Cientistas britânicos querem começar a testar sangue artificial pela primeira vez em humanos nos próximos três anos.
Eles planejam iniciar a primeira fase de testes com voluntários no final de 2016 ou no início de 2017.
Por trás da iniciativa está um consórcio de universidades e órgãos do governo do Reino Unido que já vem produzindo produz células de sangue a partir de células-tronco.
As células-tronco são aquelas capazes de se transformar em qualquer outra célula do corpo humano. Muitos estudiosos apostam nelas como a chave para a cura de inúmeras doenças.
Cultivadas em laboratório, as células sanguíneas poderiam ser, assim, usadas para transfusões, evitando uma série de problemas comumente observados nesse processo, como o risco de transmissão de infecções, a incompatibilidade com o sistema imunológico do receptor e a possibilidade de excesso de ferro no sangue do doador.
Além disso, se for bem sucedido, o projeto permitirá aumentar a oferta de sangue disponível para transfusões.
Muitos países do mundo, como o Brasil, sofrem com o estoque dos bancos de sangue, que, alimentados por doações públicas, são insuficientes para atender a crescente demanda pelo material.
Segundo os envolvidos na pesquisa, o uso de células sanguíneas cultivadas em laboratório também apresentaria uma vantagem clínica em relação ao sangue colhido de doadores.
Isso porque, de acordo com os cientistas, as células produzidas artificialmente são mais novas e têm maior longevidade.
"Produzir uma terapia celular que leve em conta a escala, a qualidade e a segurança exigidas para testes clínicos em humanos é um desafio muito grande. Mas se tivermos êxito, poderemos garantir a populações de diferentes países o benefício dessas transfusões de sangue", afirmou Marc Turner, professor da Universidade de Edimburgo, na Escócia, e responsável pelo projeto.
"Os testes que faremos também fornecerão informação de valor a outros pesquisadores no desenvolvimento de terapias celulares", acrescentou.
Técnica
Turner e sua equipe usaram uma técnica que cria células do sangue a partir de células-tronco pluripotentes induzidas, também conhecidas como células iPS ou iPSCs.
Por esse artíficio, as células doadoras são isoladas e cultivadas. Posteriormente, transferem-se para elas os genes das células-tronco associadas por meio de vetores virais.
Ao final do processo, as células-tronco pluripotentes induzidas são estimuladas por uma substância química para se transformar em células do sangue do tipo O, raro e universal.
Segundo Turner, é provável que os testes sejam feitos em três pacientes com talassemia, uma doença que acomete o sangue e exige transfusões contínuas.
O comportamento das células sanguíneas produzidas artificialmente será monitorado durante os testes, acrescentou o pesquisador.
Ele, no entanto, ressalva que ainda há um longo caminho a percorrer para produzir sangue artificial em escala "industrial".
Atualmente, o custo para uma única transfusão de sangue é de 120 libras no Reino Unido, ou R$ 360.
Para Turner, se os testes forem eficazes, esses custos poderão ser reduzidos substancialmente no futuro.
BBC BRASIL
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