Substância, que é vendida apesar de estar com registro vencido na Anvisa, provocou infecção na modelo Andressa Urach e em outras mulheres.
Esta semana a modelo Andressa Urach foi parar na UTI com uma infecção gravíssima depois de cirurgias para tirar mais de um quilo de tecidos das pernas. Andressa tinha recebido aplicações de hidrogel nas coxas. O Fantástico investigou este mercado lucrativo e constatou que na busca pelo corpo perfeito tem muita gente colocando a vida em risco.
Ela já foi vice Miss Bumbum e madrinha de bateria. Na Copa, pintou o corpo para chamar a atenção do Cristiano Ronaldo e virou comentário geral. Mas, esta semana, a modelo e apresentadora Andressa Urach foi notícia por outro motivo: o seu atual problema de saúde.
Há cinco anos, Andressa decidiu aumentar as coxas. Para isso, optou por um procedimento muito popular atualmente: a aplicação de um produto conhecido como hidrogel. Há 10 meses, as pernas começaram a infeccionar.
“Ela veio à clínica e eu encontrei de fato uma bola inflamada, um acúmulo de liquido na mesma região onde estava o produto”, afirma o cirurgião plástico Julio Vedovato.
Ela foi internada em estado grave na UTI de um hospital em Porto Alegre, com infecção generalizada, mas vem se recuperando. De acordo com o último boletim médico, Andressa está acordada, conversando e respirando espontaneamente, sem ajuda de aparelhos.
O produto usado pela Andressa é uma mistura de soro fisiológico com uma substância sintética. “Hidrogel é simplesmente o nome de como ele é. É um gel transparente, tem água. Na realidade, a substância principal se chama poliamida”, explica Denise Steiner, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
O hidrogel é injetado na camada mais profunda da pele, para dar volume, e se fixa no local da aplicação. O organismo reage ao corpo estranho e cria uma membrana ao redor da substância. O problema é que essa membrana pode infeccionar, e é aí que está o perigo: quanto maior a quantidade de hidrogel, maior o risco de infecção.
O hidrogel vem da Ucrânia e começou a ser vendido no Brasil com o nome de Aqualift. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, informou, em nota, que o registro para comercialização do Aqualift venceu há oito meses. O produto, portanto, neste momento não pode ser importado e nem vendido no Brasil. Apenas os lotes fabricados até o dia 31 de março deste ano estão liberados.
Na internet é fácil encontrar propagandas que prometem resultados milagrosos. Nos consultórios, os médicos confirmam que o hidrogel está em alta, principalmente agora, às vésperas do verão.
O Fantástico marcou consulta em uma dessas clínicas, no Rio. “Semana que vem eu estou com a agenda toda cheia. O Aqualift é o único que eu não tenho nada. Acabou tudo, sai muito. Não tem mais ninguém natural”, afirma a médica responsável pelo atendimento.
Em um exame rápido, a médica garante resultado imediato. “O que você precisa fazer é mais esse andarzinho aqui de cima. Daí você dá uma empinada”, explica.
E cobra R$ 3,7 mil para aplicar 100 ml de hidrogel no bumbum. “O Aqualift ele vem uma bolsa de soro fisiológico. Ali vem 100 ml. Então eu abro e faço em você”, afirma.
Cem mililitros é uma quantidade muito maior do que a recomendada pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, que é de no máximo 5 ml para o corpo. Ou seja, a médica indicou uma quantidade 20 vezes maior do que seria seguro.
“A Sociedade Brasileira de Dermatologia está muito preocupada com essa situação, porque isso está disseminado. Em qualquer local você vê uma plaquinha: ‘Injeta-se isso, faz aquilo’”, ressalta Denise Steiner.
No lugar do hidrogel, os dermatologistas preferem substâncias absorvidas facilmente pelo organismo, como o ácido hialurônico. Para aumentar as coxas e o bumbum, só mesmo a prótese de silicone. E qualquer um desses procedimentos deve ser realizado apenas por médicos.
“Não podem ser feitos por profissionais não médicos, profissionais de outras áreas da saúde e muito menos por pessoas leigas. São procedimentos privativos do médico”, explica o presidente do Conselho Federal de Medicina Carlos Vital.
Maria José Brandão, de 39 anos, não estava atenta a isso. Mês passado, em Goiânia, ela teve complicações depois de uma aplicação de hidrogel e morreu.
Raquel Policena Rosa, a falsa biomédica que a atendeu, foi presa, mas agora responde em liberdade por homicídio, exercício ilegal da medicina, lesão corporal e distribuição de produtos farmacêuticos sem procedência.
A notícia apavorou outras clientes de Raquel, como uma mulher de 35 anos que não quis ser identificada. “Eu não posso ficar muito tempo sentada que começa a inflamar, a formigar, chega ao ponto que eu começo a mancar. Eu ainda não estou conseguindo viver direito. Eu quero a minha saúde de volta”, lamenta.
Muitas mulheres que já aplicaram o hidrogel estão sem saber o que fazer com a bomba relógio que parecem carregar no corpo. “Procure o seu médico para efetuar exames. Para ver se isso está inflamado, se esta infectado”, recomenda Julio Vedovato.
“Se pudesse voltar atrás não faria. De jeito nenhum”, diz uma das vítimas.
G1
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