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PENSE NISSO:

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terça-feira, 11 de janeiro de 2011

CARTOGRAFIA x MAPAS.

A arte com olhar e raciocínio geográfico:


Em seu conjunto, a representação cartográfica revela uma ‘biografia’ urbana, através de instantâneos de uma identidade sempre mutante.”

(Celso Castro)

Conceito da cartografia Para fazer colocações nesta temática temos que relativizar o conceito de cartografia, geografia e topofilia. Para conseguirmos fazer a união desses três conceitos, temos que passar de forma explícita o significado de cada uma delas:
- Cartografia: Estudo de mapas
- Geografia: Desenhar ou escrever a Terra
- Topofilia: Amor pelo lugar.
Relativizando esses três conceitos é que as obras de Van Langren tornam-se mais próximas dos seus observadores, transmitindo a ideia de que a arte é fundamental para o estudo da história da cartografia. Pois, assim, extraímos a concepção de que o envolvimento do homem com o espaço vivido e a sua interferência no meio físico constrói uma visão abrangente sobre os objetos de estudo da ciência geográfica. Mas a cartografia de Van Langren caracteriza a particularidade de cada região e localização geográfica.
A estética e o belo, que são conceitos difundidos na ciência da arte, tornam-se itens de grandes valores para as obras de Van Langren. Ao observar as obras de Van Langren, seguimos para uma percepção didática da cartografia. Essa percepção didática se origina pelas nuances das cores e os efeitos que esta arte visual nos causa.
Ao analisar os diversos tipos de mapas, chega-se à conclusão de que a ciência cartográfica serve-se de duas nuances analíticas, como a arte e a técnica. No caso da arte, observamos as cores, os contornos, os elementos componentes do espaço desenhado e a clareza de informações que se obtém por meio deste procedimento. A arte torna-se um item indispensável nesse processo, pois, segundo Svetlana, “os cartógrafos constituem um grupo claramente distintos dos artistas, assim como os estudiosos da cartografia se distinguem dos historiadores da arte. Ou, pelo menos, assim era até recentemente. Estamos testemunhando um certo enfraquecimento dessas divisões e da atitude que elas representam. Os historiadores da arte, menos certos de poder estipular quais imagens contam com a arte, estão dispostos a incluir mais tipos de artefatos e outras produções humanas em seu campo de estudo. Alguns deles se voltaram para os mapas. Os cartógrafos e os geógrafos, por sua vez, acompanhando uma revolução intelectual correlata do nosso tempo, estão tomando consciência da estrutura dos mapas e de sua base cognitiva.”
A afirmativa de Svetlana nos ajuda a compreender o padrão de cartógrafo que Van Langren era. As ideias sobre arte que ele transmite em seus trabalhos é que fazem dele um artista visionário e com técnicas aprimoradas e bem relevantes para o estudo da arte como ciência.
No caso de Van Langren, exercer dois papéis como cartógrafo e artista nos desperta a percepção de que a arte se faz presente no cotidiano da geografia.
No mapa acima, podemos ilustrar a arte cartográfica fazendo as seguintes considerações:
Na parte superior do mapa, ao lado esquerdo, podemos ver a presença da religiosidade visualizada pela imagem de anjos; as cores e os tons em diferentes pigmentações; o tracejado preciso e bem delineado; e a iluminação da própria obra permitindo clareza na interpretação do que se pretende informar.
Já para a técnica cartográfica, o mapa 1 esboça bem essa questão. Pois neste contexto a arte se distancia, e o mapa de obra de arte passa a ser documento cartográfico. No documento cartográfico se observa uma cartografia bem política e pretensiosa no que tange à delimitação territorial; dados referenciais; informação de localização; orientação cartográfica. Contrapondo arte e técnica é que se consegue notar a diferença entre o trabalho do cartógrafo e do artista.
O mapa 1 e o mapa 2 são reproduções idênticas do espaço registrado e diferentes a partir das técnicas empregadas. O mapa 1 refere-se a um estilo documental da cartografia que faz dela um procedimento técnico. O mapa 2 é uma reprodução artística com características didáticas e topofólicas por desapertarem no observador o entusiasmo na compreensão dos seus elementos, que são assimiláveis por meio da sua visualização.
A cartografia pitoresca de Van Langren apresenta em tempo simultâneo essa questão de arte e técnica. Ele se favorece desse privilégio por ter existido em uma época em que as ciências estavam caminhando para a modernidade e evoluindo para um campo de acesso fragmentado. Ou seja, aos poucos, os conhecimentos vão se tornando mais distintos e particulares.
Van Langren se torna um cartógrafo artista valorizado em seu meio de convivência, pois no século XVI não havia a dissociação do saber cartográfico e do saber artístico. O layout das obras de Van Langren se mostra de formas customizadas e se particularizam para um determinado público.
Para a geografia, a cartografia é a representação gráfica do território pelo homem. Essa “grafia” territorial é utilizada para delimitar áreas terrestres e criar fronteiras espaciais entre territórios. Este princípio sempre se fez presente em toda a cartografia histórica e até mesmo na cartografia moderna.
Ao pesquisar a história da cartografia da América Latina por meio das obras de Van Langren é que conseguimos conhecer a visão europeia sobre o nosso território. Os europeus imaginavam o mundo novo na posição horizontal (deitado), como nos mapas 1 e 2. Porém, essa forma visual do nosso espaço deve-se aos relatos e ao que já se tinha “pronto”, uma vez que as reproduções eram frequentes e o que mudava era um elemento ou outro. Ao selecionar um artista/cartógrafo e focar um estudo dirigido referente sobre a sua obra, é necessário ir além do saber epistemológico.
O estudo passa a ser abrangente e a necessidade de ir a fundo na biografia do selecionado torna-se uma questão objetiva para um estudo subjetivo.
A subjetividade do estudo sobre as obras de Van Langren ocorre pela dualidade apresentada em seu trabalho. Tratando-se de uma cartografia antiga é que podemos argumentar sobre esse sentido que a arte concede à cartografia e como o geógrafo se posiciona perante essa questão.
Em uma linguagem geográfica e em um olhar artístico, o geógrafo passa a ser um construtor de um conceito ainda novo para a ciência geográfica. Ou seja, a conexão da geografia com a arte.
Dentro dessa interface é que a história da cartografia se faz pertinente como um instrumento a mais para a construção desse saber. Contudo, Van Langren surge como um ícone para o estudo dess a afirmativa.



Artistas holandeses

Os trabalhos dos artistas holandeses contribuíram grandiosamente para os campos cognitivos e epistemológicos abrangentes da ciência geográfica. Porém, quando nos direcionamos para a cartografia, os estudos dos mapas devem, antes de tudo, partir dos conceitos da geografia científica. Mas quais conceitos seriam esses? Esses conceitos encontram-se em evidência a partir dos conteúdos que compõem as duas facetas da ciência geográfica: a geografia física e a geografia humana.
Relacionando geografia e arte dentro da disciplina cartografia, podemos ver nitidamente tais conceitos partindo das observações feitas das obras de Van Langren. Para Svetlana: “(...) os autores ou editores de mapas eram referidos como ‘descritores do mundo’, e seus mapas, ou Atlas como mundo descrito. Embora o termo nunca tenha sido, ao que me consta, aplicado a uma pintura, há boas razões para sê-lo aqui. O objetivo dos pintores holandeses era captar, sobre uma superfície, uma grande quantidade de conhecimentos e informações sobre o mundo”.
Essa afirmativa de Svetlana Alpers aplica-se a Van Langren de forma concisa, uma vez que tal informação justifica o seu estilo artístico e a sua epistemologia geográfica.
Para o conhecimento histórico da cartografia, a arte e a técnica se misturam e ao mesmo tempo enveredam por um caminho científico representando um mundo tridimensional em suas descrições.
Em relação aos mapas 1 e 2 apresentados, o nosso olhar técnico e o didático se confrontam, uma vez que buscamos dissociar a arte da técnica dentro do estudo da cartografia histórica.
Referenciando-se aos mapas apresentados e ao estudo da cartografia atual, podemos de forma ousada propor uma modificação na posição do mapa de Van Langren, pois se percebe que este apresenta a América Latina de forma verticalizada.
Esses mapas 1 e 2 nos oferecem mais informações do que os mapas da cartografia atual. Atualmente, a cartografia encontra-se fragmentada em estilos e divisões de percepção visual, enquanto a cartografia histórica busca apresentar muitas informações em um único mapa.

Se fôssemos propor uma correção à posição da obra de Van Langren, os mapas da América Latina ficariam da seguinte forma:
Ao que se vê, não ficaria muito diferente das representações atuais. Por isso, a arte nos favorece a possibilidade de interferir no mundo, da mesma forma que a geografia o interpreta e a cartografia o descreve. Van Langren insere-se neste contexto por fazer com que estes conceitos interajam de forma concisa em suas obras.
A genialidade do cartógrafo Van Langren suscita a ideia de que a geografia e a arte, mesmo sendo ciências distintas, possuem grandes afinidades por representarem o espaço como imagem e a cartografia, os territórios com imagem. Referenciando-se a esta afirmativa é que Van Langren permite que o seu ego de geógrafo junto ao seu olhar de cartógrafo se faça presente em suas obras e o seu talento de artista se extravase e transcenda pelos detalhes das cores e no delinear dos riscos, fazendo deste um iluminado artista por meio de sua pitoresca cartografia.
A cartografia é uma arte e ao mesmo tempo uma ciência que transforma o real em objeto. Ser cartógrafo, ser geógrafo e ser artista fazem de Arnold Florent Van Langren um ícone para o estudo da cartografia histórica e um marco da identidade do continente americano.

As obras, o estilo artístico da cartografia de Arnold Florent Van Langren.
Delineatio Totius Australis Partis Americae (1596)

“Mapas desenhados na areia, apenas para responder a uma questão prática, têm muito pouco ou nenhum valor artístico. No entanto, tão logo são desenhados em um material mais durável – barro, madeira, papiro ou papel –, o impulso artístico encontra expressão. É como se os seres humanos fossem incapazes de inscrever linhas, ângulos, quadrados e círculos sem serem engolfados na estética de configuração design. Este impulso é ainda mais poderoso quando a cor, a representação pictórica da topografia e os traços feitos pelo homem são adicionados.”
(Yi-Fu Tuan)
A gênese da divulgação do conhecimento sobre a cartografia surgiu por meio da arte, uma vez que Claudius Ptolomeu, pensador grego, intensificou o seu trabalho como cartógrafo ao escrever a obra denominada Geografia de Ptolomeu. Essa obra tornou-se conhecida como o primeiro Atlas Mundial. A partir do século XVII, a cartografia se tornou ciência distinta por ir perdendo características artísticas e ir adquirindo uma aparência documental e, ao mesmo tempo, técnica. A ciência cartográfica se estuda e se pesquisa dentro da geografia não somente por uma questão de semântica, mas também pela contextual de linhas de saberes de conhecimentos. Partindo desta afirmativa é que podemos evidenciar e, ao mesmo tempo, construir diversas visões relativas a obras que se tornam ambíguas entre a cartografia e a arte.
Assim é que se insere Arnold Florent Van Langren, que, em suas criações, faz o uso de elementos visualizados em obras de arte, tornando-se, assim, um artista visionário com raciocínio cartográfico e olhar geográfico. A respeito da vida pessoal de Van Langren pouco se sabe. Embora o que se conhece é que ele segue uma descendência de cartógrafos holandeses e tanto ele quanto o patriarca da família Van Langren (Jacob Florent Van Langren), seu irmão (Henricus Florent Van Langren) e seus dois filhos (Michael Florent Van Langren e Jacob Florent Van Langren “Frederik”) exerciam funções como cartógrafos, matemáticos, astrônomos e escultores de globos terrestres e celestes.

Conceitos
Partindo desse princípio é que o universo epistemológico da cartografia se apresenta com estruturas interdisciplinares entre geografia e arte, o que faz com que as obras de Van Langren estejam em constante evidência. As suas apresentações artísticas são ao mesmo tempo técnicas, como no caso da leitura artística que o observador faz partindo de signos e elementos contidos no mapa. Eles fogem e ao mesmo tempo se aproximam.
Verificamos alguns conceitos de cartografia como no mapa acima.

Cartografia e arte
Ao se fazer o estudo da cartografia neste período da Idade Moderna, século XVI, é que a interface da cartografia com a arte se faz essencial na ciência geográfica.
No mapa acima podemos focar o nosso olhar riqueza de informações escritas e avaliar as técnicas artísticas que se fazem presente nele. O que provoca admiração aos observadores são as características de raciocínio artístico sobre o mapa, uma vez que a América Latina se apresentava como um mundo novo e os limites políticos são evidenciados na obra.
O que torna muito questionador para as pesquisas e estudos feitos sobre a história da cartografia é o fato de como os cartógrafos conseguiam construir mapas de regiões ainda pouco exploradas e por serem isentos de recursos tecnológicos como se usufruem nos dias atuais?
Pelas obras de Arnold Florent Van Langren é que podemos coletar algumas respostas, uma vez que ele exercia os dois papéis. Ou seja, o de cartógrafo e artista.



A leitura de mapas

No século XVI, idealizar mapas não era uma tarefa fácil. Pois dimensionar uma imagem que antes não era vista de forma vertical (de cima para baixo), esboçá-la graficamente nos provoca muitos questionamentos.
A conclusão a que até se pode chegar para tais questionamentos se explica por meio do uso do imaginário e do abuso da sua criatividade, que compensavam o desconhecimento geográfico. Para Turchi, “o mapa nos mostra, concisamente, algo que ninguém jamais viu.”
O trabalho de Van Langren une a visão vertical e a horizontal do território, criando também uma cartografia didática e lúdica, por meio da apresentação das imagens. Isso significa que, para a aprendizagem da cartografia, em todos os níveis de ensino, é relevante se servir da cartografia histórica, por esta nos favorecer como um excelente meio para questionamentos contundentes relacionados à ciência geográfica e ao conteúdo cartográfico. Pesquisar os mapas de Arnold Florent Van Langren nos dá a concepção da gênese do distanciamento entre a cartografia e a arte.

FONTE

FOTOS ILUSTRATIVAS