Beber um pouco além da conta, mesmo que não regularmente, também pode fazer o processo de envelhecimento andar mais rápido.
Foto: Jessé Giotti / Agencia RBS
Greyce Vargas/Especial
Uma dose pequena e diária de álcool pode ser encarado como um fator para longevidade. Países que seguem a dieta mediterrânea, por exemplo, que inclui uma taça de vinho todos os dias, têm pessoas que vivem mais e com mais qualidade. No entanto, uma dose além da conta faz com que os benefícios do álcool, especialmente na terceira idade, sejam anulados e os malefícios sejam piores do que nos jovens.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, o álcool causa quase 4% das mortes no mundo todo. Essa porcentagem superar o número de mortes causados pela Aids, por exemplo. Um estudo da Universidade de São Paulo, de 2010, revelou que os idosos brasileiros bebem tanto quanto os jovens. A questão é que a terceira idade é muito mais suscetível ao álcool do que os adultos mais novos. Uma pesquisa publicada no Journal of Studies on Alcohol and Drugs analisou o consumo e os efeitos de bebidas alcóolicas em dois grupos: o primeiro tinha entre 25 a 35 anos e o segundo entre 50 e 74. O grupo da terceira idade demorou em média cinco segundos a mais para fazer os mesmos testes do que os jovens.
Se os reflexos dos mais velhos ficam mais sensíveis, o que dizer do estômago e outros órgãos que já estão em pleno processo de declínio e precisariam de estímulos para protegê-los? Para o cirurgião do aparelho digestivo do Hospital Santa Casa de Porto Alegre, Antonio Carlos Weston, o estômago de quem já passou dos 50 anos produz muito menos a enzima desidrogenase, que é responsável pela metabolização do álcool.
– Quem bebe demais primeiro vê os efeitos no estômago, podendo adquirir uma gastrite. O excesso de álcool pode inflamar a mucosa do órgão e fazer com que, a partir dessa gastrite, a pessoa seja, para sempre, mais sensível a qualquer quantidade de álcool.
A gastrite é um problema até para quem quer tomar aquela única taça de vinho todos os dias, que teoricamente é recomendável. Um gole de bebida alcoólica já pode iniciar a dor.
Além dessa doença, o consumo abusivo de álcool pode fazer com que o refluxo de ácido do estômago siga em direção ao esôfago e iniciar um processo inflamatório chamado esofagite.
– Um em cada cinco brasileiros sofre desse problema, mas nem todos sabem. Começa como uma queimação, depois uma dor na região do estômago de fraca ou baixa intensidade e vai piorando se continuar consumindo álcool – aponta o médico.
Até quem não bebe cotidianamente, mas exagera uma ou duas vezes por semana sofre os riscos do abuso do álcool. Abusar e depender do álcool são conceitos diferentes, mas que causam efeitos bastante nocivos à saúde.
Outro problema que quem bebe aqueles copos a mais pode sofrer em longo prazo estão ligados ao fígado.
– Uma hepatite alcoólica pode aparecer 10 ou 15 anos depois do abuso ou do consumo diário que leva à dependência do álcool. A hepatite é reversível se diagnosticada cedo, mas se não tratada pode se transformar em cirrose. E aí não tem mais volta – aponta o médico.
Um estudo divulgado pelo Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e outras Drogas de Ribeirão Preto, em São Paulo, apontou que o alcoolismo em pessoas acima dos 60 anos amplia em até oito vezes o desenvolvimento de doenças cognitivas como demência e Alzheimer.
– O abuso também está associado a incidência de diversos tipos de câncer e quedas, que são problemas que já aparecem mais na terceira idade.
DIÁRIO GAÚCHO
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