domingo, 10 de janeiro de 2016

Nova técnica faz células de tumor ‘brilharem’ para facilitar remoção

Uma das grandes dificuldades de médicos em cirurgias para remoção de tumores é identificar todas as células doentes. Não raro, um resto de tecido cancerígeno na borda do tumor permanece no paciente, o que aumenta o risco de a doença voltar. A solução para esse problema, no entanto, pode estar próxima. Cientistas da Universidade Duke, nos EUA, acabam de testar uma substância injetável que faz com que as células de câncer se tornem fluorescentes. Assim, a identificação fica mais precisa e rápida, facilitando a remoção de todo o tumor na primeira tentativa.


O método foi desenvolvido em parceria com o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês) e a Lumicell Inc, empresa especializada na detecção de câncer criada pelo MIT.


Publicado ontem na revista “Science Translational Medicine", o estudo feito com 15 pacientes submetidos à retirada de sarcoma e câncer de mama evidencia que o agente, um líquido azul chamado LUM015 injetado no paciente no início da cirurgia, facilitou a identificação de tecidos cancerosos sem efeitos adversos. Principal autor da pesquisa, o especialista David Kirsch ressaltou que este é o primeiro agente de imagem para câncer ativado por enzimas que teve sua segurança comprovada em humanos.


— O objetivo é dar aos cirurgiões uma tecnologia prática e rápida, que lhes permita fazer uma varredura do tumor durante a cirurgia em busca de qualquer fluorescência residual — destaca Kirsch, que é professor de radiação oncológica, farmacologia e biologia do câncer na Universidade Duke.


A fluorescência criada por essa substância torna o tecido tumoral, em média, cinco vezes mais brilhante do que o tecido normal. No entanto, o resultado não é visível a olho nu. Só pode ser detectado por um dispositivo portátil com uma câmara sensível, que também foi desenvolvido pela Lumicell.


Tecnologia atual é falha
Hoje, segundo autores do estudo, oncologistas contam com tecnologias de imagem transversal, como ressonância magnética e tomografia computadorizada, para indicar a localização do tumor. Mas, em alguns casos, tecidos doentes nas margens do tumor não são detectados, o que, em geral, exige uma nova cirurgia e, possivelmente, radioterapia.


— Um patologista pode examinar o tecido em busca de células cancerosas na borda do tumor com um microscópio, mas, devido ao tamanho do câncer, é impossível rever toda a superfície na operação — explica Kirsch.


De acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (Sboc), Gustavo Fernandes, a nova tecnologia é bem-vinda.


— Se o cirurgião tira menos tecido do que o necessário, depois precisará informar o paciente de que ele ainda tem resíduos de câncer e terá que voltar à mesa. Se tira demais, pode prejudicar um nervo do paciente, deixando sequelas como perda de movimento de um braço, por exemplo. A precisão é determinante para a qualidade de vida do paciente — afirmou Fernandes.


O oncologista considera que a técnica é particularmente interessante para a retirada de tumores no cérebro. Nesses casos, mesmo uma pequena interferência nas células saudáveis pode causar um grande dano.


Toda operação tem o objetivo de remover 100% do tumor, além de uma margem de tecido normal em torno das bordas, explica outro autor dos testes com a substância injetável, Brian Brigman, chefe de Oncologia Ortopédica da Universidade Duke. O procedimento atual exige que, em seguida, patologistas analisem as margens do tumor por vários dias até poderem determinar se elas estão saudáveis. Por isso, a falta de precisão pode ser grande.


— Esta técnica patológica para determinar se o tumor permanece no paciente é o melhor sistema que temos atualmente, mas não é tão preciso quanto gostaríamos — pondera Brigman.


No momento, pesquisadores avaliam a segurança e a eficácia do LUM015 e do dispositivo de imagem. Eles estão fazendo um estudo prospectivo com 50 mulheres com câncer de mama. Depois disso, segundo Davd Kirsch, várias instituições devem avaliar se a tecnologia pode de fato diminuir o número de pacientes que necessitam de mais de uma cirurgia após a primeira remoção do tumor.


Fonte: O Globo

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