UM MENINO NO CÉU
Gilbamar de Oliveira Bezerra
No meu tempo de menino
já tantos anos lá se vão
um fato interessante
de surpreender multidão
só comigo aconteceu
e conto logo como se deu
para acalmar seu coração
Eu tinha uns doze anos
gostava muito de sonhar
abraçado aos meus livros
só pensando em versejar
meu pensar tudo podia
e imagine a fantasia
que me animava: voar!
Eram devaneios infantis
projetos mirabolantes
desejos assustadores
dali então por diante
sonhava sempre voando
todo povo admirando
esse momento marcante
Lá no céu todo garboso
aos amigos acenando
eu vencendo a gravidade
jovem sem asas planando
acordava sorridente
para depois, subitamente,
ver que estava sonhando
Mas criança não esquece
por ser sonho ardente
mesmo que o mundo se queime
corre atrás persistente
nisso pensa todo dia
pois voar é o que eu queria
e só depois ficar contente
Lógico, tal criancice
jamais contei para ninguém
ririam de minha cara
esse era o forte porém
por isso fiquei sozinho
a pensar nisso com carinho
sem a simpatia de alguém
Num incerto amanhecer
quando eu menos esperei
andando de bicicleta
repentinamente voei.
Já não estava mais no chão
como puxado pela mão
de um anjo cujo não sei
Então, todo serelepe,
como ave eu voava
feliz, faceiro, sorrindo
a bicicleta pedalava
com a rapidez do gavião
tranquilo feito avião
alcei-me ao céu sem asa
A princípio, surpreendi-me
sonho ou realidade?
Meu coração logo falou:
"relaxe, veja a cidade
aproveite a ocasião
vá no sonho, deixe a razão
voa, tens essa capacidade"
Quanto mais força botava
ainda mais eu subia
os pedais da bicicleta
eram as asas, e eu via
as pessoas me olhando
as meninas suspirando
e mais para cima eu ia
Formou-se uma multidão
apontando para cima
passei por um fazenda
colhendo laranja-lima
algumas aves, perplexas,
em atitudes complexas
me ajudaram na rima
As nuvens me envolveram
sorrindo, o sol me acenou
um avião que passava
quase comigo trombou
foi então, subitamente,
nada mais que de repente
que minha mãe me acordou
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