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quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Qual é a função do professor?



Texto publicado no Jornal "A Cidade", Caderno C, Seção Boas Ideias, Domingo, 03/07/2011. Retirado do blog http://sergioadas.blogspot.com.br/2011/08/qual-e-funcao-do-professor.html


Sérgio Adas*
O que às vezes pode parecer uma pergunta banal ou óbvia também pode nos chacoalhar para sairmos da inércia e abandonarmos o campo da irreflexão. “O que é um professor”, “qual a sua função” e “para que serve” não são perguntas fáceis de responder, principalmente se fizermos uma rápida pesquisa de opinião. As respostas, talvez, possam até ser mais ululantes que as perguntas…


Lembrou-me uma conferência, na Unicamp, do Professor Newton da Costa, que depois de expor sobre a Lógica na Matemática e na Física ‒ áreas às quais vem brilhantemente se dedicando há tempos ‒ o conferencista, num ato de coragem e desabafo, falou-nos sobre a função do professor: professor é aquele que dirige o aprendizado. A finalidade do ensino não é a de somente transmitir coisas evidentes, de fácil entendimento: se for para isso, para que professor?


E deu-nos um contraexemplo: um hipotético e “formidável professor” de educação física que nos proporciona uma aula fabulosa, pois ele fica a nossa frente se exercitando enquanto a assistimos, sentados, tomando refrigerante e comendo um lanchinho; e que até podemos ir a essa aula de smoking, porque não suaremos.


Será esse o modelo de professor que nos acostumamos a querer para nossos filhos? A finalidade do professor, nas quase mesmas palavras de da Costa, não é a de ensinar, mas a de criar caso, de criticar, de “chacoalhar o caco” dos alunos e mostrar que as coisas não são tão simples quanto parecem e que sem suor e lágrimas não fazemos nada. Isso vale para todos os níveis de ensino, mas no universitário ou superior é questão de vida ou morte, sobremaneira quando o que se coloca é o educar por meio e para a pesquisa.


Trocando em miúdos, o professor deve ser como os livros assim propagandeados no slogan da Editora Virgília: “Livros que fazem o Tico, o Teco e a turma toda funcionar”. É isso, professor, por os neurônios próprios e os dos alunos pra funcionar!
Santo Agostinho, em De Doctrina Christiana e De Magistro, professou que o mestre também depende do aluno e é incapaz de ensinar em via de mão única: ao professor, cabe apontar a direção, ao aluno segui-la, ou seja, o mestre desperta (o aluno ou algo neste), e não transmite algum conhecimento pensando ensinar.


Os melhores professores que tive criam desconforto em mim até hoje. São eles que direcionaram meu contínuo aprendizado e que me fazem buscar o amadurecimento e sentir que o suor e as lágrimas valem a vida. E também me ensinaram que o conhecimento não é algo pronto e feito por outrem, tal como nuggets ou batatas fritas que compramos numa lanchonete Mac Donald´s. Carece colocar a mão na massa...


Mas pergunto, e bastante preocupado: e os alunos, em qual modelo de professor estão apoiando suas expectativas? Conheço casos nos quais ao invés de ler textos, a preferência recai para resumos e slides, no lugar do aceite de desafios colocados à autonomia e ao autodidatismo para a elaboração de trabalhos chora-se a ausência de receitas prontas... Decerto nem todos entendem algo precioso, e que fora de dúvida cintila quando o assunto é ensinar: como manifestou Goethe, “Esperar de alguém mais do que ele é capaz de dar é ajudá-lo a crescer; esperar apenas o que ele pode efetivamente fazer é diminuí-lo”. Prefiro a primeira atitude. E você, leitor?


* Professor do Departamento de Educação, Informação e Comunicação da FFCLRP-USP. E-mail: sergio.adas@uol.com.br

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