A essa altura do campeonato, todos nós sabemos que somos submetidos a um padrão de beleza. Além do exemplo clássico das modelos nas capas de revistas, esse sintoma social também aparece na mídia de outras formas não tão descaradas. Um exemplo rápido e brasileiro é o nome do quadro “Medida Certa”, do Fantástico, que paga famosos para emagrecer em rede nacional. As outras medidas são erradas, é?
Atacados por todos os lados com mensagens do gênero, incluindo essa febre fitness que roda o mundo espalhando regimes alimentares drásticos disfarçados de qualidade de vida, muita gente que é gorda, mas se sente bem com o seu corpo, fica confusa. Afinal, é possível estar acima do peso e ser saudável?
Conforme explica o personal trainer Dick Talens – criador do jogo online Fitocracy, que ajuda os usuários a melhorar sua rotina de exercícios, e escritor de saúde no site Lifehacker -, a primeira coisa que precisamos fazer é nos perguntar o significa estar “acima do peso”. Embora o Índice de Massa Corporal (ou IMC) seja frequentemente utilizado para medir a “gordura corporal” por sua praticidade, é importante notar que esta não é sempre a melhor métrica.
“Um jovem magro com um IMC de 27 é muito diferente de uma mulher com obesidade abdominal pós-menopausa com o mesmo IMC”, diz o médico bariátrico Spencer Nadolsky. “O IMC não leva muitas coisas em consideração, tais como a massa muscular. Se todos pudessem fazer suas medições de gordura corporal por meio da DEXA [absorciometria bifotónica de raio X], os médicos usariam apenas isso, mas isso não é sempre viável”.
Percentual de gordura
Conforme menciona Nadolsky, o percentual de gordura corporal é uma métrica muito melhor. Por exemplo, uma pessoa pode ter o IMC de 28 – quem tem IMC 30 é considerado obeso -, mas não estar acima do peso por ter um percentual de gordura relativamente baixo no corpo. No entanto, é difícil chegar a este número, e muitas vezes requer equipamentos caros para alta precisão.
Em vez do percentual de gordura corporal, é possível usar o seu IMC em conjunto com medidas da cintura. Este método é barato, eficaz ecompreende algumas das limitações do IMC.
Quando o excesso de peso leva a problemas de saúde
Nós vimos algumas métricas relacionadas ao peso, mas isso não nos diz nada sobre o que significa estar “acima do peso”. Esse termo, por definição, implica que a pessoa precisa perder peso, então vamos analisar casos específicos em que esta necessidade acontece.
“O risco de doenças relacionadas ao peso aumenta quando o seu peso aumenta”, afirma Talens. “Por exemplo, se você já tem a resistência à insulina, diabetes tipo II ou doenças do coração, então você precisa perder peso. Se você não tem essas doenças, você pode estar acima do peso e ser saudável, dependendo de certos marcadores de saúde”.
“Você ainda pode ser saudável e ter excesso de peso”, garante o médico. “Enquanto o corte de sobrepeso do IMC é de 25 a 30, há muitos indivíduos que são saudáveis neste intervalo. Nós geralmente olhamos mais de perto marcadores metabólicos de saúde quando estão nesta faixa, assim como peso e composição corporal. A pressão arterial, glicose e marcadores de lípidos também devem ser analisados a fim de determinar o perfil de risco”.
Obviamente, só o seu médico pode lhe dizer se você corre riscos de sofrer de alguma doença. É possível, porém, que você não esteja em risco e não precise perder peso por razões de saúde. O professor assistente da Universidade de Otawa Yoni Freedhoff, autor e proprietário do site Weighty Matters, que também dirige uma das maiores clínicas de obesidade do Canadá, explica que está a pouco menos de um quilo de distância da marca de “acima do peso” e é muito saudável.
“A saúde não é medida em quilos. Sem dúvida, o risco de doenças relacionadas ao peso sobe com o ganho de peso, mas ser magro não impede que uma pessoa tenha problemas de saúde, nem obesidade é uma garantia de problemas”, conta ele. “O ganho de peso faz aumentar o risco de problemas de saúde, e por isso a prevenção pode ser um argumento justo a favor da perda dele. Mas também vale notar que estilos de vida saudáveis mitigam o risco da maioria das doenças crônicas, independentemente do peso”.
Há apenas uma exceção: IMC excepcionalmente elevado. Ele afirma que, mesmo que os seus marcadores de saúde atuais sejam bons, se o seu IMC estiver acima de 30, uma pesquisa recente sugere que as doenças relacionadas com o peso (doença cardíaca, diabetes, síndrome metabólica e artrite, para citar algumas) podem aparecer com o passar dos anos.
Classificação
Existem três classes de obesidade, cada um com crescentes riscos.
– IMC de 30 a 34: Obesidade Classe 1. Esta é uma zona cinzenta em termos de riscos. É importante prestar atenção às medidas da cintura, bem como testes de laboratório pedidos pelo seu médico;
– IMC de 35 a 39: Obesidade Classe 2. Riscos aumentam ainda mais;
– IMC de 40 ou mais: Obesidade Classe 3. Esta é a classe mais alta com os mais altos riscos.
Se o seu IMC está em uma das categorias acima, então você provavelmente precisa perder peso. Só porque você não tem quaisquer problemas de saúde hoje, isso não significa que você não terá algum amanhã.
Tomar a decisão de perder peso
Aproveitamos que estamos chegando ao final para deixar um lembrete. Há uma tendência de usar artigos como este para justificar a complacência com peso e saúde, mesmo para quem realmente precisa perder peso. Se isso se aplica a você, não escolha partes deste artigo que lhe permitam achar razões para não fazê-lo, e acredite nas orientações do seu médico.
“Se você está completamente saudável, então a única outra razão para pensar que está acima do peso é se você quer ser mais magro por motivos pessoais. Neste caso, você pode perder peso, mudar sua dieta e começar um regime de exercícios”, diz o personal trainer. “Se você não tem quaisquer riscos ou doenças relacionadas com a saúde, estar ou não ‘acima do peso’ é uma escolha sua e ninguém pode te dizer o contrário – eles não sabem qual é o seu perfil lipídico ou como é a sua relação com o seu corpo”.
Fora isso, não há motivo para uma pessoa saudável, sem um IMC de alto risco, perder peso. De acordo com Freedhoff, viver uma vida saudável é muito mais importante. “Se uma pessoa se exercita regularmente, come saudavelmente, tem boas noites de sono, não fuma, não bebe em excesso e cultiva amizades, ela provavelmente vai se dar muito bem na vida em geral”.
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