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sábado, 31 de maio de 2014

Contos Reflexivos Ilustrados - A Missão. Há um Limite para a Ciência?


A Missão
Autor: Alberto J. Grimm [1]

Há um Limite para a Ciência?

Importante não é conseguir, mas valorizar a conquista...

Evolução era coisa do passado, o termo mais usado era, naquele momento, Modificação Genética Programada. Se num primeiro momento da história evolutiva dos seres vivos, os mais capazes serviam de matrizes para as classes sucessoras, agora, com o progresso de sua ciência, isso não era mais necessário. Todo projeto de seres vivos, naquela civilização, podia ser idealizado, programado, e depois, colocado em prática. 

Assim, os habitantes de agora, representavam, antes de tudo, a mais ousada obra jamais construída pelos cientistas. Era um processo evolutivo forçado, feito literalmente de forma manual, pelos autores do projeto. E o resultado, seres inteligentes, conscientes do seu papel naquele mundo, mas sem esquecer suas origens. E era do que se ocupava naquele instante aquele singular grupo de cientistas, arqueólogos. 

Cuidado extremo em preservar intocado o ambiente recém descoberto, era a maior preocupação do grupo de apoio. Salteadores, ladrões de relíquias, disso deveriam preservar aquele imenso sitio, antes citado apenas nas lendas e folclore daquele povo. Deveria, portanto, ser uma investigação discreta, sem a presença dos meios de comunicação, longe da possibilidade de tornar público tão espetacular achado. 

Não podiam correr tal risco, seria imprevisível a repercussão, poderia alterar todo lastro histórico daquela avançadíssima civilização, sua origem, seu futuro. Sequer a equipe de segurança poderia se aproximar dos intrigantes vestígios que ora, à flor da terra, se podia ver. Uma catástrofe natural, uma calamidade, uma sucessão de terremotos, furacões, enchentes, foram as causas da descoberta, e alguns anos depois, enquanto ainda tentavam medir o tamanho dos estragos, a surpresa do achado, tornara tal contabilidade coisa sem importância. 

Caminhando com dificuldade sobre o relevo do terreno dilacerado pela natureza, aquilo que agora podiam vislumbrar, deixou-os petrificados, por vários instantes estáticos, como estátuas vivas, sem respirar, e só quando já lhes incomodava a faltar de ar, recobraram o fôlego e a razão. 

Há dois anos atrás, antes que as rachaduras do terremoto escoassem suas águas, aquilo já fora um lago, o maior existente em todo planeta. Por isso nunca haviam encontrado as ruínas que ali, por milênios, se ocultara. Tratava-se de uma cidade, uma megalópole, cujas ruas e praças, cuidadosamente traçadas, agora se podia ver. Sem dúvida, um digno espetáculo para a ciência. 

A maior parte daquelas construções ainda estava debaixo da terra, ou lama, mas, o pouco que se podia ver, já significava o muito que sempre sonharam encontrar um dia. Eram edificações magníficas, gigantescas, feitas com extremo zelo e delicadeza. Detiveram-se diante de uma delas. As imensas janelas, ainda com sua madeira original, pintadas numa cor agora inexistente, enfileiradas lado a lado naquelas imensas e sólidas paredes de tijolos e concreto, tudo milagrosamente conservado, indicava que ali já fora um enorme casarão. 

As telhas gigantes, algumas inteiras, ainda cobriam parte daquele espaço. Nos demais cômodos, onde as paredes não mais existiam, formas fabricadas com materiais desconhecidos, objetos de variados tamanhos, ainda careciam de um estudo mais demorado, para lhes definir uma utilidade, um nome. Era difícil para o grupo organizar as ideias com suas mentes completamente tomadas de encanto e admiração por tudo aquilo. Ao se aproximarem da imensa porta da edificação ainda de pé, a ansiedade entre os presentes era impossível de conter. 

“Portas de tal magnitude, só mesmo, segundo os relatos pré-históricos, podiam ser encontradas, nas moradas dos antigos deuses...”, comentou quase sem voz o chefe do grupo de batedores. Não era fácil, afinal, ciência e crença agora estavam face a face, e o que antes era lenda, naquele momento, tornara-se coisa concreta, tão real quanto a expectativa que existia dentro de cada um. O que descobririam ali naquelas ruínas? O que o destino lhes reservara para aqueles dias? 

Falar em dormir soava quase como uma blasfêmia, tão improvável quanto encontrar um político que apenas falasse a verdade. E a noite fora de planejamento intenso, marcação dos primeiros pontos a serem explorados. Tudo precisava ser cuidadosamente examinado, sem retirar nada do local, pois só assim seria possível traçar um caminho lógico, dos últimos acontecimentos que marcaram aquela antiga civilização. 

“E se encontrarmos vestígios dos antigos habitantes?”, questionou, sem obter respostas, meio inseguro, um deles, no intervalo de um dos longos e repetidos lapsos de silêncio, que, com frequência, tomava conta de todo grupo. Conheciam bem as lendas, estava tudo bem documentado, e se estavam ali à espera de um amanhecer para iniciar a exploração, deviam isso a ciência dos antigos, que, com sua avançadíssima genética, tornara isso possível. 

Muitos foram necessários para mover, o suficiente para que pudessem entrar no recinto, a monumental porta de madeira maciça, um dos mais extraordinários vestígios dos antigos habitantes. Era um ambiente amplo, com mais de um pavimento e vários recintos com portas fechadas. A iluminação que atravessava o telhado incompleto tornaria o trabalho, a busca por respostas, mais fácil. Ainda assim, não abriam mão de suas potentes luminárias e lanternas artificiais. 

Livros imensos, grande parte deles bem maiores que um indivíduo, podia se ver nas prateleiras de uma grande biblioteca, assim como máquinas primitivas, restos de aparelhos eletrônicos arcaicos, bem desgastados pelo tempo. E tudo isso, deixavam-nos estupefatos, sem saber por onde começar. Mas, nada comparado com a descoberta que fariam em um dos imensos quartos. Demorou para que conseguissem se recompor, para recobrar a lucidez ofuscada pela fascinação do que encontraram. Parecia um desses sonhos onde não se consegue despertar. 

A escrita era clara e bem conhecida por todos os presentes. Tratava-se da língua daqueles que um dia foram chamados de deuses, os mesmos precursores da ciência genética que havia criado a base da atual civilização. Uma das duas cientistas do grupo, doutora em antropologia, examina então comovida, o magnífico achado, enquanto as lágrimas encharcam seus delicados olhos. A lápide ao lado do corpo explicava tudo, e ele, o esqueleto, fora ali deixado com esse propósito.



Agora, diante da evidência de que finalmente encontraram os restos da antiga civilização, local onde viveram seus criadores, eles contemplam o imenso esqueleto de 1,80 de altura, de um deles. O cientista chefe, do alto dos seus 12 centímetros de altura, o mais alto dentre o grupo dos indivíduos ali presentes, não consegue ficar impassível diante do gigante, e se emociona tomado pelo pranto. 

Eles que agora eram capazes de pensar, de construir máquinas sofisticadas, de modificar geneticamente qualquer estrutura viva, sem esquecerem que um dia, já foram simples macaquinhos, a menor espécie de saguis, que sequer conseguiam falar, ou andar sobre duas pernas, longe da aparência humana que ora possuíam. E tudo isso deviam aos seus criadores, que num dia remoto os modificaram geneticamente, e desde o grande cataclismo, eram as únicas formas de vida inteligente sobre a terra. 

Os Homus-saguis, agora aptos a clonar seus antigos criadores, seus deuses. Aptos a transformarem, mais uma vez, sua própria civilização, recriando todos os novos indivíduos, a partir daquele dia, de fato, como diziam as antigas lendas, à imagem e semelhança do seu criador.

http://sitededicas.ne10.uol.com.br/contos_reflexivos_index.htm

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