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PENSE NISSO:

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segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Reflexos do golpe militar.

Por Mariza Magalhães 
Quando o golpe militar aconteceu em 1964, algumas pessoas pensavam que aquela situação seria passageira. No entanto, ele veio com as mesmas características dos demais, ou seja, foi feito na “calada” da madrugada. Quando a população acordou os militares já estavam no poder. Era necessário que a população se organizasse para retirá-los do poder. 
A história mostra que a direita sempre foi mais organizada do que à esquerda, por isso, quando os militares assumiram criaram os famosos Atos Institucionais, mais conhecidos como Ais. Com os Atos Institucionais chegaram também as perseguições e torturas. Foi aí que os presos políticos sentiram o Ai literalmente, a dor. 
Todos os Ais afetaram a sociedade brasileira, porém o AI-5 foi mais desumano, deixando grandes sequelas  físicas e psicológicas na sociedade. 
O AI 5 foi instalado no Brasil, durante o governo de Arthur da Costa e Silva, publicado em 13/12/1968, que lhe concedia o direito de pôr em recesso o Congresso Nacional, decretar intervenção em Estados e municípios, suspender direitos políticos, proibir manifestações sobre assuntos políticos, suspender a garantia do Habeas-corpus. 
Este ato deu a Costa e Silva e a seus sucessores, durante os dez anos de sua vigência, poderes absolutos. A censura à imprensa tornou implacável. 
Os assuntos cortados não eram substituídos por notícias inócuas e sim por poemas épicos. Tinham preferência pelos “Lusíadas” de Luís de Camões. Notícias de prisões, torturas e desaparecimentos não podiam ser publicadas. 
Nas mãos dos censores textos e imagens, movimentos eram proibidos por apresentar conteúdos - no entender dos burocratas a quem se delegara o poder de julgar – subversivo ou imoral. Alguns autores tornaram-se vítimas preferenciais. O compositor Chico Buarque de Holanda foi obrigado a criar um personagem, ao qual deu o nome de Julinho da Adelaide. Um mesmo samba, enviado a julgamento sob o nome de Chico Buarque era vetado, assinado por Julinho da Adelaide, passavam sem corte. 
A repressão que calou vozes e tirou de cena liderança política e administrativa nascente, criou um vazio que tornou cinzento os anos seguintes - até os dias atuais estamos lutando para resgatar os valores perdidos como as organizações estudantis, sindicatos e até a Igreja Católica. 
Foi diante dessa situação que muitos estudantes, sindicalistas e religiosos optaram em lutar contra o governo militar, enfrentando o AI-5. Alguns foram presos, torturados física e psicologicamente, outros morreram dentro dos porões da ditadura. Alguns foram exilados, outros se auto-exilaram. Alguns preferiram viver na clandestinidade lutando para derrubar o regime militar instaurado em 1964. 
E é dentro desse contexto que vamos encontrar Marighella e os freis dominicanos. 

OS FREIS DOMINICANOS VOLTADOS ÀS QUESTÕES SOCIAIS 
A década de 1960 foi marcada por movimentos sociais: sindical, popular, alfabetização rural e urbana. A igreja católica foi um dos espaços escolhidos para a mobilização e reunião dos movimentos, os leigos estavam presentes nesta atuação e junto a eles os religiosos. 
No início de 1960 realizaram mudanças significativas nas nações capitalistas e socialistas. E as ideologias estariam se estabelecendo e dominando nações, frágeis. No continente americano, com exceção de Cuba, todas as nações estavam unidas ao sistema político econômico capitalista, representado pelos Estados Unidos. 
Com medo que países da América Latina seguissem o exemplo cubano, os Estados Unidos fixaram diretrizes para gerir as relações continentais, sentindo-se no direito de invadir e mandar ajuda militar aos países que se sentiam ameaçados por uma invasão comunista. 
No interior desse contexto os grupos políticos, sociais, econômicos e religiosos que faziam oposição à política norte americana voltam-se com mais atenção para os movimentos políticos, liderados por sujeitos mais comprometidos com as questões sociais. 
Se de um lado encontramos nações capitalistas preocupadas com as mudanças dentro do seu universo político, do outro vamos encontrar o mundo religioso também preocupado com o avanço do comunismo e conseqüentemente a perda de fiéis. Preocupado com essas mudanças políticas o papa João XXIII convocou o Concílio Vaticano II. 
O mundo havia evoluído econômica, cultural, política e cientificamente. O papa sabia que a Igreja deveria acompanhar esse progresso, e manter suas portas abertas para esclarecer, através de palestras, documentos, discussões e reuniões, os cristãos e os leigos afastados do convívio religioso 
É dentro dessa conjuntura que encontramos alguns religiosos dominicanos preocupados com a situação social do Brasil. A preocupação desses religiosos estava voltada para as atuações sociais. Eles se unem aos injustiçados, que não precisavam só do pão mas também da farinha e do trigo. 
Os jovens dominicanos acreditavam que viver o evangelho era integrar-se à comunidade através de práticas sociais, e para isso tornar-se necessária atuarem dentro da sociedade com participações sociais, políticas e econômicas. Essa nova visão de evangelizar foi influenciada pelo Concílio Vaticano II. Esse grupo de dominicanos foi iluminado pelos ensinamentos filosóficos e teológicos da linha humanista francesa e também pelos discursos realizados dentro co Concílio Vaticano II. 
Esses jovens dominicanos também tiveram participações em movimentos sociais como a Ação Católica, a Ação Popular e também na Juventude Universitária Católica. Após o golpe militar de 1964 esses movimentos foram enxergados como laboratórios de idéias comunistas, os seus participantes perseguidos pelo regime militar. 
Porém, os jovens dominicanos continuaram participando e atuando em movimentos sociais. Foram apoiados pelas mudanças sociais que a igreja católica anunciava. Era a igreja dos pobres, a igreja dos excluídos. A população carente encontrou nessa igreja a sua voz. A igreja preocupada com as questões sociais, a igreja progressista, não agrada aqueles que estavam apoiando o regime militar. 
Não eram só os dominicanos que apoiavam os necessitados, D. Helder Câmara também os amparava. D. Helder dizia que ” quando dou pão aos pobres, chamam-me de santo, quando pergunto pelas causas da pobreza, me chamam de comunista”. 

QUEM FOI MARIGHELLA 
Marighella nasceu em Salvador – na Bahia – em 5 de dezembro de 1911. Em 1932 ingressou na Juventude Comunista, em 1937 já participava do PCB, foi preso três vezes e entrou na clandestinidade sempre que os parlamentares comunistas foram cassados. 
Em 1967 rompe com o PCB e funda a Ação Libertadora Nacional – ALN – e dá início a luta armada contra a ditadura militar. 
Setembro de 1969 ALN e MR-8 seqüestram o embaixador norte americano – Charles Elbrick, que é trocado por 15 presos políticos. 4 de novembro do mesmo ano Marighella é assassinado na Alameda Casa Branca, em São Paulo pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury. 
UNIÃO MARIGHELLA E DOMINICANOS 

A opção dos dominicanos pela ALN foi feita pelo frei Oswaldo Resende, em fevereiro de 1968 que convidou os demais para participarem da organização. 
Unir-se a Marighella era um desejo de colocar em prática todo o conhecimento que obtiveram das aulas teóricas, apresentadas por Congar, Chenu, Cardonnel e frei Carlos Josaphat. 
Foi essa simbiose que aproximou os dominicanos de uma organização de esquerda. Essas idéias deveriam ser propagadas em espaço protegido, que não chamasse a atenção de grupos institucionalizados e que tivesse a participação do povo. 
Por pensarem diferente, os freis são vistos como sujeitos “perigosos” . A perseguição aos freis dominicanos conjugados aos ideais da Ação Libertadora Nacional, tinha por objetivo desmoralizar a igreja católica progressista e aprisionar Marighella. 
A desmoralização foi apresentada à sociedade civil como sendo os dominicanos progressistas comunistas, um mal que deveria ser extirpado da sociedade religiosa e civil, prender Marighella era a satisfação do dever cumprido.
Em 2/11/1969, os freis Fernando e Yvo são presos no Rio de Janeiro, em uma ação conjunta com as polícias do Rio de Janeiro (CENIMAR) e São Paulo (DOPS). 
Quando os freis foram presos, alguns policiais invadiram suas casas e se apropriaram de objetos que comprometiam a vida deles. O primeiro objeto procurado foram as cadernetas de anotações. Através delas os policiais chegavam a outras pessoas ligadas direta ou indiretamente na rede da ALN. 
Após a prisão, os freis ficaram incomunicáveis. A ordem dominicana não podia se manifestar, as informações eram transmitidas pelos órgãos oficiais do governo. A incomunicabilidade foi rompida em 21 de novembro de 1969. 
Carlos Marighella foi assassinado na alameda Casa Branca nº 800, no dia 4 de novembro de 1969. No momento do assassinato um clássico estava acontecendo no Pacaembu; Santos x Corinthians. No 2 º tempo de jogo os altos falantes do estádio anunciam a morte do líder comunista. Os policiais denunciam os dominicanos como delatores, era uma maneira de colocarem os religiosos contra a sociedade. Hoje a história mostra que os freis foram barbaramente torturados para denunciarem Marighella.

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