Você nem precisa pegar a chave no bolso. Basta apertar um botão na maçaneta para sua entrada ser imediatamente autorizada. Você abre a porta, senta-se em uma poltrona revestida em couro muito confortável que insistem em chamar de banco. Basta fazer os devidos ajustes – elétricos, sempre –, regular espelhos, altura e profundidade do volante, colocar o cinto e pronto: você está 20 anos mais velho. O Nissan Altima (pronuncia-se ÁLtima) pode até ser carro para pessoas de mais idade, mas ele faz você desejar envelhecer logo – e muito bem.
Agora você dá um toque no botão “Start” para dar vida ao Altima. O motor acorda, você não o escuta e termina se distraindo com um carrinho reproduzido no meio do quadro de instrumentos. Ali são exibidas todas as informações que você espera encontrar em um computador de bordo, além de informações como a pressão de pneus e configurações de sistemas como o Safety Shield, detector de mudança de faixa, que dispara um alarme caso o motorista faças desvios de trajetória sem sinalizar com seta, ou identifique movimento na câmera de ré, ou carros nas imediações ao armar a seta para mudar de faixa. Ah, e ele também mostra o que está tocando no rádio.
Ok, não é um mero rádio. Por trás da tela sensível ao toque de sete polegadas está um sistema de som Bose com CD Player, leitor MP3, USB e Bluetooth com nove alto-falantes – um deles, inclusive, está logo acima, ali no meio do painel. De tão sofisticado, ao parear seu smartphone com o aparelho, todas as músicas dele são automaticamente transformadas em sinfonias, jazz e rock clássico. Brincadeiras a parte, a central também é responsável por exibir o navegador GPS e as imagens da câmera de ré. Tanto os comandos do sistema multimídia como os do computador de bordo estão ao alcance dos seus dedos, no volante.
A impressão só melhora quando você começa a reparar no painel como um todo. Ele tem estilo comportado e agrada ao toque, emborrachado até mesmo nos painéis das portas. O que pega mal é ver o console inteiro em plástico preto brilhante. Você olha para o console central e vê os botões do aquecimento dos bancos – também é possível aquecer o volante. Fique longe deles até a segunda ordem, a não ser que você esteja abaixo do Trópico de Capricórnio! Mas todos estamos autorizados a abrir o teto solar… Mas, note, falta alguma coisa ali. É o freio de mão! Como nos Mercedes mais antigos e na maioria das picapes, ele é acionado e liberado no pé.
Choque de realidade
O motor ainda está acordado e te convidando a encarar o mundo. Ele, um moderno 2.5 16V com bloco e cabeçote de alumínio e duplo comando de válvulas variável, acionado por corrente metálica. Gera respeitáveis 182cv de potência a 6000rpm e 24,8kgfm de torque máximo a 4.000rpm, mas só bebe gasolina. Seu parceiro é um câmbio CVT (com relações continuamente variáveis), à moda do Sentra, mas com a particularidade de ter modo Sport e simular sete marchas – no Sentra não há definição de marcha – antes de enviar a força para as rodas dianteiras.
Este conjunto está longe de ser extraordinário em termos de desempenho, mas é suficiente para nunca deixar transparecer que o sedã pesa quase 1,5 tonelada. Sempre há força disponível, mas por prezar pelo consumo, o câmbio tenta sempre trabalhar com a maior marcha possível para diminuir a rotação do motor. Tá muito chato? Leve a alavanca do câmbio para a posição D/S. É o modo esportivo, que aumentará um pouco as rotações do motor. Ainda não está contente? Faça o motor ficar hiperativo desligando o Overdrive na lateral da alavanca. O Altima passará a atender imediatamente qualquer requisição do acelerador. Entretanto, o consumo que cravava bons 9km/l, logo estará por volta dos 6,5km/l. Isso em regime urbano.
Não se anime. O Nissan Altima tem rodar extremamente suave. A suspensão é independente nas quatro rodas, do tipo McPherson na dianteira e Multilink na traseira, dotada de amortecedores da famosa ZF Sachs (comuns em carros premium, mas raros em sedãs sem proposta esportiva). Resultado é um rodar macio e silencioso mesmo em ruas de paralelepípedo e curvas tomadas sempre com o carro grudado no chão.
A direção tem assistência eletro-hidráulica progressiva e é levíssima em manobras, algo muito bom para um carro de 4,86m de comprimento, 1,83m de largura, 1,47m de altura e distância entre-eixos de 2,77m. Mas que ela poderia ser menos assistida em altas velocidades e um pouco mais direta, poderia.
Espaço para todos
As dimensões avantajadas do Altima conseguem ser ainda melhor aproveitadas pelo fato do banco traseiro estar bem próximo das caixas de roda. Desta forma, se três pessoas se sentarem no banco traseiro elas não poderão reclamar de espaço lateral, para a cabeça e nem para suas pernas. Além disso, todos tem encosto de cabeça e cinto de três pontos. E também há saídas de ar-condicionado dedicadas ao banco traseiro. Ainda há compatibilidade com sistema Isofix de fixação de cadeirinhas.
Quem cobra o preço do encosto do banco recuado é o porta-malas, com capacidade de 436 litros, menor que o de muito sedã compacto. Ele é amplo, mas raso e ainda tem parte do espaço roubado pelas dobradiças do tipo “pescoço de ganso”.
De um carro deste porte é esperado uma lista gigantesca de equipamentos de série. De fato, ele tem tudo que se espera e mais algumas amenidades, como retrovisor interno eletrocrômico, volante multifuncional aquecido e revestido em couro; banco do motorista com ajustes elétricos (inclusive lombar) e aquecimento, e o do passageiro com aquecimento; retrovisores externos aquecidos com piscas integrados, regulagem e rebatimento elétricos, sensores de estacionamento, de luminosidade e de chuva; chave presencial com partida por meio de botão no painel, vidros e teto solar com acionamento elétrico, rodas de liga leve com aro de 17 polegadas, faróis com ajuste de altura e lanternas traseiras em LEDs.
No que tange a segurança, há controles de estabilidade, tração e subesterço, freios a disco nas 4 rodas com ABS, EBD e assistente de frenagem de emergência e airbags frontais, laterais e de cortina.
Preço.
O Altima merece um parágrafo exclusivo para questões econômicas. Ele chegou em novembro por R$ 99.800, mas hoje custa R$ 112.900, e as unidades ainda são 2013/2014. O preço era muito competitivo para um carro importado dos Estados Unidos – onde é o Nissan mais vendido -, ou seja, pagando imposto cheio, mas hoje é apenas a compra mais racional entre os concorrentes do Ford Fusion, de longe o mais vendido do segmento, e que parte dos R$ 98.700 com motor 2.5, mas tem a versão 2.0 Turbo (240cv) Titanium com teto solar por R$ 110.700. O Peugeot 508 (1.6 de 165cv) sai por R$ 111.900, enquanto o Honda Accord 2.4 (175cv) custa R$ 119.900 e o Kia Optima (2.4 de 180cv) sai por R$ 115.900.
De toda forma, passar uma semana dirigindo um Altima me fez pensar em criar um plano de previdência privada. Uma forma meio certa de garantir que envelhecerei bem…
Pontos positivos:
Conforto ao rodar
Espaço interno
Casamento entre motor e câmbio
Pontos negativos:
Sistema “um toque” apenas para o vidro do motorista e do passageiro
Câmbio CVT deve opção de trocas sequenciais
Tampa do porta-malas e capô poderiam ter abertura por molas à gás
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