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PENSE NISSO:

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terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Horário de verão: mocinho ou vilão?

Há quem goste e há quem reclame. O fato real é que não há um consenso sobre o horário de verão.

A maioria, no entanto, concorda em um ponto: não é fácil se acostumar quando os relógios adiantam 1 hora. Parece pouco, mas não é. Principalmente na hora de levantar.

Temos um relógio interno que nos indica o andamento do tempo. Nosso organismo tem a incrível capacidade de se organizar de acordo com este tempo biológico. Sentimos fome com mais intensidade na hora do almoço e do jantar. O corpo pede para dormir à noite, geralmente na mesma hora, e nos acorda quando se sente suficientemente recuperado. Este tempo biológico gosta da rotina. Mais que isso: acostuma-se com a rotina. Assim, tendemos a acordar sempre na mesma hora.

Não é fácil acostumar-se a levantar uma hora mais cedo. Também não é fácil ir para a cama e dormir 1 hora mais cedo. O relógio biológico não tem a capacidade de mudar de uma hora para outra, literalmente. É mais lento. Leva uma média de 3 a 5 dias para se adaptar à nova rotina.

Até lá, veja quais são as dicas para facilitar sua vida sem ficar exausto e pouco produtivo no dia seguinte:

- Almoce e jante meia hora mais cedo que o habitual. Isso ajuda o corpo a entender que a rotina está mudando. Evite “beliscar” fora de hora. Isso é muito importante, pois o horário da alimentação ajuda a determinar o ritmo biológico.

- Coma leve nesta primeira semana. Muitas frutas, legumes e verduras. Peixe, frango ou carne, de preferência grelhados. Pouca fritura, massas ou doces. No almoço, esta orientação ajuda a evitar aquele “soninho” irresistível e fora de hora, ao longo do dia. À noite, comer leve é fundamental para que você tenha um sono mais tranquilo e profundo. Isso é decisivo na hora de acordar.

- Vá para a cama meia hora mais cedo que o habitual. Mesmo que você não esteja com sono. Tome um banho morno e rápido, apenas para relaxar, coloque um pijama leve e confortável e se deite. Evite eletrônicos na cama. TV inclusive. A luz que incide nos olhos dificulta a chegada do sono e desperta as emoções que precisam acalmar. Leia algo leve ou ouça uma música sossegada. Quando você menos esperar, o sono bate à porta.

- Quando o despertador tocar no dia seguinte, evite aquela “soneca” de mais alguns minutos. Esta soneca às vezes nos deixa mais cansados ainda. Não relaxa. Não descansa. Só nos lembra que temos que levantar. Por isso saia logo da cama e comece seu dia.

Dê tempo ao seu relógio biológico. Ele vai se acertar.
*Foto: Marcos Estrella/TV Globo.

http://g1.globo.com/bemestar/blog/doutora-ana-responde/3.html

Leite de vaca faz mal para bebês? Tire as suas dúvidas.

Você sabe se bebês podem tomar leite de vaca? E as mães que estão amamentando e tem que voltar a trabalhar? Fórmula infantil tem leite de vaca embutido?

Muitas dúvidas importantes. E muito mais corriqueiras do que se pode imaginar.

Todos sabem que o melhor alimento para os bebês é o leite materno. É uma fórmula única, perfeita e adequada para todas as necessidades do pequeno que cresce e se desenvolve com uma rapidez e agilidade impressionantes. Até os 6 meses de idade recomenda-se leite materno exclusivo. Nem água é necessária, dado que o próprio leite já tem uma quantidade de água suficiente para hidratar perfeitamente o bebê.

Tudo certo. Ou nem tanto assim, porque um problema sério surge ao redor do quarto ou quinto mês: a licença gestação acaba e muitas mães devem voltar a trabalhar antes. A questão é inevitável: qual leite dar para os bebês? Vale tirar o leite, congelar e armazenar? Dura quanto tempo? E a fórmula?

Vamos entender. As mães que produzem bastante leite podem e devem retirar o excesso e congelar, em recipientes apropriados. Podem retirar o leite, inclusive, nos intervalos do trabalho. O leite materno congelado dura mais ou menos 15 dias no congelador, sem perder suas propriedades mais importantes. Então, quando as mães voltam a trabalhar, podem dar o peito sempre que puderem e nos intervalos os bebês recebem o leite estocado. 

No entanto, se a produção de leite diminuir, as fórmulas infantis são o substituto indicado. A base destas fórmulas é o leite de vaca. Só que a indústria promove modificações importantes e essenciais para adequar sua composição às necessidades nutricionais do bebê. Por isso as chamamos de “fórmulas infantis”. Portanto, bebês com menos de 1 ano de idade não devem receber o leite de vaca integral, pois eles contem concentrações de alguns nutrientes, principalmente de proteínas, que não são interessantes para o organismo do pequeno bebê.

Voltar a trabalhar não significa desmamar seu filho. Cada mãe tem um horário e uma rotina diferente. Estabeleça o esquema mais adequado e confortável para você e para seu filho e mantenha, o máximo que puder, o leite materno que é, de longe, o melhor!

*Foto: Reprodução/TV Anhanguera

http://g1.globo.com/bemestar/blog/doutora-ana-responde/post/leite-de-vaca-faz-mal-para-bebes-tire-suas-duvidas.html

Envie suas dúvidas sobre o consumo de soja.



Você já ouviu alguém dizer que soja tem hormônio? Esta informação procede? Homens podem ingerir soja? Deixe as suas dúvidas na caixa de comentários. Vamos esclarecer alguns mitos e verdades sobre esse importante grão na próxima coluna.

Foto: Reprodução/TV Globo

http://g1.globo.com/bemestar/blog/doutora-ana-responde/post/envie-suas-duvidas-sobre-o-consumo-de-soja.html

Soja é hormônio feminino? Homens podem consumir? Tire suas dúvidas



Homens e meninos devem evitar o consumo de soja por causa de hormônios feminilizantes? Esta informação, de fato, procede? Vamos entender.

A soja é um alimento altamente nutritivo. Contém, entre vários componentes, proteína, carboidratos e gordura boa, que ajuda a reduzir os níveis de colesterol. 

Além disso, é capaz de sintetizar um componente importante, que se chama isoflavona, que é um fitoestrogênio. O que isso significa? Simples: fitoestrogênio é um produto de origem vegetal que tem a estrutura química muito parecida com a do estrogênio, que é o hormônio feminino, produzido pelos ovários das mulheres. 

A molécula da isoflavona, portanto, é química e estruturalmente muito semelhante ao estrogênio. Mas não é o próprio estrogênio. Importante saber que para que os hormônios possam funcionar corretamente, eles tem que “grudar” em seus receptores específicos nas células. O estrogênio tem um receptor que é só dele. O temor, portanto, é que a isoflavona, por ser muito parecida com o estrogênio, seja capaz de aderir ao seu receptor e provocar os efeitos semelhantes ao deste hormônio feminino, como o aparecimento de seios, por exemplo. Só que não é bem assim que acontece na prática.

Vários estudos demonstraram que homens e crianças podem consumir a soja ou derivados sem receio. Nos homens, não se constataram quaisquer alterações na fertilidade ou na produção de hormônios masculinos. Ao contrário, algumas pesquisas observaram que a isoflavona poderia ter efeitos benéficos no sentido de proteger contra o câncer de próstata. Nas crianças, também não houve quaisquer evidências de comprometimento do crescimento ou desenvolvimento, e nem do surgimento de características do corpo feminino.

As pesquisas apontam, portanto, que o consumo diário da soja é seguro. Claro que todo alimento deve ser consumido com moderação e sem exageros. Inclusive os saudáveis como a soja. Também é importante, claro, variar a alimentação todos os dias para que possamos aproveitar ao máximo as qualidades nutritivas específicas de cada um.

A soja é um alimento seguro e saudável. Evite a monotonia alimentar e tenha muita saúde!

*Foto: Reprodução/TV Grande Rio

http://g1.globo.com/bemestar/blog/doutora-ana-responde/2.html

Por que tantas crianças têm virose? Tem tratamento?


As crianças vão ficando mais quietas, irritadiças, choram à toa e sem motivo, desistem de brincar. Pais observam os filhos e notam que os pés e as mãos estão mais frios, a boca mais esbranquiçada, o rosto pálido, olhos caídos e o corpo mais quente. Colocam o termômetro e confirmam: febre. E muitas vezes constatam o que os deixa mais aflitos ainda: febre alta, acima de 39°C. 

A febre é sempre um sinal de alerta. O organismo está nos avisando que algo não vai bem. Na maioria das vezes, a febre significa uma infecção. Isto quer dizer, portanto, que um microrganismo invadiu a criança e lá encontrou ambiente propício para se proliferar e produzir uma doença. 

Seja como for, imediatamente após a constatação da presença da febre, uma série de perguntas pertinentes colonizam e afligem o pensamento dos pais: qual doença será esta? Grave? Potencialmente fatal? Qual é o procedimento agora? Ligar para o pediatra? Correr para um pronto-socorro? Dar antitérmico? Muitos fazem tudo isso, quase ao mesmo tempo. Correm para o pronto-socorro enquanto dão o antitérmico que o pediatra, para quem já ligaram do carro, orientou.

As crianças são devidamente examinadas pelo médico e recebem o diagnóstico: é virose! Alguns pais já entram no consultório dizendo: “Doutor, não me vá dizer que é virose de novo”. 

E, de fato, é virose! Mas afinal de contas, o que é esse diagnóstico que serve para quem tem sintomas tão diferentes como, por exemplo, tosse e nariz escorrendo, ou dor de cabeça, ou diarreia e vômitos, ou pintas vermelhas pelo corpo, ou lesões na boca, ou ainda dor de garganta. Tudo pode ser virose? 

Vamos entender. Vírus são microrganismos infinitamente pequenos. Menores que as bactérias, que são células inteiras com uma estrutura bem definida. Os vírus não têm nem a estrutura de uma célula. Tanto que para se multiplicar precisam invadir uma célula para utilizar todo o seu “maquinário”, toda a sua estrutura. Sem penetrar e destruir células os vírus não conseguem se multiplicar.

E há vários tipo de vírus. Muitos mesmo. Há vírus que atacam mais o sistema digestório, como o Rotavírus, para o qual já há vacina disponível na rede pública. Outros preferem o trato respiratório, como o H1N1, que dá a gripe que todos conhecemos, outros produzem bolinhas pelo corpo e eventualmente na boca. Cada tipo de vírus, portanto, tem preferência por um sistema orgânico. Só que para saber exatamente qual é o nome do vírus que naquele momento é o responsável pela febre, precisaríamos fazer muitos exames de sangue, o que nem sempre é indicado, uma vez que a maioria das doenças virais são autolimitadas e benignas.

Por isso, o diagnóstico tão comum: virose. E o responsável por aquele episódio específico é, mesmo, um vírus. Isso porque o médico tem condições de saber, na maioria das vezes, se mais provavelmente aquela febre deve-se a um vírus ou a uma bactéria. 

O problema é que para a maioria das infecções virais não há tratamento específico. Antibióticos não funcionam para doenças de causa viral. Só têm efeito terapêutico contra as bactérias.

Paralisia infantil, rubéola, caxumba, sarampo, catapora, hepatite A e B e rotavírus. São todas “viroses”. Só que para estas há vacinas, disponíveis na rede pública, que são, de longe, a melhor e mais eficaz forma de prevenção.

Vacine seu filho! Esteja SEMPRE com a carteira vacinal em dia e fique atento às campanhas. Previna-se!

*Fotos: Eliete Marques/G1; Jupiterimages BananaStock; Reprodução/TV Tapajós.

http://g1.globo.com/bemestar/blog/doutora-ana-responde/post/por-que-tantas-criancas-tem-virose-tem-tratamento.html

Vitaminas abrem o apetite? O excesso delas faz mal?

Vitaminas são nutrientes essenciais para o nosso organismo. Não vivemos sem elas. Não podem faltar. Mas também não devem estar em excesso. Nesses dois extremos, hipovitaminoses (carência) ou hipervitaminose (excesso), pode haver sintomas desconfortáveis ou doenças específicas.

A falta de vitamina A, por exemplo, pode causar alterações visuais importantes que começam com um sintoma desconfortável: a cegueira noturna, caracterizada pela dificuldade em enxergar na penumbra. Pode evoluir para olhos muito secos, úlcera e necrose da córnea. O excesso de vitamina A, por outro lado, pode causar sintomas como sonolência, irritabilidade, cefaleia ou vômitos. As crianças pequenas podem apresentar as moleiras abauladas. Pode ocorrer até hipertensão intracraniana.

Sintomas importantes podem ocorrer, portanto, com falta ou excesso de todos os tipos de vitaminas. Por isso, o equilíbrio é fundamental.

Importante saber: a única vitamina que produzimos é a vitamina D. Todas as outras devem ser ingeridas. Isso mesmo. Nosso organismo não fabrica vitaminas. Só a D, e com a ajuda do Sol incidindo diretamente na pele. A fonte de todas as vitaminas está numa alimentação equilibrada e saudável. Frutas, vegetais e legumes são os campeões das vitaminas. A variação diária é muito importante, para garantir a ingestão de todos os tipos de vitaminas necessários à vida.

Quem come saudavelmente, portanto, não tem necessidade de suplementos vitamínicos em cápsulas ou na forma de xaropes. Ao contrário, esses produtos podem até fazer mal para o organismo que não tem deficiência. Essas vitaminas são medicamentos. Exatamente por isso é que só devem ser consumidas com a devida prescrição médica.

Vitaminas não abrem o apetite. Apenas ajudam as células a executar eficientemente suas funções. Claro que pessoas que trabalham demais, são estressadas ou comem mal podem estar mais propensas às carências nutricionais. Quando repõem as vitaminas, a vida fica muito melhor. Comem mais e, por isso, engordam mais.

Equilíbrio é fundamental. Inclusive pra consumir nutrientes fundamentais para nosso organismo.

http://g1.globo.com/bemestar/blog/doutora-ana-responde/2.html

Conheça diferentes tipos de pernilongos e saiba como proteger bebês e crianças


O verão está chegando. E os pernilongos também, de todos os tipos. Duas espécies deles nos preocupam mais: o Aedes aegypti (foto ao lado), que é o transmissor de duas viroses potencialmente graves, que são a dengue e a febre Chikungunya, e o pernilongo doméstico, chamado de Culex quinquefaciatus, ou simplesmente Culex, como é mais conhecido, que também pode transmitir algumas doenças.

Esses dois tipos de pernilongos são diferentes, tanto na aparência quanto nos hábitos. E é muito fácil e importante saber diferenciá-los. Esta informação pode ajudar se, nos dias subsequentes, as pessoas apresentarem sintomas como febre, dores pelo corpo, manchas ou bolinhas vermelhas e inchaços. 

O Aedes é escuro e tem o corpo e as patas rajados de branco. O Culex (foto abaixo) é marrom, tem as pernas bem afiladas e nenhuma manchinha branca pelo corpo. O Aedes bota seus ovos em água limpa e tem hábitos notadamente diurnos. O Culex é bem menos exigente. Coloca seus ovos em quaisquer tipos de água (suja, inclusive) e é um mosquito noturno. São diferentes, mas causam muito transtorno, e há que se ter cuidado com os dois. 

O Culex é uma espécie essencialmente urbana e cosmopolita, isto é, presente em todas as regiões do mundo. No final da tarde, um verdadeiro exército voador entra zumbindo nas casas desprotegidas. Não poupam nenhum ambiente, muito menos o quarto dos bebês ou das crianças pequenas. Ficam escondidos atrás de cortinas, embaixo das mesas ou nas estantes e trocadores, esperando que a luz se apague para atacar. 

Interessante saber que os Culex são atraídos pelo gás carbônico que eliminamos durante a respiração. Por isso é que eles chegam perto do nosso rosto, zumbindo em nossas orelhas – prontos para picar. 

No dia seguinte, exibimos a consequência física do ataque, com inúmeras bolinhas vermelhas espalhadas pelo corpo. Coçam muito. De tanto coçar, podem-se infectar com bactérias da pele. Algumas pessoas, crianças, principalmente, têm alergia à sua picada. Fazem uma lesão conhecida por estrófulo, que se caracteriza pelo aparecimento de várias bolinhas vermelhas pelo corpo, semelhantes às da picada. 

O mais importante é evitar todo este ciclo e se proteger dos pernilongos. Confira três dos principais métodos que podem ser usados para proteger todos, principalmente bebês e crianças:

- Mosquiteiros
Use-os principalmente nos berços e camas dos pequenos. São a forma mais inócua, eficiente e segura de proteger as crianças (e os adultos) em especial das picadas do Culex, que ataca quando todos estão dormindo.

- Telas protetoras nas janelas
São eficientes para evitar que os pernilongos entrem. No calor são interessantes, pois permitem a entrada de ar.

- Repelentes de tomada
Podem ser utilizados, idealmente a 2 metros de distância das pessoas.

Proteja-se de todos os que podem invadir sua casa. Afinal, pernilongos também podem ser mortais.

*Fotos: USDA/AP; Wikimedia Commons

http://g1.globo.com/bemestar/blog/doutora-ana-responde/post/conheca-diferentes-tipos-de-pernilongos-e-saiba-como-proteger-bebes-e-criancas.html

Podemos comer um ovo por dia sem prejudicar a saúde? Mande dúvidas Quaresma faz aumentar procura e venda de ovos.Podemos comer um ovo por dia sem prejuízo para a saúde cardiovascular? Há muitas pesquisas e informações, por vezes até contraditórias, sobre os efeitos do consumo de ovo no organismo. Afinal de contas, ele é mocinho ou vilão? Mande suas dúvidas e vamos conversar sobre isso. (Foto: Reprodução/EPTV)

Podemos comer um ovo por dia sem prejuízo para a saúde cardiovascular?

Há muitas pesquisas e informações, por vezes até contraditórias, sobre os efeitos do consumo de ovo no organismo. Afinal de contas, ele é mocinho ou vilão?

Mande suas dúvidas e vamos conversar sobre isso.

(Foto: Reprodução/EPTV)


http://g1.globo.com/bemestar/blog/doutora-ana-responde/post/posso-comer-um-ovo-por-dia-sem-prejudicar-saude.html

Saúde e físico determinam quantos ovos você pode comer por dia


O ovo é um alimento altamente nutritivo. Porém, durante muito tempo ficou em segundo plano nas indicações e preferencias nutricionais, uma vez que seu consumo associou-se à maior possibilidade de hipercolesterolemia – o popular “colesterol alto”.

No entanto, nos últimos anos houve uma mudança conceitual importante. O ovo fez um “upgrade” significativamente interessante, ganhou o honroso título de “saudável” e atualmente é consumido por pessoas de todas as idades, em todos os cantos do mundo.

A gema foi absolvida! Isso mesmo. Estudos recentes demonstraram que o colesterol LDL (que é o considerado “ruim”) contido na gema é pouco e insuficiente para ser o responsável pelo aumento da incidência de doenças cardiovasculares na população. Outros fatores, atuando em conjunto, têm importância mais relevante, como a genética e o estilo de vida de cada um, aí incluídos o sedentarismo e a alimentação inadequada, rica em gorduras de todos os tipos ou carboidratos e pobre em fibras, verduras, legumes e frutas. A gema, sozinha, não teria destaque significativo. Além disso, na gema há também o HDL, que é o colesterol “bom” que, ao contrário, limpa as artérias e protege o organismo.

A clara, por sua vez, está no foco de interesse de muitas pessoas, pois é basicamente constituída por uma das proteínas mais importantes e vitais para todos nós: a albumina.

Várias são as motivações que fazem as pessoas se interessarem especificamente pelos ovos na alimentação cotidiana. Atletas ou indivíduos que querem ganhar massa muscular e ter um corpo bem definido buscam na clara a quantidade de proteínas de que precisam. Há alguns vegetarianos que optam pelo ovo como única fonte proteica. Crianças, em geral, o adoram. Algumas querem ovo todos os dias.

Cabe, então, a pergunta: quantos ovos, afinal de contas, são permitidos por dia?

A resposta é simples assim: depende de quem você é, da sua condição física, idade, exames laboratoriais e estilo de vida. Um atleta tem necessidades diferentes de proteínas de um fisiculturista ou de um indivíduo sedentário, por exemplo. Uma pessoa com hipercolesterolemia familiar deve ter restrições ao consumo da gema.

Cada um tem, portanto, uma quantia individual e única permitida por dia. Não dá para ter uma regra que sirva para todos. Mas, de uma forma geral, os estudos afirmam que adultos ou crianças, em boas condições de saúde, podem consumir até 1 ovo por dia, sem riscos. Quem quiser mais, deve necessariamente consultar um nutricionista, que irá definir o que é melhor para cada um.

Alimente-se conscientemente! Sempre!

http://g1.globo.com/bemestar/blog/doutora-ana-responde/post/saude-e-fisico-determinam-quantos-ovos-voce-pode-comer-por-dia.html

Quem toma remédio derivado da maconha pode ficar dependente? Entenda


Crianças e adolescentes podem oficialmente receber um composto da maconha para fins medicinais. OConselho Federal de Medicina liberou o uso do canabidiol, derivado da maconha, para portadores de doenças neurológicas com convulsão de difícil controle. O que isso significa na prática? Em quais situações clínicas pode ser prescrito? Quem o utiliza pode ter algum tipo de dependência da droga? E os outros efeitos da maconha, como euforia, também acontecem?

Vamos entender. A maconha, ou Cannabis sativa, como é o nome científico desta planta, é composta por várias substâncias. Dentre elas destacam-se especificamente duas, que pertencem ao grupo dos fitocanabinóides: o THC, que é o tetrahidrocanabidiol e o CBD, que é o canabidiol. Estas duas substâncias são diferentes. Têm, portanto, efeitos diferentes. 

O THC é o responsável pelos efeitos psicoativos característicos da maconha como, por exemplo, confusão mental, sensação de prazer ou de euforia, percepção de estímulos e sensações mais aguçadas, pensamento solto, porém mais lento, menor capacidade cognitiva e maior dificuldade na coordenação motora. O THC é o componente que causa o maior grau de dependência, em consequência, naturalmente, da dose, frequência de uso, idade e vulnerabilidade individual do usuário. 

Importante lembrar que adolescentes que utilizam maconha “in natura” são mais susceptíveis a todos esses efeitos que podem, inclusive, dependendo de características específicas de cada um, apresentar sequelas irreversíveis no potencial cognitivo para o resto da vida. Ao contrário do que muitos preconizam, a maconha “in natura”, portanto, não é mais inócua que outras drogas.

O CBD, ou canabidiol, por sua vez, é que foi liberado. É um medicamento que possui, portanto, apenas esse componente ativo da maconha. O CBD mostrou-se eficaz no controle de convulsões em crianças e adolescentes portadores de quadros neurológicos graves, que cursam com crises epilépticas de difícil controle por medicamentos já padronizados. O CBD tem a capacidade de diminuir a atividade química e elétrica do cérebro, fazendo com que os sintomas convulsivos das doenças diminuam significativamente. Importante saber: o CBD isoladamente não produz os efeitos de euforia ou de “barato”. Não causa dependência, vício ou sedação. Atualmente só pode ser prescrito por três especialidades médicas: neurologistas, neurocirurgiões e psiquiatras, que devem seguir regras específicas para sua indicação. 

Para ter ideia da importância deste fato, os pais da pequena Anne Fischer, de 6 anos, tornaram-se os exemplos e símbolos da luta pela liberação do CBD. Antes do tratamento, sua filha, que é portadora de uma síndrome genética rara que se manifesta com convulsões, tinha aproximadamente de 30 a 80 convulsões por semana. Após a utilização do CBD, passou a apresentar uma média de duas crises por mês.

Demos um importante passo para o controle de doenças difíceis. Mais que tudo, é extremamente positivo observar que a lucidez e a clareza de pensamentos, aliados ao conhecimento científico, conseguem deixar para trás as trevas do preconceito cego. E todos se beneficiam. Só assim seguimos para frente.

*Foto: Reprodução/TV Globo

http://g1.globo.com/bemestar/blog/doutora-ana-responde/post/quem-toma-remedio-derivado-da-maconha-pode-ficar-dependente-entenda.html

Como fazer para não engordar nas festas de fim de ano?


Fim de ano é sempre assim: vários compromissos sociais e familiares, sempre com mesa farta. Peru, panetone, rabanada, espumante, comida e bebida que não acabam mais. 

Como fazer para manter a linha sem abrir mão das delícias do Natal e Réveillon? Quais as dicas para não engordar? E quem está de dieta, como faz para não deixar tudo ir por água abaixo? Dá para dar uma "parada" e retomar depois?

Vamos conversar sobre isso na próxima coluna. Mande suas dúvidas.

Foto: Divulgação/Hapvida
http://g1.globo.com/bemestar/blog/doutora-ana-responde/post/como-fazer-para-nao-engordar-nas-festas-de-fim-de-ano.html

O papel da sociedade civil no acordo climático assinado por EUA e China.


Estamos numa era orbital, diz o filósofo francês Jean Baudrillard*. Das informações ao capital financeiro, tudo orbita em torno do homem atual. Sentado em frente à máquina de computação, ele segue sendo levado por viagens que, na verdade, muitas vezes apenas dão voltas em seu território cercado.

Foi assim nesta quinta-feira (13), quando o mundo das comunicações se exaltou com a notícia de que um robô conseguiu pousar num cometa em movimento e, na quarta (12), com o anúncio de um acordo para reduzir a poluição emitida por duas nações potentes – China e EUA. Pelas câmeras europeias, assistimos repetidas vezes ao feito espacial. Pelas câmeras asiáticas, vimos o presidente Obama e o presidente Xi Jinping apertarem as mãos firmando um compromisso para diminuir a sujeirada que as fábricas e os habitantes de seus países lançam no ar e que está sufocando os seres vivos que habitam o planeta. A nós, resta pensar – ato que Hannah Arendt chamava de “diálogo silencioso entre eu e eu mesma”.

Assim, lanço-me destemida à reflexão, e convido vocês para me acompanharem. O convite vem junto com algumas informações que podem ser úteis para o debate. Primeiro, sobre o acordo em si. Vale voltar a ele porque estive num diálogo virtual com alguns amigos que fiz, habitantes de países bem diferentes, durante recente viagem à Alemanha (veja aqui) . Um deles, canadense, enviou-me um texto do analista de mercado John Kemp publicado pela agência de notícias Reuters no Reino Unido, que põe luz sobre alguns bastidores do acordo que certamente vai movimentar bastante o mundo ambientalista nas próximas semanas.

Em resumo, na opinião do analista, o presidente Obama precisava de uma declaração ambiciosa para tentar fazer diferença e mostrar que a competitividade de seu país não estaria comprometida com medidas para baixar as emissões. Por sua parte, o presidente Xi Jinping conseguiu, com sua declaração, boa vontade e concessões dos Estados Unidos em outras partes da agenda da reunião da Apec (Asia-Pacific Economic Cooperation), onde se deu o anúncio. Toma lá, dá cá – é assim mesmo que se negocia.

E se tudo der certo? Se o acordo entre China e Estados Unidos deflagrar uma atitude universal e todos os países decidirem mesmo diminuir os gases de efeito estufa e assinarem um acordo histórico na COP-21, ano que vem, em Paris, o que terá que mudar?

Os combustíveis fósseis estariam com os dias contados. Para isso, será preciso investir muito em fontes renováveis de energia. E convencer alguns governantes céticos, como o primeiro-ministro da Austrália, Tony Abbott, de que isso, sim, é o melhor para a humanidade. Essa tarefa é fácil para a sociedade civil. Nesta quinta (13), manifestantes fizeram um ato em Bondi Beach, Praia de Sidney (Austrália), para protestar contra a omissão do seu governo em relação às mudanças climáticas. E outro amigo da turma que foi à Alemanha, australiano, enviou-me a foto com a mensagem: "Nós, aqui na Austrália, estamos esperando que acabe o discurso de que a China não está fazendo sua parte na mudança do clima. E agora somos o único olhar estúpido a essa questão".

Mas, para além disso, a indústria como um todo terá que repensar seu modo de produção. As montadoras de automóveis precisarão investir pesado em outros modelos. Os governos vão ter que multar quem poluir a mais. E isso tudo vai gerar uma tremenda mudança na economia. Com menos produção, não necessariamente haverá desemprego se os operários toparem uma nova forma de trabalho. Nesse sentido, já há proposta do bilionário Carlos Slim (veja aqui) e da equipe da The New Economics Foundation, sobre uma rearrumação na semana de trabalho. A ideia é encurtar para três dias, o que ajudaria a redistribuir trabalho para os desempregados, ao mesmo tempo que propicia mais tempo de lazer (ócio criativo?) para todos.

Desmatamento
Se o desmatamento é um dos maiores inimigos da economia limpa, é preciso cuidar para que ele não aumente. Entre 2004 e 2011, segundo dados do Imazon, o Brasil reduziu 77,5% o desmatamento, o que é muito bom. Mas é preciso também recuperar áreas degradadas, que hoje estão em cerca de 24 milhões de hectares.

Pelo resto do mundo, os últimos dados dão conta de um desmatamento de 170 mil quilômetros quadrados por ano. Na Cúpula do Clima que aconteceu em setembro em Nova York, houve a proposta de reduzir esse número pela metade até 2020 e zerá-lo até 2030. Mas é preciso ficar claro: este é um esforço conjunto que deve envolver empresas, governo e sociedade. O cidadão comum precisará se educar para comprar móveis só de madeira certificada. Ou para não comprar, quem sabe reciclar aquele velho armário?

A mesma coisa na hora de trocar de carro. A civilização de uma economia de baixo carbono exige que se repense o ato de consumir, da carne ao carro, passando pelo móvel e pela roupa. O menos tem que ser mais. De empresas, de governos, de cidadãos.

Dito assim, parece que estamos falando de um mundo distante do verdadeiro dia a dia, pelo menos do brasileiro. Mas já tem muita gente pensando a esse respeito seriamente, trazendo novas perspectivas. Não é apenas dar preço para tudo o que for da natureza, como querem os que defendem a “economia verde”. Precisa incluir nesse pacote de mudanças aquelas pessoas que não estão participando das decisões nos gabinetes aclimatados, mas de quem vai depender muito do sucesso da empreitada.

Diálogo
Em junho estive no Arquipélago do Bailique, no Amapá (veja aqui) , acompanhando de perto o trabalho da Rede Grupo de Trabalho Amazônico (GTA) para garantir aos moradores daquela região tão rica em recursos naturais, em pessoas, e tão distante dos centros de comando e controle, uma participação efetiva na conservação da biodiversidade e na utilização sustentável de seus componentes. Posso garantir que não é uma tarefa muito fácil. Só para se ter uma ideia, eles estão agora reunidos para organizar um segundo encontro de todas as comunidades que vai acontecer em dezembro.

Esse diálogo com a ponta da cadeia é imprescindível, seja em que país for, para que não se fique falando de um mundo irreal, de acordos feitos num palco, de metas inatingíveis e, por isso mesmo, de difícil previsão sobre o futuro. Sem conversar com índios, quilombolas, ribeirinhos, os chamados povos da floresta, não dá para se ter uma ideia real sobre o que será necessário fazer para alcançar os desafios impostos em cúpulas e conferências. 

Lembrei-me de uma entrevista que a repórter Martha Neiva Moreira, do Razão Social**, fez em 2012 com a geógrafa Bertha Becker (morta no ano passado), exímia conhecedora da Amazônia. Becker criticava muito severamente o que chamava de “mercantilização da natureza”, e dizia ser imprescindível que se pensasse nas diferenças regionais, não em generalidades.

“O que é bom para a Europa pode não ser bom para o Brasil. Também não entendo como a venda de créditos de carbono por empresas privadas pode ajudar a reduzir a pobreza”, alertou ela na entrevista.

É disso que não se pode esquecer. Nada do que está sendo negociado entre líderes, nenhum acordo global de baixar emissões, será válido se não levar em conta o homem. E para levar em conta o homem é preciso pensar em desigualdade social, em como se livrar desse câncer que mina e expõe quase ao ridículo, aos olhos de quem passa fome, qualquer mega iniciativa de não poluir mais o ar. Senão, vira um jogo de regras flutuantes e arbitrárias.

* Em “A transparência do mal – ensaio sobre os fenômenos extremos”, (Papirus Editora)
** Caderno sobre sustentabilidade editado no jornal “O Globo” de 2003 a 2012

Fotos: 
Ato sobre danos ao clima na Austrália (350.org/Tim Cole/AFP)
Presidentes dos EUA, Barack Obama, e da China, Xi Jinping, em Pequim. (Mandel Ngan / AFP)

http://g1.globo.com/natureza/blog/nova-etica-social/post/o-papel-da-sociedade-civil-no-acordo-climatico-assinado-por-eua-e-china.html

Os rumos da sustentabilidade no Brasil.


É claro que o acordo entre Estados Unidos e China sobre emissões de carbono esteve em pauta nesta segunda-feira (17) no lançamento do estudo "Diretrizes para uma Economia Verde no Brasil", na sede da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS) em São Conrado, no Rio de Janeiro. Na palestra de abertura, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, citou o pacto e lembrou que ele traz os elementos necessários para se acreditar até na possibilidade de um acordo mundial na capital do Peru durante a COP-20 que será realizada mês que vem.

"A China provoca uma mudança de posição do G-77", disse ela, referindo-se à coalizão dos países em desenvolvimento. "O discurso do clima não é mais ambiental, é econômico. Precisamos debater sobre o modelo de desenvolvimento que queremos", afirmou a ministra.

Durante toda a manhã, num auditório com luz e clima naturais, foi esse o tema em pauta. A ideia de Israel Klabin, presidente da FBDS, foi reunir os estudos em seis cadernos com os temas que, de fato, trazem a questão para bem perto dos cidadãos comuns: água, energia, transportes, resíduos sólidos, agricultura, mercado financeiro. Na plateia, nomes de peso do meio ambiente nacional e alguns jornalistas, eu entre eles.

Nos estudos há algumas novidades, muitas críticas, sugestões à beça. E impasses, os mesmos que teimam em descortinar o desafio que a humanidade tem pela frente. Mas o foco foi o Brasil, um país que, como lembrou Marilene Ramos, ex-presidente do Instituto Estadual do Ambiente do Rio de Janeiro (Inea), ainda tem problemas do século XIX e, ao mesmo tempo, precisa lidar com a questão do século XXI, das mudanças climáticas.

"Em 2004, tivemos uma crise hídrica parecida com a que estamos vivendo hoje, mas parece que não aprendemos nada. Talvez com indicadores a gente pudesse resolver isso, mas mesmo os dados existentes são falhos. Fico revoltada, por exemplo, quando olho os dados do IBGE: a Baixada [Fluminense] não tem 90% de abastecimento de água, como eles mostram. E muitas vezes esse dado serve para uma cortina de fumaça da realidade. A crise atual está nos mostrando também que precisamos reservar, mas nossos níveis de perda de água no Brasil são irresponsáveis", disse ela.

Marilene Ramos lembrou também que o nível de desenvolvimento econômico brasileiro não é compatível com o desenvolvimento sanitário. E é imprescindível que esses dois indicadores caminhem juntos: "Tem dinheiro, mas ou faltam projetos ou os recursos são mal aplicados".

Mobilização da sociedade
Os estudiosos que se propõem a ter uma visão mais ampla sobre o meio ambiente, entendendo que é preciso vinculá-lo ao dia a dia das pessoas comuns, ainda hoje têm dificuldades para convencê-las disso. O ambientalista Fábio Feldman lembrou que não é fácil mobilizar a sociedade porque é uma agenda complexa, mas a ideia é continuar tentando – mesmo que numa ocasião tão propícia para isso, como as eleições para a presidência da República, o tema tenha ficado radicalmente fora de pauta.

"Se vier um novo acordo internacional substituindo Kyoto, nós temos que saber como nos antecipar. É bom lembrar que quando o Protocolo foi assinado, em 1997, não havia obrigações para o Brasil", disse ele.

O tema resíduos sólidos foi mais um mega desafio posto em debate na manhã desta segunda. José Penido, ex-presidente da Comlurb, causou impacto ao lembrar a dificuldade que alguns municípios podem estar tendo para acabar com os lixões, como exige o Plano Nacional de Resíduos Sólidos.“Alguém pensa nos catadores? Do que eles vão sobreviver? Só como informação: o Lixão de Gramacho teve que pagar R$ 14 mil a cada um dos 1.600 catadores que trabalhavam ali. Outras cidades tiveram que fazer isso também”, disse ele.

Penido listou ainda outro problema criado pelo fechamento de um lixão: o chorume, líquido resultante do processo de putrefação dos resíduos orgânicos. É preciso criar um sistema de tratamento desse líquido, o que não é barato. “Em Gramacho, gastamos R$ 80 mil por dia, é uma despesa. Os municípios pequenos não têm condições de fazer isso”, disse Penido. Há solução? Para ele, é preciso apostar cada vez mais no sistema de compostagem para poder resolver o material orgânico – e as pequenas cidades deveriam investir em compostagens caseiras.

Em resumo, é o seguinte: lixões são um grande mal por todos os problemas que conhecemos. Mas acabar com eles não é simples. O governo federal ajuda, empresta dinheiro aos municípios, mas manter um aterro é tarefa que exige também planejamento: “Se falta um manobrista de trator durante uma semana, vira tudo lixão outra vez”, disse Penido. A ministra Izabella lembrou que mais de dois mil municípios já conseguiram se organizar e acabar com os lixões, mas que o Plano Nacional, de fato, é criticado por não dialogar com a realidade de cada cidade.

Já lhe bastam tantos problemas, leitor? Ainda temos muitos mais. Nosso espaço na atmosfera para emitir CO2 dura apenas vinte anos, segundo os cálculos feitos pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC na sigla em inglês), lembrou Oswaldo Lucón, que apresentou o estudo sobre energia.

O pesquisador brasileiro, que participa dos estudos do Painel, acha que acordos internacionais sobre emissões podem ser lidos como barreiras comerciais. “Com o acordo feito em Copenhague, de limitar em 2°C o aquecimento global, nós teríamos que já definir nosso pico de emissão em algum ano”, disse ele.

De novo: há solução? Sim, garante Lucón, embora reconhecendo que não existe bala de prata. É preciso considerar as tecnologias, como a que prevê enterrar o carbono, e opções de fontes de energia mais limpas, como a nuclear e as hidrelétricas. E a indústria precisa ser chamada a participar. As automotivas podem, por exemplo, combater o que Lucón chama de “obesidade veicular”, pondo nas ruas carros menores, mais fáceis de caber em qualquer espaço.

Há muitos outros desafios, algumas soluções que ainda me parecem distantes da nossa realidade e nenhuma certeza. Há também expectativa, como lembrou a ministra Izabella, de que o acordo anunciado por duas potências abra caminho para novidades no setor. Mas é preciso muita cautela para que a economia verde não seja alternativa para o desenvolvimento sustentável, alertou a cientista Suzana Khan, também membro do IPCC, que apresentou um estudo sobre transportes, um dos setores mais poluentes.

É preciso diminuir as emissões dos transportes, sim. Mas, para o cidadão comum, antes disso é preciso que o transporte público garanta a ele mais qualidade de vida, menos espera, menos perda de tempo no trânsito.

Falou-se ainda sobre agricultura, sobre a possibilidade de uso de adubos orgânicos. Celso Lemme, professor Instituto Coppead de Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro, referência no campo da sustentabilidade corporativa, terminou a manhã apresentando seu estudo sobre o sistema financeiro. Afinal, se estamos querendo traçar uma linha para um outro tipo de desenvolvimento, o mercado precisa estar sentado à mesa de debate.

Lemme conta que sempre está presente nas rodas de discussões sobre meio ambiente, e lá não vê economistas. Assim como, quando está em casa, discutindo o sistema financeiro, não vê ambientalistas por perto. É ainda um debate dos mesmos com os mesmos.

"Para os capitalistas, os verdes são sonhadores irresponsáveis e, para os ambientalistas, os do mundo financeiro são capitalistas cruéis". Está na hora de acabar com isso, acredita o professor. Eu apoio.

Os estudos encomendados pela FBDS serão publicados, na íntegra, no site da organização.

*Imagens:Foto de arquivo mostra último caminhão de lixo jogado no aterro de Gramacho (RJ), hoje desativado. (Janaína Carvalho/G1)Camada de poluição Zona Oeste de São Paulo (Marcos Bezerra/Futura Press/Estadão Conteúdo).

http://g1.globo.com/natureza/noticia/2014/11/eua-e-china-anunciam-acordo-para-reduzir-emissao-de-gases-poluentes.html

A economia verde e a aproximação aos mais pobres


Coube ao professor indiano Surajit Mazumdar, da Universidade Jawaharlal Nehru, trazer para a mesa de debate sobre o padrão de acumulação global e a insustentabilidade desse modelo, o elemento muitas vezes esquecido nas discussões sobre desenvolvimento do mundo: o homem. O encontro, promovido pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), com parceiros, aconteceu nesta terça (18) no Museu da República, e foi aberto ao público em geral. No dia anterior eu havia estado em outro debate, promovido pela FBDS (veja aqui) onde as questões do meio ambiente foram o foco maior e o sistema financeiro teve uma participação menor. Mas lá também senti falta de visões menos estatísticas, mais humanizadas.

Só para ilustrar o que estou dizendo: alguém na mesa do FBDS propôs reflexão sobre um tema inquietante. Por conta do aquecimento global, as plantas estariam produzindo menos proteína. “Um desastre para a agricultura”, disse o palestrante. Comentei baixinho com alguém ao meu lado: “Um desastre para o homem, que precisa da proteína para sobreviver”. E esse alguém me lembrou: “É que este não é o foco dele, e sim os negócios”.

Mas, voltando ao seminário do Ibase. O tema posto na mesa era a desigualdade, a acumulação de capital, que fica lado a lado com o aquecimento global na lista dos assuntos mais inquietantes que a humanidade está enfrentando. E os protagonistas eram os Brics (Brasil, Russia, Índia, China e África do Sul), sigla criada em 2001 pelo economista Jim O’Neil, para identificar os países que se tornaram mais relevantes para a economia mundial. Na mesa estavam o professor indiano que já citei; o professor chinês Ho-fung Hung, da Universidade Johns Hopkins; o professor Giorgio Romano, da Universidade Federal do ABC; e o professor José Maurício Domingues, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp) da Uerj.

Ho-fung abriu os debates e, já que o tema era a desigualdade, não poupou os Estados Unidos e sua dominação financeira mundial. O que me deixou ligeiramente incomodada foi que, em seu discurso, havia muito mais um desejo de tomar esse lugar de soberania do que, propriamente, o de contestar sua eficácia. E assim fomos informados de que o poder de compra dos norte-americanos está 20% mais baixo, enquanto o do povo chinês vem aumentando; que a China está se tornando a economia número 1 do mundo e que sua estratégia tem sido acumular dólares americanos para usá-los internamente, financiando sua infraestrutura. É o jeito que encontrou para fazer reserva de sua própria moeda.

Por outro lado, o país que acabou de assinar um acordo sobre emissões de carbono com os Estados Unidos, tem se preocupado em aumentar sua exportação porque, por conta dos baixos salários, não há mercado interno para consumir tudo o que é produzido. Eis o ponto: “É preciso investir em maior distribuição de renda na China”, disse o professor, já no finalzinho de sua fala. Fico pensando se esse não seria o foco principal, não a disputa pelo poder com o atual número um do mundo.

Integrante do Grupo de Reflexão sobre Relações Internacionais (GRRI), Giorgio Romano traçou a história sobre como os Brics se tornaram o que são hoje. Do início do século até agora, o que se viu, focando no Brasil, foi uma diminuição da vulnerabilidade financeira que veio com o pagamento da dívida ao FMI. No total, os países do Brics fazem reservas e não têm dívidas, enquanto os países ricos estão endividados. Ficou faltando mostrar como essa situação se reflete no dia a dia da população dos Brics, envolvida com suas próprias dívidas.

O avanço do setor privado e das multinacionais sobre a Índia foi o foco na fala do professor Mazumdar. Sim, e o fenômeno tem aumentado a desigualdade no país pelo fato de os funcionários de empresas públicas ganharem cerca de 20 vezes menos do que os outros. “Isso não entra nos cálculos quando se fala sobre desigualdade na Índia”, disse o professor.

O crescimento indiano é baseado em serviços e o setor da indústria tem apresentado até um certo decrescimento, mas como usa carvão como principal fonte energética, o país é o terceiro no ranking dos mais poluentes. Isso não foi debatido na mesa, cujos integrantes preferiram focar seus pensamentos em questões financeiras.

Último a falar, o professor José Mauricio Domingues desconstruiu grande parte do discurso sobre o poder dos Brics. Segundo ele, esses países ainda estão longe de ser um poder estruturante e podem estar, isso sim, caindo na armadilha do padrão de acumulação global. A falta de investimento em inovação, por parte do empresariado latino americano, que o acadêmico denuncia, pode ser uma forma de condenação.

O cenário atual, segundo Domingues, é mais complicado do que foi no passado e estamos muito longe de assistir ao declínio dos Estados Unidos. “Isso põe a questão dos Brics sob outro ângulo e o fortalecimento desses países não significa um jogo de 1 a 0”, disse ele. As empresas estão enxutas, terceirizadas, têm centro de produção mas não de inovação aqui na América Latina. Para construir seus centros de inovação, os empresários preferem ainda os Estados Unidos e a Alemanha.

A classe média está consumindo mais, e esse fenômeno é registrado pelo professor, não exatamente como uma mudança para melhor, pois “pode estar apenas garantindo a acumulação de capital”. O que significa, de verdade, superar a pobreza?, pergunta-se o professor. Será a distribuição de cartões ou dinheiro para que as pessoas possam se alimentar?

“Nada indica que sim. As pessoas vão continuar pobres e vivendo dessa ajuda governamental”, disse ele.
Como vocês devem ter percebido, o debate foi muito interessante e trouxe muitas reflexões. A preocupação com uma nova ordem, que já está sendo imposta pela mudança climática e aumenta os limites de desigualdade à medida que tira dos mais pobres condições mínimas de sobrevivência (com eventos extremos), porém, ficou de fora. Quando alguém da plateia questionou, o professor indiano trouxe, como eu disse no início do texto, um paradoxo que ainda é entendido assim pela maioria: “O que importa são as pessoas que têm fome, não as mudanças climáticas”.

Dito assim, a tendência é concordar com ele. A economia verde, que busca gerenciar o aquecimento sob as normas industriais, de fato está distante dos mais pobres. Por outro lado, os eventos extremos que, segundo os cientistas, têm sido cada vez mais frequentes por causa do aquecimento global, colaboram para aumentar a pobreza e a desigualdade.



Este custo social é um impasse da nossa civilização atual. Inclui questões fundamentais, como qual o tipo de desenvolvimento que realmente se quer, se suporta, de que maneira devemos produzir e consumir. Uma percepção que não se torne cega à diversidade. Será que países tão diferentes culturalmente quanto Índia e China não teriam muito mais a acrescentar ao debate se não tivessem que seguir o modelo de desenvolvimento imposto por uma ordem global ocidentalizada? É só um pensamento para alimentar a reflexão.

http://g1.globo.com/natureza/blog/nova-etica-social/post/economia-verde-e-aproximacao-aos-mais-pobres.html

Reflexões sobre a responsabilidade social e empresas acusadas de corrupção


O ano era 2005 e o economista indiano C.K. Prahalad tinha acabado de lançar seu livro “The Fortune at the Bottom of the Pyramid” (“A fortuna no pé da pirâmide”, em tradução literal), que andava provocando burburinho no mundo financeiro. A teoria de Prahalad era bem clara: se o mundo tem mais pobres do que ricos, então está na hora de os empresários aprenderem a fazer fortuna com aqueles que não têm muito para pagar. E, ao mesmo tempo, ajudá-los a comprar coisas. Naquela época, havia 4 bilhões de pessoas ganhando menos de US$ 2 por dia e a população mundial era de cerca de 6,5 bilhões*.

Além de explicar melhor sua teoria, que recebeu críticas por apostar no consumo para ajudar a subir degraus socialmente, o economista indiano relatou casos de empresas, por todo o mundo, que alimentaram seu negócio considerando o pé da pirâmide. Mais de vinte páginas da edição norte-americana do livro de Prahalad são dedicadas às Casas Bahia. Assim que li, em 2005, procurei entrevistar Samuel Klein (foto acima), o dono da empresa. Nesse período, eu editava o caderno Razão Social, suplemento do jornal “O Globo”. Em parceria com o Instituto Ethos, nosso foco era a responsabilidade social das corporações.

Uma entrevista dessas não se faz pelo telefone. Peguei o avião, fui para São Paulo, de lá para São Caetano, onde ficava o escritório da empresa. Samuel tinha na época 82 anos, e o filho Michel, dirigente do negócio, disse que seu pai não estava, naquele dia, com disposição para dar entrevista. A conversa foi com Michel. Mas eu me lembro bem que, de vez em quando, Samuel nos olhava por uma porta entreaberta no escritório sobriamente decorado. Era o olho do dono tomando conta de seu negócio.

Toda a cena se passou ontem pela minha cabeça, quando li sobre a morte de Samuel Klein, aos 91 anos (veja aqui). Polonês e judeu, ele conseguiu fugir de um campo de concentração, emigrou para a Bolívia, de lá para o Brasil. Sempre foi reativo a expor sua história de vida até que, em 2003, decidiu contar tudo para o jornalista Elias Awad, que escreveu o livro “Uma trajetória de sucesso”. Como empresário, Klein apostava que sua responsabilidade social era apoiar instituições de caridade, vender mais barato, dar crédito aos mais pobres.

“Nós não achamos que tem que ficar tudo nas costas do governo, que só ele pode dar soluções. Além de vender para o pessoal que não tem acesso, as Casas Bahia sempre têm colaborado com instituições de caridade. Não sei se é certo ou errado, mas não damos dinheiro: damos o leite, o fogão, a geladeira... Outra coisa: perdoamos o crédito de quem sofre algum tipo de desastre na vida. E em 52 anos nunca protestamos ninguém em cartório. A gente acha que se a pessoa não tem como pagar porque está temporariamente sem fonte de renda merece que tenha o carnê guardado. Quando puder, ela vem e paga. E isso acontece, a gente negocia até os juros. Às vezes, a pessoa vem aqui e pede para não mandar aviso de cobrança para os vizinhos não verem”, disse-me Michel Klein na entrevista que foi publicada em abril de 2005.

Dois anos depois, o relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima, na versão em inglês) trouxe a notícia que mudou muita coisa também no setor de negócios. O fato comprovado de que as atividades humanas, sobretudo da indústria, colaboram para as mudanças climáticas, aqueceu o mundo corporativo e o marketing passou a preferir a expressão “empresas sustentáveis” no lugar de “responsabilidade social corporativa”. Não sei como Samuel Klein via esse movimento, também não saberemos se Prahalad, que faleceu em 2011, pensou em incluir questões ambientais ao seu estudo. 
Seja como for, o fato é que a sociedade civil tem incorporado, lentamente, como é costume nas mudanças culturais, o pensamento de que é necessário cobrar das empresas uma atitude responsável. Social ou ambientalmente, não dá mais para um empresário enfiar a cabeça na areia e fazer seu negócio como se dele só se esperasse gerar emprego e pagar impostos, cumprindo a lei. Aqui no Brasil, esse movimento começou no fim do século passado, mas o primeiro relatório social feito por uma empresa no mundo é da década de 70**.

Corrupção nas empresas
A notícia da morte de Samuel Klein, empresário que entendia a seu modo o que significa ser responsável, dividiu espaço na mídia com a operação da Polícia Federal que está desmontando uma rede de empresas envolvidas em corrupção, lavagem de dinheiro e evasão de divisas (envio ilegal de dinheiro para o exterior). É caso de polícia mesmo, e não podemos julgar antes que a Justiça o faça. Mas uma declaração de um dos presos feriu minha inteligência e me fez refletir. Confesso que não sem um grau de irritação.

O executivo disse em depoimento (veja aqui) que algumas das principais construtoras do país formaram uma espécie de clube para dividir, entre si, a execução de obras, pagando propina ao diretor da Petrobras. Se não fizessem isso, perderiam os contratos. Ora, falando francamente: empresas do escalão das que estão envolvidas podem ainda se sentir reféns dentro de um esquema de corrupção? Não usariam seu poder para vir a público denunciar a tramoia antes de se fazerem cúmplices? Ou se sentem tão impunes aqui no Brasil (veja bem, duvido que façam algo parecido em outro país) a ponto de fortalecerem a corrupção por baixo dos panos enquanto, na superfície, algumas até façam publicidade de sua “gestão sustentável”? (É só visitar os sites das empresas envolvidas no escândalo para ver que quase todos têm o nicho “Sustentabilidade”).

Está mais do que na hora de rever essa estrutura, é claro. Nesse sentido, li com prazer a reportagem desta sexta-feira (21) na página A6 do “Valor Econômico”, sugerindo que o país facilite atuação de mais empreiteiras caso essas grandes virem inidôneas.

Apoio, faço coro e digo mais: por que não se faz isso logo? A concentração das obras nas mãos das mesmas empreiteiras, se possibilitou esse esquema de corrupção, pode ser revista. A reportagem de Fábio Pupo diz que há mais de dez empresas de engenharia e construção “que atualmente não constam como alvo das investigações e que têm receita líquida superior a R$ 1 bilhão no Brasil”. A incerteza é quanto ao fato de essas companhias conseguirem cumprir todas as exigências do governo, sobretudo porque não teriam disponibilidade de caixa (o desembolso é feito à medida que as obras são entregues). Mas, que tal pensar em mudar essas regras, para absorver também os empresários menores? Onde fica, nessa hora, o conceito teórico sobre a sustentabilidade que diz que “menos é mais”?

As crises só valem a pena se resultarem em mudanças. O Brasil, internacionalmente conhecido como um país que possibilitou que milhões de pessoas saíssem da miséria absoluta e hoje tenham chance de ter um carnê das lojas de Samuel Klein, precisa agora provocar ainda mais. Não faz sentido se manter refém de empresas que praticam a máxima “mudar para continuar o mesmo”. 

* Essa é a medida da linha de pobreza, enquanto a da indigência, segundo o Banco Mundial, é de menos de US$ 1 por dia). De qualquer maneira, hoje esse quadro mudou e há 1,3 bilhão vivendo com menos de US$ 1 por dia.

** Há estudos que dizem que o primeiro balanço social foi publicado na França em 1972 pela Singer.

Foto: Divulgação

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Os US$ 9 bilhões dos países ricos para o Fundo Verde serão suficientes?


A estimativa em 2009, durante a Conferência do Clima em Copenhague (COP-15), era de que seriam necessários US$ 200 bilhões por ano para ajudar os países pobres a reduzir os danos causados pelas mudanças climáticas ou se adaptarem para resistirem mais. Ali foi lançada pela Organização das Nações Unidas (ONU) a pedra fundamental do Fundo Verde para o Clima. Na última quinta-feira (20), a instituição surpreendeu o mundo com a notícia de que já recebeu promessa de contribuições de 22 países. O anúncio ocorreu durante a primeira conferência de doadores para o mecanismo, realizada em Berlim. Por enquanto, o Green Climate Fund (GCF) tem prometidos US$ 9,3 bilhões.

Mesmo sendo apenas promessas e num valor bem distante do estabelecido há seis anos, a notícia já é considerada uma vitória, sobretudo para o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, que, verdade seja dita, está incansavelmente tentando reunir os países no caminho de menos emissões de carbono. Neste domingo (23), o executivo recebeu mais um apoio, com a divulgação do relatório do Banco Mundial. O texto diz que o desastre causado pelas mudanças climáticas já pode ser considerado inevitável e sugere algumas ações, sobretudo para ajudar os países mais pobres a se adaptarem aos eventos extremos que se tornarão cada vez mais frequentes.

Dos US$ 9 bilhões prometidos no Fundo Verde para esse fim, US$ 3 bilhões já tinham sido anunciados pelo presidente Obama em Brisbane, na Austrália, na reunião do G20. Poucos dias antes, Obama já havia formalizado umacordo com a China, número um em emissões de gases de efeito estufa, para baixar suas emissões e esse anúncio, provavelmente, impulsionou a oficialização do Fundo Verde.

Segundo o jornal britânico “The Guardian”, o segundo maior doador para o Fundo foi o Japão, quinto maior emissor do mundo, que prometeu US$ 1,5 bilhão. Logo depois dele, o Reino Unido oferece US$ 1,13 bilhão. Os outros doadores são: Alemanha, França, Suécia, Itália, Suíça, Coreia do Sul, Holanda, Finlândia, Dinamarca, Espanha, México, Luxemburgo, República Checa, Nova Zelândia, Noruega, Panamá, Monaco, Indonesia e Mongolia. Quase todos já tinham anunciado uma quantia para o Fundo durante a Conferência do Clima que Ban Ki Moon realizou em setembro em Nova York. A Austrália, cujo primeiro-ministro Tony Abbott tirou a questão climática da agenda do G20, se nega a contribuir, mas justifica sua posição dizendo que já está investindo US$ 2,5 bilhões em ações domésticas contra as mudanças climáticas.

Num artigo publicado no jornal britânico, a deputada sueca Isabella Lövin, membro do Partido Verde no parlamento europeu, lembra que o dinheiro do Fundo Verde não pode ser encarado como caridade. Trata-se, na prática, de um investimento num futuro melhor para todos. Lövin afirma que a mudança climática descontrolada constitui ameaça, inclusive, à segurança nacional. Um estudo publicado no ano passado pela União Geofísica Americana mostrou que uma seca severa pode ter sido o estopim para a guerra civil na Síria, por exemplo.

“Em fevereiro deste ano, o secretário de estado John Kerry disse que as mudanças climáticas são uma arma, talvez a mais temível, de destruição em massa”, escreveu a deputada.

Politicamente, o anúncio do Fundo está sendo visto como um passo a favor de um acordo mundial de emissões ano que vem, durante a COP-21 que vai acontecer em Paris. Mas, pelos comentários no site do jornal ao artigo da deputada, dá para perceber que as doações estão longe de ser um consenso para a população que mora nos países doadores. Uma das críticas diz que esse dinheiro deve ser encarado não como um investimento, como disse a deputada Lövin, mas como uma espécie de suborno aos países pobres para calarem a boca enquanto os ricos continuariam a emitir todos os gases como sempre fizeram.

Há também quem entenda que esse Fundo, em vez de ser fundamental na dinâmica internacional das mudanças climáticas, vai surtir um efeito contrário. Obrigar os países ricos a subsidiarem os pobres pode vir a ser, numa leitura cética, o caminho mais curto para torpedear de vez as conversações, já que leva o assunto para o delicado setor das finanças, acreditam os críticos. O Brasil, como não está na classificação de “país desenvolvido”, não está sendo chamado a ajudar. Mas fico pensando se nosso governo decidisse doar algum dinheiro para o Fundo Verde, qual seria a reação das pessoas...

De fato, não dá para ser ingênuo. A frase popularizada pelo economista liberal Milton Friedman nos anos 70, “não existe almoço grátis”, é perfeita para ser aplicada aqui. A chave para o sucesso desse Fundo, que vai ter sede na Coreia do Sul, tem que ser a transparência. É preciso deixar bem claro onde vai ser aplicado o dinheiro, e como. Tem que acordar, também, a influência dos doadores na gestão desse montante. A deputada sueca está bastante otimista, acredita que o Fundo Verde vai ajudar a criar muitos empregos e um novo desenvolvimento, verdadeiramente sustentável.

Fato é que há evidências demais de que a humanidade está acelerando, em vez de controlar, as mudanças climáticas. Alguns cientistas já falam que 2015 pode ser o ano mais quente da história da Terra por causa de um fenômeno El Niño (quando as águas do Pacífico Oriental se aquecem e criam turbulências climáticas mundiais) de enormes proporções. Secas, tempestades, incêndios e ondas de calor tornam a nossa vida bem desagradável, sem falar nos danos à economia e sem mencionar as mortes que esses eventos causam.

E, como sempre, a corda vai arrebentar mesmo é, justamente, do lado dos mais pobres. No encontro em Berlim, segundo reportagem publicada pela agência Reuters, a presidente da Aliança dos Pequenos Estados Insulares, Marlene Moses, que representa a República de Nauru na ONU, se queixou, dizendo que as promessas ficaram muito aquém do alvo. Há 22 países africanos na lista dos que estão mais expostos aos riscos que virão com as mudanças climáticas.

Segundo o relatório do Banco Mundial, América Latina, Oriente Médio e Europa Oriental são as regiões que serão mais afetadas. Só para se ter uma ideia do que os especialistas estão dizendo quando falam sobre danos, o estudo mostra que o rendimento dos cultivos de soja, por exemplo, podem cair de 30% a 70% no Brasil, enquanto metade das plantações de trigo na América Central e na Tunísia pode desaparecer. 

Se o dinheiro do Fundo Verde servir para ajudar os mais pobres sem que deles sejam exigidas contrapartidas que comprometam sua cultura ou regime político, muito bom. Mas tem que vir junto com um acordo e com a perspectiva de mudanças radicais. Vai ser preciso cobrar inovações nas indústrias – o setor que mais emite carbono em todo o mundo –, para tornar sua produção mais limpa, por exemplo, além de tornar o transporte público viável para todos. E, não custa lembrar: diminuir a desigualdade social pode ser ainda mais efetivo para tornar os pobres mais autônomos e menos vulneráveis aos sistemas climático e econômico.

Serão novos tempos que vão precisar de uma governança (local e global) também renovada e de uma mudança de hábitos. A governança global está se mexendo, emitindo bons sinais. O auge será se em 2015 realmente for firmado um acordo de baixas emissões. Daí a impactar os hábitos locais, os microcosmos, é outro caminho. Talvez ainda mais difícil de ser percorrido.



*Fotos: 
- Seca no rio Jacareí, em Piracaia, em SP (Nelson Almeida/AFP)
- Obama discursa na Universidade de Queensland sobre mudanças climáticas (Mandel Ngan/ AFP)
- Uma refugiada síria curda cobre o rosto durante tempestade de areia na fronteira da Síria com a Turquia, perto de Suruc (Murad Sezer/Reuters)
- Zona industrial em Kawasaki, cidade ao sul de Tóquio (Toru Hanai/Reuters)

http://g1.globo.com/natureza/blog/nova-etica-social/post/os-us-9-bilhoes-dos-paises-ricos-para-o-fundo-verde-serao-suficientes.html

O papel da liberdade no cálculo do Índice de Desenvolvimento Humano


“Se eu lhe perguntar: ‘Como está sua vida?’ Você vai me responder: ‘137’?” Foi assim que o indiano Amartya Sen, Prêmio Nobel de Economia de 1998, tentou explicar a mim e à repórter Camila Nóbrega, quando o entrevistamos para o “Razão Social”*, em abril de 2012, sua crítica ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) que ele próprio criara. Lembrei-me desse momento quando li, nesta terça-feira (25), notícia sobre o lançamento do Atlas do Desenvolvimento Humano nas Regiões Metropolitanas Brasileiras. Sen não pensou sozinho na criação do índice. Foi em conversa com o amigo paquistanês Mahbub ul Haq que ambos descobriram um incômodo comum com o Produto Interno Bruto (PIB), até então única medição do progresso econômico.

“Achamos que avaliar pela renda de um indivíduo pode ser um mau reflexo sobre a liberdade dele. Duas pessoas podem ter a mesma renda, mas se uma tem uma limitação e precisa de hemodiálise, por exemplo, a necessidade da renda é diferente”, disse ele.

E assim, logo nos primeiros minutos de nossa entrevista, ele nos presenteara com uma reflexão profunda sobre seus estudos e pronunciara a palavra que sempre norteou seu pensamento econômico: liberdade. Em “Desenvolvimento como liberdade”, livro que escreveu um ano depois de ser laureado (aqui no Brasil foi editado em 2009 pela Companhia das Letras), ele diz, claramente: “Para combater os problemas que enfrentamos hoje, temos de considerar a liberdade individual um comprometimento social. A expansão da liberdade é o principal fim e o principal meio para o desenvolvimento”.

Com esse pensamento, que expande tão bem em seu livro, o economista, de fato, não conseguia ver razão num único medidor econômico. Em conversa com o paquistanês, ambos concluíram que seria preciso uma abordagem maior de desenvolvimento humano, um novo índice onde entrassem a mortalidade, a educação, a sensação de segurança e insegurança dos indivíduos no mundo. Mas Amartya se deixou levar pela praticidade do amigo, que o convenceu a introduzir a renda e apenas esses aspectos para constituir a medição, alegando que dessa forma seria mais fácil de ser absorvido pelas pessoas em geral, pela mídia inclusive.

“Ficamos com longevidade, educação e renda per capita, mas eu poderia incluir pelo menos outros dez fatores. Mas conseguimos o que queríamos e saímos no “Le Monde”, “New York Times”, “The Guardian”, disse Amartya na entrevista.

A ideia, no fim das contas, era chamar a atenção para a reduzida aplicação do PIB. Amartya Sen e Mahbub ul Haq queriam que o assunto fosse discutido, que se pensasse numa outra forma de medir o progresso levando em conta também a qualidade de vida dos indivíduos.

“Mas não podemos ser ingênuos. Esse índice (o IDH) é uma forma muito bruta de se representar qualquer coisa. Há de se reconhecer que é incompleto”, disse ele.

Quando nos deu essa entrevista, Amartya Sen já estava trabalhando, junto com Joseph E. Stiglitz e Jean-Paul Fitoussi, a pedido do ex-presidente francês Nicholas Sarkozy, num outro medidor de riquezas que pudesse substituir o PIB. O relatório desse estudo, que se chamou “Comissão Sarkozy”, foi concluído em 2009 e no ano seguinte foi publicado em livro, “Mis-measuring our lives”, ainda sem tradução no Brasil (veja aqui).

Para os economistas e pesquisadores tradicionais, alinhados com o desenvolvimento do jeito que está posto, Amartya Sen e outros estudiosos incomodados com o PIB são pouco práticos. Para a linha de pensamento mais ortodoxa, o PIB como foi criado na década de 30, “um conjunto de bens e serviços produzidos em um país”, serve como uma bússola, da qual a humanidade não pode abrir mão tão cedo.

Mas o próprio Atlas divulgado ontem mostra que medir o desenvolvimento levando em conta só a renda dos indivíduos pode revelar alguma discordância até na hora de cruzar os resultados. Segundo os dados obtidos pelos pesquisadores do Ipea, do Pnud e da Fundação João Pinheiro, “embora São Paulo tenha a maior renda média mensal, Brasília ocupa o primeiro lugar no IDHM em padrão de vida porque o índice é medido pela soma da renda média de todos os moradores”.

Bem, mas toda essa história tem um final feliz. Talvez por reconhecer como apropriadas as instigantes reflexões de um dos criadores do IDH, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), segundo o texto que introduz a apresentação dos dados do Atlas, encoraja os países a desenharem seus próprios índices de desenvolvimento, adequando-os às suas necessidades. Aqui no Brasil isso é feito desde 1998, e são utilizados, além dos indicadores básicos propostos inicialmente pelos dois economistas – longevidade, educação e renda – mais tantos outros.

“O crescimento econômico de uma sociedade não se traduz automaticamente em qualidade de vida e, muitas vezes, o que se observa é o reforço das desigualdades. É preciso que este crescimento seja transformado em conquistas concretas para as pessoas: crianças mais saudáveis, educação universal e de qualidade, ampliação da participação política dos cidadãos, preservação ambiental, equilíbrio da renda e das oportunidades entre todas as pessoas, maior liberdade de expressão, entre outras. Assim, ao colocar as pessoas no centro da análise do bem estar, a abordagem do desenvolvimento humano redefine a maneira como pensamos sobre e lidamos com o desenvolvimento – internacional, nacional e localmente”, diz o texto que introduz o Atlas.

E o resultado geral da pesquisa, feita com base em dados dos Centros Demográficos do IBGE, retrata aquilo de que já sabemos. Do início do século para cá, houve uma melhora acentuada nos níveis de desenvolvimento humano da população. Mas a desigualdade continua, em níveis significativos. Infelizmente, não é muito diferente do cenário mundial.

E onde fica a liberdade, conceito tão estimado por Amartya Sen? Nas escolhas, na capacidade de escolher, afirmam os estudiosos que agruparam os dados para o Mapa. Se alguém não aprende a ler e a escrever, terá restritas condições de participar do sistema e será excluído. Se adoece e não recebe tratamento adequado, também ficará à margem. É disso que se trata. “Substituir o domínio das circunstâncias e do acaso sobre os indivíduos pelo domínio dos indivíduos sobre o acaso e as circunstâncias”, escreve o economista em seu livro, recapitulando pensamentos da obra de Karl Marx.

Há liberdades que não entraram no IDH, revelou-nos Amartya Sen durante a entrevista. O livro dele lista algumas: liberdade de participação política, de informação, de imprensa, liberdade do contrato de trabalho em oposição à escravidão ou à exclusão forçada do mercado de trabalho, liberdade de participar do intercâmbio econômico. Para captar essas liberdades, no entanto, não dá para nos concentrarmos tanto em índices e deixarmos de lado a relação com o outro, a comunicação entre as pessoas, afirma.

“Um índice é o antipensamento, a antipoesia”, disse o Prêmio Nobel de Economia.



* Suplemento sobre sustentabilidade que foi editado no jornal “O Globo” de 2003 a 2012.

http://g1.globo.com/natureza/blog/nova-etica-social/post/o-papel-da-liberdade-no-calculo-do-indice-de-desenvolvimento-humano.html

Pequenas soluções para grandes problemas: o desafio da humanidade





Neste fim de semana estive num lugar que me fez refletir sobre a capacidade de o homem criar possibilidades bem singulares para viver (não sobreviver) num mundo que já está sofrendo os revezes da escassez de recursos. Na comunidade onde me hospedei, na Região Serrana do Rio de Janeiro, ainda um território cercado de plantas e bichos, o respeito com o ambiente do entorno se reflete no alimento que se come – só vegetais, frutas, cereais – no cuidado com os animais que fornecem ovos e leite, nas plantações. E o resultado disso é o que a natureza dá em troca e que se traduz em saúde para as pessoas que ali estão. Uma relação baseada no respeito.

Na volta de lá, resolvi pegar a Avenida Brasil. O primeiro choque com a civilização urbana é sentido logo, pelo barulho. Já repararam como, ao sair de um lugar mais protegido, nossos ouvidos custam a se acostumar à agressão provocada pela zoeira de carros?Passando pelo território que foi tomado por viciados em crack, não vi mais por ali os pobres farrapos humanos em que essas pessoas se transformam, mas está claro que, se não tiver a força do estado para dar limites, eles vão retornar. É que o entorno está mal cuidado, não ajuda em nada para criar uma nova forma de ocupação. 

Andando mais um pouco, foi hora de enfrentar o engarrafamento provocado pela quantidade de pessoas que, legitimamente, querem assistir ao acender das luzes de uma árvore de Natal gigante, instalada na Lagoa, que já se tornou símbolo dessa época do ano. Mas o desconforto que se enfrenta para chegar lá é de tirar o ânimo.

Pela primeira vez na história da humanidade, segundo o site da ONU, mais da metade da população mundial vive em centros urbanos. E é nos países mais desenvolvidos e nos da América Latina que as cidades atraem mais as pessoas. Levando em conta os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados nesta segunda-feira (1º), aqui no Brasil estamos vivendo mais. Vamos ter mesmo que criar meios para que a convivência nas cidades não fique mais desconfortável à medida que o tempo passa. E à medida que a Terra aquece...

Hortas
Nesse sentido, as hortas urbanas são um alento. Aqui perto de casa mesmo está florescendo uma, com a solidariedade dos vizinhos. É um jeito bem saudável de ocupar o espaço de terrenos baldios sem criar conflitos, mas gerenciando relações. O alemão Manfred Bert, um paisagista, liderou o movimento, reuniu alguns moradores mais ativistas e tem dado certo. De vez em quando, dentro das minhas possibilidades de tempo, passo por lá e deixo um lixo orgânico, mexo numa terrinha. Essas microssoluções têm, para mim, papel fundamental num cotidiano de macroproblemas.

Mas há quem esteja tentando reunir as microssoluções num único espaço – o que pode resultar em troca de informações e ser muito bom para replicar exemplos. Em Sydney, na Austrália, aconteceu de 12 a 19 de novembro um Congresso Mundial de Parques, que reuniu mais de seis mil participantes de 170 países e lançou o documento "The Promise of Sydney", que destaca a necessidade de revigorar esforços para proteger áreas naturais (veja, em inglês) . O subtítulo do encontro é motivador: "Os parques, o planeta e nós: fontes de inspiração e de soluções".

Pensei sobre o encontro australiano nesse fim de semana que passei numa área protegida não pelo estado, mas por pessoas. Para os especialistas que ficaram reunidos em Sydney, a governança é o ponto de partida, que vai nos levar às soluções pretendidas. Mas não é qualquer governança. O documento final alerta para o fato de que a prioridade não está em “quem toma as decisões”, mas sim em “como se tomam as decisões”.

“Falamos de qualidade de governança (ou boa governança) quando se tomam decisões de forma legítima, justa, com visão, responsabilidade e prestação de contas e respeito de todos os direitos”, diz o documento escrito ao final do encontro.

Parece bem de acordo uma discussão como essa, sobretudo porque o encontro foi no país que tem um primeiro-ministro (Tony Abbott) polêmico por não se mostrar interessado em colaborar globalmente em um acordo entre países para baixar as emissões. 

Uma dimensão da boa governança é a diversidade, mostra o documento. Um sistema de áreas protegidas diverso inclui uma ampla gama de tipos de governança, e é preciso chamar para a mesa de negociação os povos indígenas, tradicionais, comunidades locais, entidades privadas, governos nacionais e locais.

No texto final, os congressistas se comprometem a examinar exemplos de diversidade, qualidade e vitalidade de governança de áreas protegidas no mundo, ilustrando casos positivos e emblemáticos que possam contribuir para a execução dos compromissos firmados em Aichi, no Japão, uma das ferramentas daConvenção Mundial sobre a Diversidade Biológica (CDB) firmada em 1992 (veja aqui) .

Nesse sentido, o Brasil já está um passo adiante. No próximo fim de semana, os habitantes do Arquipélago de Bailique, conjunto de oito ilhas na região amazônica, estarão reunidos novamente para continuar o duro trabalho que vai resultar num Protocolo Comunitário do local. A iniciativa é da rede Grupo de Trabalho Amazônico e o objetivo é, justamente, seguir o texto da CDB e criar uma governança local para organizar uma forma sustentável de exploração dos seus próprios recursos. Em conversa com o presidente do GTA, Rubens Gomes, ele me disse que está impressionado com o nível de participação das unidades familiares do Bailique.

Leio no site do Congresso em Sydney que um dos projetos apresentados pelos participantes é o de capacitar a comunidade das Ilhas Salomão, no Pacífico, no sentido de ajudá-la a resgatar sua cultura e se tornar menos vulnerável às investidas do mercado corporativo. Algo bem parecido com o que fazem os técnicos do GTA no Bailique.

Outro exemplo bom que vem aqui das terras brasileiras é o Seminário de Manejo Florestal Comunitário e de Pequena Escala que aconteceu em setembro em Lábrea, na região Amazônica (veja aqui), promovido pelo Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB).

São iniciativas que podem dar certo. E seguimos apostando também na reunião que começa nesta segunda em Lima que tem como objetivo principal traçar rumos para se conseguir um acordo global em Paris no ano que vem. Não gosto muito dessa expectativa com um tempo no futuro que parece desfocar o olhar do presente. Mas é assim que são feitas as negociações globais.

Bom mesmo é pensar que cada vez mais teremos iniciativas locais de sucesso e que o mega-acordo só vai se juntar para dar frutos ainda melhores.



Fotos:Horta urbana (Fernando Pilatos/TV Globo)Parque do Ibirapuera (Leonardo Neiva/G1)

http://g1.globo.com/natureza/blog/nova-etica-social/post/pequenas-solucoes-para-grandes-problemas-o-desafio-da-humanidade.html