelana no Rio Grande do Sul (Sindividro-RS) credita eventuais incidentes ao mau uso e a defeito na instalação (feita, muitas vezes, por técnicos autorizados pela própria indústria), procedimento que igualmente não possui padrões técnicos. 

— O vidro pode estourar repentinamente se houver uma fissura anterior por má instalação ou batidas na porta. Por isso é importante fazer manutenção a cada 12 meses — afirma Ribeiro. 

Os principais fabricantes procuram outras certificadoras para medir a qualidade de seu produto, explica o presidente do Sindividro-RS, Gilberto Ribeiro, mas não há garantia de que todos do setor façam o mesmo. 

— Nosso entendimento é de que o Inmetro deveria, sim, tornar obrigatória a certificação para garantir a qualidade do produto — afirma Ribeiro, lembrando que há uma pauta nacional de fabricantes neste sentido. 

Índice de reclamações é baixo 

Nos canais de atendimento de empresas e nos órgãos de defesa do consumidor, a quantidade reclamações é baixa. O Sindividro diz ser ínfimo o volume de queixas que chega a seus associados. Há sete anos, a associação de consumidores Proteste realizou uma campanha para que fabricantes informassem de forma mais clara quais os cuidados necessários com esse tipo de produto. 

Os maiores fabricantes do país passaram a colar etiquetas e adesivos informando a necessidade de manutenção e os cuidados no manuseio. Conforme a Proteste, as reclamações praticamente desapareceram nos últimos dois anos. 

— Os acidentes que ainda ocorrem envolvem portas mais antigas, com mais tempo de uso e sem as recomendações de segurança — diz Maria Inês Dolci, diretora institucional da Proteste. 

A falta de orientação sobre manutenção contribuiu para o susto que levou o aposentado José Valmir da Costa em fevereiro, quando tentava encaixar a porta de vidro sobre o trilho, na sua casa em Tramandaí. Ao deslocar a porta para cima, uma pilha de cacos explodiu sobre ele. Por sorte os ferimentos foram superficiais. 

— Achei que o vidro fosse mais resistente à pressão. Se soubesse que havia o risco de se despedaçar, nem teria mexido — diz. 

A polêmica com o material não vem de hoje. Em junho do ano passado, a produtora cultural Eliana Caruso veio a público contar como a porta recém instalada em seu boxe havia desabado sobre ela ao ser aberta. Um caco causou grave lesão no pé de Eliana. Na época, o Inmetro já dizia não haver reclamações em quantidade suficiente para levar ao aperto no controle. O fornecedor enviou técnicos que verificaram que a instalação havia sido mal feita. 

— A empresa se desculpou e pagou todo meu tratamento médico (custo total de R$ 26 mil). Desde então, essa fabricante passou a colocar película de proteção em todos os vidros para evitar estilhaços em caso de quebra. Mas é preocupante que o Inmetro não obrigue que todas façam o mesmo — afirma. 

MAIS TENSO E RESISTENTE 

Como é feito o vidro temperado? 

A partir do vidro comum, que é aquecido a uma temperatura superior a 600ºC, e, em seguida, resfriado. A mudança repentina de temperatura faz com que o vidro se torne mais tenso e seis vezes mais resistente que o convencional. 

Como sei que o vidro do meu boxe é temperado? 

Geralmente, os vidros temperados trazem uma marca d´água ou um selo em uma extremidade informando esta condição.

Qual o risco de o vidro estourar sozinho? 

Isso pode ocorrer em razão de um problema anterior, como uma batida forte da porta, má fabricação, o surgimento de uma fissura ou defeito na instalação, com montagem desalinhada ou existência de ponto de tensão entre o metal da armação e o vidro. Essa fissura pode ir se espalhando até que leve o vidro a estourar. 

Há razões para que vidros em imóveis na praia estourem com mais frequência? 

Não. A umidade do ambiente, a baixa frequência de manuseio e a salinidade não influenciam. 

Qual a alternativa ao vidro temperado para boxe de banho? 

Há os laminados, também resistentes, mas mais caros do que os temperados. Se a opção for pelos temperados, uma película de segurança pode ser aplicada antes de sua instalação. Algumas fabricantes já montam o vidro com essa proteção. Se houver estilhaço, os cacos ficam presos à película. 

ABRA O OLHO 

Cuidados na hora da compra 

— Escolha sempre um fornecedor estabelecido, com CNPJ e reputação conhecida 

— Pergunte ao fornecedor se ele utiliza as normas técnicas vidreiras da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e se o orçamento está de acordo com essas normas. 

Na instalação e no uso do boxe 

— Certifique-se de que as bordas do vidro não estejam lascadas. Se estiverem, interrompa a instalação e troque a peça. 

— Ao final da instalação, verifique se todos os componentes do boxe estão firmes em suas fixações. 

— Após a instalação, o sistema deve estar estanque, impedindo a passagem de água para fora do boxe. 

— Na guia superior, instale o limitador para a roldana: ele serve para que a porta de vidro não bata na parede quando o boxe for aberto. 

— Faça manutenção a cada 12 meses com a empresa que realizou a instalação, ou prestadores de serviços credenciados. 

Fonte: Sindividro-RS, Vidrobox e professor de Engenharia de Materiais da Ulbra, José Carlos Krause de Verney

Fonte: DIÁRIO CATARINENSE

Nenhum comentário:

Postar um comentário