por Frédéric Belnet
Antes mesmo de aparecer em rochas ao ar livre por volta de 10.000 a.C., a arte pré-histórica já era exprimida nas profundezas das cavernas desde aproximadamente 32.000 a.C. Em 1880, o arqueólogo amador espanhol Sanz de Sautuola, o primeiro a decifrar a natureza das pinturas pré-históricas na caverna de Altamira, na Espanha, foi ridicularizado num primeiro momento. Mas a sua ideia ganhou terreno e, em 1901, a revelação das 180 gravuras e pinturas da caverna de Font-de-Gaume, na França, explodiu.
Historiadores divergem sobre o objetivo do homem das cavernas ao pintar como “uma enorme bomba no mundo pré-histórico”, de acordo com o abade Breuil, que participou do achado arqueológico. A ideia foi então aceita de forma definitiva e unânime em 1902, com o mea-culpa feito pelo arqueólogo Émile Cartailhac: o homem paleolítico foi, de fato, um artista!
A fauna é o tema dominante em 90% das obras desse período histórico: mamutes, bisões, cavalos, cervos, cabritos, muito bem proporcionados e detalhados a ponto de interessar os zoólogos sobre o aspecto de certas espécies extintas. Mas não há nem cenário natural nem vegetação que mostrem esses animais em seu meio natural. Eles eram pintados lado a lado, ou se sobrepunham nas paredes, muitas vezes sem que se levassem em conta seus respectivos tamanhos.
As figuras humanas — homens quase sempre com o pênis ereto, mulheres e às vezes híbridos, meio homem, meio animal — são muito raras e eram esboçadas ingenuamente, de maneira simples. As mãos, no entanto, aparecem com frequência: mãos chamadas positivas, cobertas com corante e em seguida carimbadas na parede, ou mãos ditas negativas, aplicadas como um estêncil, sobre as quais se assoprava um jato de tinta. Às vezes, a mão parece amputada, faltando um ou mais dedos — estes estavam provavelmente dobrados, como nas cavernas de Gargas, nos Pireneus, onde 144 pinturas desse tipo aparecem. Alguns defendem a ideia de um “código”...
Símbolos da feminilidade também são observados nas imagens: triângulos pélvicos, chamados de “vulvas”, ou glúteos de perfil. Finalmente, outros sinais mais misteriosos apareceram a partir do período aurignacense (40.000 a.C. a 25.000 a.C.) e multiplicaram-se no período magdaleniano (17.000 a.C. a 10.000 a.C.): círculos, retângulos, linhas, pontos, às vezes misturados com as figuras de animais.
Apenas duas cores eram utilizadas, isoladamente ou combinadas: o preto e o vermelho. A primeira era obtida do carvão de madeira ou de osso. A segunda era produzida a partir de ocre, uma argila vermelha ou castanho-amarelada. Aplicados em pontos grossos, justapostos para formar o desenho, esses pigmentos podiam também ser lançados na parede pelo sopro, após serem dissolvidos e colocados na boca. Os artistas utilizavam de forma inteligente as paredes, rachaduras e saliências para dar profundidade às obras.
Na caverna de Chauvet, na França, imagens descobertas em 1994 mostram que homem de Cro-Magnon utilizava outras técnicas. Ele raspava a parede antes de pintá-la, para obter uma “tela” branca, e esfumaçava as cores. Ainda mais surpreendente é o fato de essas 400 pinturas datarem de 32 mil anos: são as mais antigas conhecidas no mundo. Perto de Marselha, a caverna Cosquer, descoberta em 1985, mostra, entre as 177 representações animais de 19 mil anos, focas, peixes, pinguins e um ser humano com cabeça de foca. Em Lascaux, finalmente, a “Capela Sistina da pré-história”, como disse Breuil, o homem realizou há 17 mil anos uma obra monumental — mais de 2 mil temas —, que continua a impressionar até os dias de hoje.
Como interpretar essas representações? O Homo sapiens simplesmente reproduziu seu meio ambiente pelo prazer da arte? Essa explicação está hoje abandonada: as obras, produzidas cuidadosamente à luz de tochas nas profundezas de cavernas, pouco acessíveis, permanecem invisíveis sem que haja uma fonte de luz externa. Tratava-se de um bestiário sagrado? Mas, se um animal tem um valor de totem, por que pintar tantas espécies no mesmo local? E o que dizer das lanças perfurando, às vezes, esses animais? Simbolização mágica da caça, para garantir uma boa caçada? Era o que o abade Breuil chamava de magia simpática. Mas esses animais “feridos” não correspondiam aos ossos fossilizados das espécies consumidas. E, ainda, como explicar os signos abstratos? Extremamente matemática, a abordagem dita estruturalista, defendida por André Leroi-Gourhan, vê em cada uma dessas cavernas decoradas uma mensagem simbólica global, organizada de forma espacial — uma mensagem que permaneceu sem ser decifrada, apesar da adesão de um bom número de historiadores da pré-história a essa hipótese. Mas, depois das recentes descobertas como a da caverna de Chauvet, tal hipótese já se sustenta.
A explicação mais recente é a do xamanismo, levantada por Jean Clottes. Ele vê as cavernas como santuários religiosos, decorados para criar um ambiente mágico; as formas geométricas seriam frutos das visões dos xamãs durante os transes. Essa teoria não é unânime. De qualquer forma, essas obras corroboram, finalmente, a definição de arte dada pelo dicionário Larousse: “Criação de objetos ou encenações específicas, destinadas a provocar no homem um estado particular de sensibilidade, mais ou menos relacionado ao prazer estético”.
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