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sábado, 5 de outubro de 2013

Segurança na rede: papo sério com a turma...

Comportamentos de risco de crianças e adolescentes, posturas das famílias e o que se espera da escola nesse aspecto da educação.
Texto Décio Trujilo | Fotos Rafael Frazão
A popularização de celulares e tablets entre crianças, adolescentes e jovens traz um novo ingrediente à discussão sobre segurança na internet. Os dispositivos móveis oferecem conexão ilimitada para um público
ainda imaturo e seduzido pela possibilidade de fazer amigos, conhecer gente diferente e participar de quantos grupos de afinidade quiser. Em um momento em que a internet ocupa cada dia mais espaço na vida das pessoas, desde muito cedo, e não é possível pensar em viver fora do mundo virtual, uma das formas de proteger os mais jovens é refletir sobre os comportamentos que podem produzir danos e buscar meios de evitá-los.
Com esse propósito, a SaferNet, organização criada para combater crimes e violações dos direitos humanos na rede e desenvolver ações para a navegação segura, em parceria com a operadora de telefonia GVT GlobalCom, realizou uma pesquisa que abordou temas como privacidade, bullying, erotismo e assédio digital. Entre novembro de 2012 e junho de 2013, foram ouvidos usuários de 9 a 23 anos, pais e educadores.
A primeira conclusão do levantamento é que os jovens estão mais soltos na rede. Os dispositivos móveis já são o segundo meio mais utilizado por eles para navegação – chegam a 38% dos casos, contra 5% em 2009, quando a SaferNet realizou a última pesquisa no gênero. Os móveis perdem apenas para o computador instalado no próprio quarto (47%). A pesquisa apurou também que 62% acessam a internet todos os dias e que 80% estão ligados a alguma rede social. Esses números apontam para uma navegação mais individualizada, intensa e aberta a todas as oportunidades que a rede mundial oferece. Ao mesmo tempo, porém, sugerem uma ameaça à segurança dos jovens e suas famílias, uma vez que não há como avaliar quem e como usará as informações disponíveis no universo virtual.
As facilidades da tecnologia em uma sociedade onde cresce o culto à exposição pública preocupam pais e educadores – uma foto feita com celular pode ser imediatamente postada na rede, de onde poderá nunca mais ser retirada. Segundo a pesquisa, apesar de o maior medo dos jovens ser a captura de seus dados por estranhos, 38% contam que informam o sobrenome em seus perfis, 28% indicam em que escola estudam e 10% publicam o número do celular (16% entre os jovens de 18 a 23 anos e 14% para os de 16). Apenas essas informações já bastam para identificar quem está navegando. Mas também dados dispersos podem ser agrupados para traçar um perfil bem detalhado por quem tiver intenções perigosas: fotos de fachadas e interior de casas, nomes e fotos de parentes e amigos, hábitos regulares, horários, locais e outros detalhes da rotina da pessoa.

Apesar de uma boa parte dos respondentes (48%) admitir ter bloqueado de seus perfis postagens indesejadas – controle de acesso de desconhecidos chega a 70% entre os jovens de 18 a 23 anos – é alto o número de crianças de 10 a 12 anos (35%) que disseram não se importar que pessoas estranhas vejam o conteúdo do que publicam.


“Temos de trabalhar para fortalecer uma cultura de uso crítico da internet, baseada no autocuidado”, avalia Rogério Nejm, psicólogo e diretor de Prevenção da SaferNet. Não há forma mais segura de evitar danos, aponta ele, do que educar, apoiar e informar os jovens sobre os riscos, de forma que eles próprios sejam capazes de identificá-los e se proteger. “É um processo permanente, que deve começar já na fase em que a criança começa a usar o computador. E tem de envolver a família, a escola e os meios de comunicação”, explica Nejm.
A opinião é reforçada por Tatiana Weinheber, gerente do Comunicação Corporativa da GVT, para quem só a conscientização pode garantir o uso seguro da internet: “Não adianta criar regras e proibições, o caminho é estabelecer relações de confiança para que os jovens sintam-se à vontade para discutir e pedir ajuda à família ou na escola”.
A privacidade na internet é um dos temas mais caros na Escola Municipal Henrique Felipe Costa, o Henricão, que abriga alunos da 1ª à 8ª séries do ensino básico. Situada na Vila Curuçá, zona Leste de São Paulo, a instituição realiza, desde 2010, o projeto De Olho nas Telas, com ações associadas ao currículo e atividades extraclasse. Os próprios alunos produziram uma série de vídeos em que falam diretamente para os colegas sobre como utilizar a internet com segurança. Após três anos, é possível perceber as influências do trabalho no padrão de conscientização dos estudantes.

As crianças estão atentas às questões de segurança, sabem na ponta da língua que medidas devem tomar para evitar problemas e como agir em caso de risco. Ainda assim, os orientadores foram surpreendidos pela pesquisa ao saber que a maioria de seus alunos não dá a importância que imaginavam para a configuração dos perfis nas redes sociais. Para o professor Elton de Andrade, um dos criadores do projeto, os resultados da pesquisa comprovam que não bastam ações sazonais ou específicas e confirmam a necessidade de um trabalho permanente e intenso. “Temos de ir além de mostrar o que é uma rede social e quais são seus riscos, mas também debater com eles o por que a rede existe, que benefícios podemos tirar e de que forma a rede é usada pelas pessoas”, afirma.

Uma das explicações para o descuido pode estar no fato de que 23% dos entrevistados contaram se sentir mais confiantes e descontraídos enquanto navegam (24% disseram não saber). Um passo adiante: 24% já namoraram ao menos uma vez pela internet e 20% receberam imagens de amigos sem roupa ou exibindo partes íntimas do corpo. Em 2009, esse índice era de 12%.

No bairro Riviera, na zona Sul de São Paulo, funciona o Centro de Formação e Recreação São José, organização social que oferece atividades de cultura, lazer, esporte e capacitação para um público dos seis aos vinte anos. Entre as atividades está a educação para o uso seguro da internet. As adolescentes que integram o projeto contam histórias próprias ou de amigos sobre trocas de fotos e vídeos com conteúdo sensual. “Estava na casa de uma colega e um menino pediu que ela vestisse uma roupa curta, colocasse uma música e dançasse para ele diante da câmera”, conta Ariane, 15 anos. “Eu tenho fotos íntimas e quando tem um cara legal eu mando, mas bloqueadas”, admite uma das adolescentes. “Conheço meninos que me mandam fotos de short e sem camisa perguntando se ficaram boas”, diz Ariane.
Carlos Alberto de Souza, educador social do centro, associa esse comportamento a uma projeção das atitudes dos ídolos. “Se eles veem uma foto de um ator ou atriz em situação erótica na internet, acham que não há problema algum em imitar”, diz. Nas conversas sobre navegação segura que promove, ele percebe esse padrão, especialmente entre as crianças: “No entendimento deles, se aquilo não é motivo de embaraço para o artista, muito ao contrário, por que seria para eles?”. Segundo Nejm, a exposição erótica hoje é vista como positiva e as crianças a reproduzem. A tecnologia torna fácil se expor e há um estímulo a isso. “As crianças estão muito vulneráveis nesse momento, é a fase da descoberta da sexualidade”, alerta o psicólogo.
As adolescentes do São José concordam. “Hoje as pessoas acham que exposição é normal, é uma moda, e todo mundo quer estar nessa moda”, afirma Júlia, 16 anos. “Só quando acontece algo é que a gente cai na real”, completa. Apesar de afirmar que não aceitam convites na rede social de quem não possam identificar, elas admitem que há uma disputa para ver quem tem mais amigos virtuais. “As pessoas fazem isso para se enturmar, para os outros gostarem delas”, diz Ingryd, 16 anos. Ariane conta que por um tempo aceitava todos os convites que recebia, mas mudou de atitude quando começou a enfrentar inconvenientes: “Tenho colegas que não se cuidam, conversam abertamente com pessoas que não se identificam direito, não põem fotos nem informações no perfil. Acho isso uma atitude insegura”. As meninas reconhecem que o adolescente gosta de aventura. “Nós, jovens, achamos que não vai acontecer com a gente, quem se preocupa com essas coisas são nossos pais”, relata Ingryd.
Os pais, ou familiares, são a principal referência de segurança para os jovens. Apesar de praticamente metade (48%) dos entrevistados não ter qualquer tipo de acompanhamento em casa, quando agredidos ou diante de uma situação de perigo, 34% pedem ajuda aos adultos da família, índice maior entre as crianças de 9 a 10 anos (46%). Ao mesmo tempo, 52% dos pais revelam que os filhos comentam com eles suas experiências na rede. Talvez isso explique a tolerância diante da vigilância. Dos que são regularmente acompanhados, 43% não se aborrecem e entendem que é bom para sua proteção, enquanto outros 32%, apesar de não gostar, aceitam naturalmente. Apenas 15% consideram que a mediação é falta de confiança. Em comum, sentem-se seguros por saber que alguém se preocupa com eles. “Em parte é bom ser vigiado, ter alguém que alerte a gente mas, por outro lado, isso tira a privacidade”, pondera Flaviane, 14 anos. Para Júlia, ficar totalmente livre não é bom: “É importante saber que tem alguém cuidando da gente”. “A gente tem que conseguir conquistar a confiança deles”, acredita Kennedy, 11 anos.
Entre os pais que declaram vigiar os filhos, o maior grupo é o dos que acompanham esporadicamente sem impor limites de tempo de navegação (30% para os meninos e 38% para as meninas). Com ou sem acompanhamento, 29% dos entrevistados dizem que seus pais instalaram filtros e controles de navegação nos computadores. “A pesquisa mostra que a mediação parental é pequena, por isso o papel da escola é fundamental”, diz Fernando Solano, orientador de informática educativa do Henricão. Nejm, da SaferNet, alerta para o que chama de “mito da lacuna geracional”, segundo o qual os pais têm dificuldade para monitorar os filhos por ter menos habilidade no uso de equipamentos eletrônicos – possível justificativa para a omissão de parte das famílias no acompanhamento dos jovens. De acordo com Nejm, mesmo que o pai ou a mãe não saibam mexer em um computador, eles devem tomar a iniciativa de estimular o diálogo com os filhos sobre os perigos da vida que se reproduzem na internet, pois as crianças e adolescentes têm intimidade técnica com os dispositivos, mas são imaturos para compreender todos os processos que envolvem o mundo virtual e relacioná-los completamente com a realidade. “É esse o papel dos adultos, ajudar os jovens a usar a internet no processo de construção da cidadania”, observa.
Nesse caminho, pais e alunos avaliam a função da escola como fundamental. Pela pesquisa, 38% dos estudantes consideram a escola como principal fonte de informação sobre navegação segura; e entre os familiares esse índice é de 71%. Em seguida aparece a imprensa (sites, jornais e revistas), com 33% para os jovens e 64% para as famílias. Mas 31% dos entrevistados nunca procuraram qualquer tipo de informação sobre segurança na rede e o índice é menor entre as crianças de 9 a 11 anos. “A escola leva o debate para dentro de casa. O filho conta o que viu aqui, fala do filme que assistiu, das atividades de que participou. Isso estimula a família a acompanhá-lo”, explica Solano. “Temos notado também uma mudança de atitude do poder público. Antes, era tudo proibido, não podíamos acessar as redes sociais, que é principal contato dos jovens com o mundo virtual. Isso dificultava o próprio processo de informação”, lembra Jane Cristina de Souza, orientadora de informática educativa da escola Henricão.
O conjunto de agentes formado por poder público, imprensa, família e escola, atuando permanentemente, pode levar
ao processo de construção da cultura coletiva de autocuidado de que fala Nejm. “Só a sociedade em conjunto pode formar cidadãos conscientes da necessidade da navegação segura de forma a tirar proveito dos benefícios que a internet oferece. As crianças, adolescentes e jovens não querem proibições, querem navegar com segurança. E ninguém consegue vigiar o tempo todo um adolescente com um celular”, lembra o psicólogo da Safernet. “Eu tenho celular, minha mãe trabalha o dia todo, então não tem como ela me controlar”, confirma Fernanda, 16, do Centro São José. 

Criminosos se aproveitam de falta de cuidado
O assédio e a pedofilia estão entre os maiores riscos para crianças e adolescentes ao navegar. O perigo é potencializado pela falta de cuidado ao postar fotos inocentes do dia a dia, mas que servem de informação para a prática de chantagens. O problema se potencializa porque, em geral, o agressor é um adulto que se aproveita da imaturidade e insegurança do outro para praticar a sedução ou a ameaça.
No Centro São José, duas histórias correm de boca e boca. Uma aconteceu em 2011, quando o diretor de uma escola do bairro distribuiu câmeras de vídeo para algumas alunas. Depois, ajudado por uma mulher que se fez passar por modelo, conseguiu fotos sensuais das meninas. Em seguida, começou a pressioná-las a fazer vídeos eróticos. O crime tornou-se público e ele foi afastado. Outro caso bastante conhecido é o de um homem que invade perfis e faz comentários em inglês sobre as fotos publicadas. Ao traduzir os textos, os adolescentes descobrem que têm referências pornográficas.
A pesquisa aponta que 15% dos entrevistados já se encontraram com pessoas que conheceram na rede. Destes, 12% avaliam que o encontro foi bom. São histórias de pessoas que viraram amigas e até namorados. Mas 3% relatam experiências ruins. As situações mais comuns citadas pelos jovens são de gente que simula ser da mesma idade da vítima e estabelece uma relação de confiança, mas em algum momento se revela como outra pessoa. “Uma amiga fez amizade com uma menina desconhecida, as duas trocaram informações íntimas e um dia, usando a câmara, ela descobriu que era um homem”, conta Arthur, do São José.
Fernando, do Henricão, fala de uma colega de 15 anos que iniciou um relacionamento virtual com um menino e chegou a enviar fotos sem roupa para ele. Quando, enfim, aceitou marcar um encontro real, descobriu que se tratava de um homem maduro. Tuanne, da mesma escola, lembra de uma vizinha adolescente que marcou encontro com um amigo virtual e desapareceu. Kennedy tem um colega que acreditou em um anúncio de prêmio e saiu de casa para buscar um celular em endereço desconhecido. Foi alcançado em tempo pelo pai, que desconfiou da história.

Anonimato e distância favorecem o ciberbullying
Na pesquisa realizada pela SaferNet, 35% dos entrevistados afirmaram que algum amigo contou ter sido humilhado, agredido ou chantageado pela rede social e 12% afirmaram ter eles próprios passado pela experiência. Quase metade (49%) dos jovens diz que o ciberbullying é seu maior medo na navegação, atrás apenas do temor de ter os dados roubados. “Ontem mesmo uma menina entrou na minha página e começou a me xingar sem motivo”, conta Derony, do Henricão.
Por isso, há grande rejeição aos perfis falsos e blogs apócrifos cada vez mais comuns nas escolas, criados por grupos de alunos para satirizar os colegas por meio de piadas, apelidos, fofocas e edição de fotos. Apenas 10% dos entrevistados consideram só uma brincadeira, enquanto 69% dizem não ver graça nessas postagens. Entre as meninas, 77% acreditam que a prática pode magoar as pessoas, mas entre os meninos o índice também é alto, 59%. “Essas coisas machucam as pessoas por dentro, e elas acabam se afastando dos outros”, afirma Derony. “Os números expressam uma maior consciência sobre os limites entre brincadeiras e ofensas na rede”, diz Rogério Nejm, da SaferNet. Para os estudantes, o que estimula a prática de bullying é o fato de parte dos adolescentes acharem as provocações engraçadas. “Assim, quem faz se sente mais à vontade para continuar fazendo”, avalia Flaviane.
No âmbito escolar, as formas mais comuns de ciberbullying são a exploração de características físicas, condição social, comportamentos e disputas amorosas. “Meu amigo tem uma deficiência e tem gente que pede amizade dele na rede social apenas para humilhá-lo”, relata Tuanne. “O bullying da vida real passa para a internet”, completa. “Aqui na escola, por exemplo, quem pratica bullying não gosta das atividades sobre internet segura”, revela Derony.
De desconhecidos, os entrevistados alegam ser vítimas de chantagem em troca de benefícios materiais ou de assédio sexual. “Tem pessoas que entram no Facebook só para agredir e ameaçar a gente. Eu já desfiz minha página e fiz outra por causa disso”, conta Kennedy.
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