“O VAQUEIRO QUE NÃO SABIA MENTIR”
ERA UMA VEZ UM FAZENDEIRO MUITO RICO. O FAZENDEIRO TINHA DOIS ORGULHOS. PRIMEIRO, SEU BOI BARROSO, O MAIOR, O MAIS FORTE, O MAIS BONITO, O ANIMAL MAIS VALIOSO DE TODA A REGIÃO. SEGUNDO, UM VAQUEIRO QUE TRABALHAVA NA FAZENDA. O MOÇO ERA DE CONFIANÇA. O MOÇO NÃO SABIA MENTIR.
O FAZENDEIRO COSTUMAVA DIZER:
- POR ESSE EU PONHO A MÃO NO FOGO! ESSE SÓ MENTE PRA MIM NO DIA DE SÃO NUNCA!
O POVO CAÇOAVA:
- TODO MUNDO MENTE! VAI ESPERANDO. UM DIA ESSE VAQUEIRO AINDA LHE PASSA A PERNA!
MAS O FAZENDEIRO DISCORDAVA:
-NÃO TEM COMO! CONFIO NELE DEMAIS. TANTO É VERDADE QUE DEIXO MEU BOI DE ESTIMAÇÃO NA MÃO DELE. SÓ AQUELE MOÇO PRA CUIDAR DO BOI BARROSO, O MEU BICHINHO ADORADO, AQUELA JÓIA CHEIA DE CARNE, QUE MUGE, TEM DOIS CHIFRES E QUATRO PATAS.
UM DIA, O FAZENDEIRO VIZINHO, UM SUJEITO MALVADO E INVEJOSO, RESOLVEU ACABAR COM AQUELA HISTÓRIA. FOI VISITAR O OUTRO E VEIO COME ESSA:
-QUER VALER QUANTO? APOSTO UM SACO CHEIO DE DINHEIRO COMO FAÇO AQUELE MOÇO SAFADO CONTAR UMA MENTIRA DA GROSSA.
O FAZENDEIRO NÃO PENSOU DUAS VEZES:
-TÁ APOSTADO! – DISSE, ESTENDENDO A MÃO PARA SELAR O COMPROMISSO.
MAS O TAL VIZINHO TINHA UMA IDÉIA NA CABEÇA. VOLTOU PARA SUA FAZENDA E JÁ FOI CHAMANDO A FILHA. A MOÇA ERA UMA FLOR DE TÃO LINDA.
-VOCÊ VAI ME AJUDAR A FAZER AQUELE DANADO MENTIR.
E CONTOU QUAL ERA O PLANO. A MOÇA FICOU ASSUSTADA:
-PAI! ISSO EU NÃO FAÇO NÃO!
O FAZENDEIRO NÃO ERA DE BRINCADEIRAS. MANDOU A FILHA FAZER E PRONTO. A MOÇA GRITOU:
- NÃO VOU!
O FAZENDEIRO INSISTIU. E A MOÇA:
-NÃO QUERO!
MAS AQUELE FAZENDEIRO ERA MAU. TANTO FALOU, TANTO FEZ, TANTO BATEU, TANTO MALTRATOU QUE A FILHA, NO FIM, NÃO TEVE JEITO.
E ASSIM FOI.
UM DIA, O VAQUEIRO QUE NÃO SABIA MENTIR ESTAVA LONGE, NO PASTO, TOMANDO CONTA DO BOI BARROSO, QUANDO A MOÇA APARECEU.
VEIO TODA CHEIROSA, USANDO UM VESTIDO DE FLORES DO CAMPO.
O VAQUEIRO ACHOU A MOÇA MUITO BONITA.
-VAQUEIRO, PRECISO FALAR COM VOCÊ!
E A MOÇA, FAZENDO O QUE O PAI TINHA MANDADO, DISSE QUE GOSTAVA DO MOÇO.
O VAQUEIRO ESTRANHOU.
- A GENTE NEM SE CONHECE!
A MOÇA CHEGOU PERTO. NAQUELE DIA, OS DOIS SÓ CONVERSARAM.
PASSOU O TEMPO.
A MOÇA APARECEU DE NOVO. VEIO TODA CHEIROSA, USANDO UM VESTIDO DE CONCHAS DO MAR.
O VAQUEIRO ACHOU A MOÇA MUITO LINDA.
-VAQUEIRO, PRECISO FALAR COM VOCÊ!
E A MOÇA, FAZENDO O QUE O PAI TINHA MANDADO, DISSE QUE NÃO CONSEGUIA TIRAR O MOÇO DA CABEÇA.
O VAQUEIRO FICOU SEM JEITO, MAS GOSTOU.
A MOÇA CHEGOU MAIS PERTO. NAQUELE DIA, OS DOIS SE ABRAÇARAM.
PASSOU O TEMPO.
A MOÇA APARECEU DE NOVO. VEIO TODA CHEIROSA, USANDO UM VESTIDO DE ESTRELAS DO CÉU.
O VAQUEIRO ACHOU A MOÇA MAIS LINHA DO QUE TUDO.
- VAQUEIRO, PRECISO FALAR COM VOCÊ!
E A MOÇA, FAZENDO O QUE O PAI TINHA MANDADO, DISSE QUE QUERIA NAMORAR O MOÇO.
O VAQUEIRO JÁ ESTAVA APAIXONADO PELA MOÇA.
NAQUELE DIA, OS DOIS NAMORARAM O DIA INTEIRO.
NA DESPEDIDA, FAZENDO O QUE O PAI TINHA MANDADO, A MOÇA PEDIU:
-AGORA QUERO UMA PROVA DE AMOR!
OS OLHOS DO VAQUEIRO BRILHARAM.
-POR VOCÊ MOÇA, EU FAÇO TUDO!
A FILHA DO FAZENDEIRO SEGUROU O MOÇO PELOS OMBROS:
-ENTÃO MATE O BOI BARROSO!
O RAPAZ ESTREMECEU.
- MAS O BARROSO VALE OURO! – DISSE ELE. – É O MAIOR, O MAIS FORTE, O MAIS BONITO, O MAIS VALIOSO ANIMAL DE TODA A REGIÃO. PEÇA OUTRA COISA, MOÇA BONITA! PEÇA TUDO, MENOS ISSO!
MAS A MOÇA SÓ QUERIA SABER DO BOI.
-O BOI BARROSO É O XODÓ DO MEU PATRÃO!- GRITOU O VAQUEIRO.
A MOÇA POR DENTRO CHORAVA. MAS POR FORA FICOU FIRME:
- É POR ISSO MESMO! – DISSE ELA. – ESSA VAI SER A PROVA DE SEU AMOR!
O MOÇO EXAMINOU A MOÇA E BALANÇOU A CABEÇA. DEPOIS, PUXOU A PEIXEIRA DA CINTA E MATOU O BOI BARROSO ALI MESMO.
A MOÇA FOI EMBORA. CHEGOU EM CASA CHORANDO. CONTOU TUDO PARA O PAI.
O MALVADO CAIU NA GARGALHADA. NO OUTRO DIA, FOI VISITAR A FAZENDA DO VIZINHO, JÁ CHEGOU CAÇOANDO:
-CADÊ MEU SACO DE DINHEIRO?
O OUTRO NÃO ENTENDEU:
-COMO É QUE É ISSO?
E O RECÉM-CHEGADO:
-VIM COBRAR MINHA APOSTA, UÉ!
O FAZENDEIRO ESTRANHOU.
-COBRAR A TROCO DE QUÊ?
E O MALVADO:
-POIS CHAME O TAL VAQUEIRO DE SUA CONFIANÇA.
O FAZENDEIRO MANDOU CHAMAR. O MOÇO VEIO DE CABEÇA BAIXA E CHAPÉU NA MÃO.
O FAZENDEIRO MALVADO SÓ RIA:
- DIGA A ELE, VAQUEIRO. CONTE QUE FIM LEVOU O FAMOSO BOI BARROSO.
O FAZENDEIRO MALVADO ACHAVA QUE O VAQUEIRO QUE NÃO SABIA MENTIR DESSA VEZ IA MENTIR, MAS O VAQUEIRO, PUXANDO UMA VIOLA, CANTOU:
EU ESTAVA NO MEU CANTO
UMA FLOR SAIU NO CHÃO
CRESCEU E FEZ UM PEDIDO
QUE RASGOU MEU CORAÇÃO
PEDIU QUE EU MATASSE O BOI
AQUELE BOI FABULOSO
AQUELE BICHO JEITOSO
O FAMOSO BOI BARROSO
EU DISSE QUE NÃO PODIA
ELA DISSE QUE QUERIA
EU DISSE EU NÃO DEVIA
ELA FEZ QUE NÃO ME OUVIA
E DISSE MAIS, MEU SENHOR.
VEIO PRA PERTO E FALOU
QUERIA SENTIR FIRMEZA
CERTEZA DO MEU AMOR
EU AMAVA DE VERDADE,
SENTIA AMOR PRA VALER
MAS SE O AMOR É INVISIVEL
O QUE É QUE EU POSSO FAZER?
PRA PROVAR QUE ELE EXISTIA
MOSTRAR QUE TAMANHO TINHA
COMETI UMA MALDADE
FOI CRIME, FOI CULPA MINHA
EU MATEI O BOI BARROSO
AQUELE BOI AMOROSO
AQUELE BICHO MANHOSO
AQUELE BOI PRECIOSO
FIZ LOUCURA AQUELA HORA
POR ESTAR APAIXONADO
SE ERREI, EU PAGO AGORA
MEREÇO SER CASTIGADO!
O DONO DO BOI FICOU LOUCO DA VIDA:
-MATARAM MEU BOI BARROSO!
O VIZINHO FICOU DE QUEIXO CAÍDO:
-O DANADO NÃO MENTIU!
FOI QUANDO SURGIU A MOÇA. VEIO TODA CHEIROSA, USANDO UM VESTIDO BRANCO. PEDIU A PALAVRA. DISSE QUE ESTAVA ARREPENDIDA, CHOROU. CONTOU A VERDADE. GRITOU. DISSE QUE TINHA FEITO TUDO OBRIGADA PELO PAI.
AO OUVIR ISSO, O VAQUEIRO QUE NÃO SABIA MENTIR FICOU TRISTONHO.
MAS A MOÇA CONTINUOU.
CONFESSOU QUE TANTO VEIO, TANTO FOI, QUE ACABOU GOSTANDO DO VAQUEIRO. DISSE QUE AGORA ESTAVA APAIXONADA E QUERIA CASAR COM ELE.
E ASSIM ACABOU ESSA HISTÓRIA.
O FAZENDEIRO MALVA DO PAGOU A APOSTA E FOI EXPULSO DA FAZENDA, PROMETENDO DEIXAR SUA FILHA CASAR COM O VAQUEIRO.
O DONO DO BOI BARROSO ACABOU PERDOANDO O RAPAZ, RECONHECEU SEU VALOU E AINDA DEU A ELE, DE PRESENTE DE CASAMENTO, O SACO DE DINHEIRO GANHO NA APOSTA.
O VAQUEIRO QUE NÃO SABIA MENTIR E A MOÇA BONITA SE CASARAM LOGO DEPOIS NUMA FESTANÇA QUE DUROU MUITOS DIAS E MUITAS NOITES.
LIVRO: BAZAR DO FOLCLORE DE RICARDO AZEVEDO
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