Uma iguaria catarinense com características da França produzida em Paulo Lopes está virando referência entre os apreciadores de queijo. Reblochon, Camembert e Tomme de Savoie são apenas alguns da dezena de “queijos com sotaque” produzidos à beira da BR 101, na saída do Morro do Agudo, pela mestre queijeira francesa Elisabeth Schober. Os laticínios que são comuns na França não são encontrados facilmente no Brasil, exceto os industrializados e ainda assim não são tantas opções, mas desde setembro os queijos tipo francês podem ser provados frescos na Grande Florianópolis.
A diferença está no sabor, técnica e fermentos. Tem para todos os gostos, mais fortes, ácidos ou suaves. Além de artesanal, a produção busca manter uma estrutura sustentável com ingredientes e material orgânico, esgoto ecológico e produtos de limpeza biodegradáveis.
A produção do Queijo com Sotaque tem pouco mais de seis meses, mas já é intensa apesar de contar com uma equipe de apenas três pessoas. São cerca de 100 kg de queijo por dia. Dois dias são dedicados à produção e o restante para limpeza, vendas e eventos.
O nome “Queijo com Sotaque” veio de uma brincadeira de amigos brasileiros de Elisabeth. Ela conta que quando começou a fazer os queijos aos amigos brincavam dizendo: “Ih esse queijo aí não é bem brasileiro, vai sair com sotaque”, e assim ficou.
Produção cuidadosa e variada
A produção é minuciosa e dedicada. Apenas o primeiro processo de pasteurização do leite que é aquecido entre 32°C e 35°C, usa o maquinário. Com tanques de 100, 200 e 500 litros eles processam entre 1.000 e 1.500 litros de leite por dia. Cada queijo tem um processo de produção diferente. Para o queijeiro Adilson Adílio de Sousa, 54, o maior diferencial de outros queijos é a química: “Aqui é tudo puro, basicamente só leite e tratamento, não usamos estabilizantes e aditivos. Isso dá muita diferença no sabor e deixa o produto mais saudável”.
A produção leva de duas a cinco horas para cada tipo de queijo, depois é preciso passar pelo processo de secagem, refrigeração e maturação quando é colocado para curar, o que pode levar de duas semanas a quatro meses. Alguns queijos franceses ficam até dois anos curando para só depois ser comercializado.
O leite vem de três produtores de Paulo Lopes e não pode ser de qualquer tipo. A temperatura local, a raça, tratamento e alimentação das vacas que fornecem o leita influencia diretamente no resultado final do queijo. Por isso Elisabeth faz questão de esclarecer que os queijos são catarinenses tipo francês não franceses. “Os ingredientes são locais, sendo assim seria impossível fazer um queijo francês legítimo porque tudo é diferente”.
Beleza do litoral catarinense encantou a mestre queijeira
A ideia de vir para Santa Catarina surgiu em 2006 quando Elisabeth veio com a família para o Brasil conhecer o Estado por meio da associação Acolhida na Colônia, que promove o agroturismo. Quando chegou ao litoral Elisabeth ficou encantada com o povo e a beleza da terra e fez uma descoberta que a motivou. “Depois de visitar os campos e agricultores pensei: Puxa! Mas eles não sabem fazer o nosso queijo”, contou.
No ano seguinte ela voltou para o Brasil, para Paulo Lopes, com a ideia de implantar um programa na região em parceria com a prefeitura. A proposta era repassar seu conhecimento sobre como fazer o queijo tipo francês ao povo local. A mestre queijeira trabalhou em diversos laticínios artesanais desde os 17 anos. “Hoje o que fazemos aqui, mais de dez tipos de queijos artesanais diferentes, ninguém na França faz. Lá, cada produtor faz no máximo três tipos de queijo e somente os típicos da própria região, por isso é interessante, desafiador. Tem que ser doido pra fazer tudo isso artesanalmente”, brinca.
A escolha do município foi por motivos simples: “Me apaixonei pela região, pelas praias. O lugar é naturalmente rico e o povo muito alegre. Na França todo mundo faz queijo, aqui não. É uma aventura”, justifica.
Amigos se tornaram queijeiros e sócios do projeto
O projeto em parceria com o poder público não deu certo, mas ela comprou uma casa na cidade e resolveu investir e produzir por conta própria. O primeiro passo foi construir o laticínio e para isso contou com a ajuda de dois amigos nativos de Paulo Lopes que já trabalhavam com construção civil há mais de 20 anos, o mestre de obras Adilson Adílio de Sousa e seu filho Diego Adilson de Sousa, 24, que trabalhou como pedreiro.
Quando a obra terminou Diego estava pensando e mudar de profissão e perguntou se Elisabeth iria precisar de alguém para trabalhar com transporte de produtos oferecendo-se para o trabalho. Além de aceitar a sugestão, ela propôs um novo negócio e uma sociedade com os dois.
A francesa levou os amigos nativos de Paulo Lopes, e agora sócios, para o seu país por 20 dias para aprenderam todo o processo de produção. Hoje os três sócios demonstram ser apaixonados pelo que fazem. Pai e filho nunca tinham pensado em trabalhar com isso, principalmente o pai que conta que “nem gostava de queijo e pouco tinha provado”. Mas hoje ele é considerado a “mão inteligente” pela mestre. Adilson ainda não entende os motivos que fizeram Elisabeth deixar sua terra e vir para Paulo Lopes e brinca: “Cada doido com a sua loucura, o lugar lá onde ela morava é maravilhoso”. E ela replica: “Eu sou cidadã do mundo, gosto de desafios”.
Até os franceses aprovam a iguaria
O francês Fernand Defournier, diretor da Aliança Francesa em Florianópolis, já provou os queijos com sotaque francês e garante que são muito similares aos originais da França. “Não conheço outra produção como esta no Brasil. Os tipos franceses mais conhecidos até encontramos aqui no Brasil. Os tipos Brie, Gruyère e Camembert, são corretos e bons, mas feitos em grande escala, industrial. Dessa maneira artesanal e variada eu ainda não tinha visto por aqui”, afirma.
Para Larissa Schlickmann,27, que durante uma viagem entre Florianóplis e São Ludgero parou para degustar a novidade, o queijo é diferente: “Sou apaixonada por queijos e resolvi experimentar para ter mais opções. Gosto de comer como aperitivo, com vinho ou geleia e além do sabor é mais orgânico e saudável”.
Defournier, conhecedor dos queijos da França, disse que para o ele o mais interessante é que se trata de um produto de qualidade francesa feito no Brasil. “Temo sabor e o “saber fazer” da França, mas é daqui. Conciliar essa mistura que é interessante”, aponta.
Conheça alguns tipos de queijos produzidos pela Queijo com Sotaque
Fromage Blanc
Tipo Saint Marcellin
Tipo Camembert
Tipo Abbaye de Citeaux
Tipo Saint Nectaire
Tipo Reblochon
Tipo Saint Paulin
Tipo Tomme de Savoie
Tipo Raclette
Tipo Comté
Tipo Gruyère
Saiba mais – www.facebook.com/queijocomsotaque
Fonte: ND Online
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