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terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Bloqueadores de publicidade: utilidade pública ou extorsão?


Pode-se argumentar que ela existe em excesso, mas aceitamos a publicidade na internet como fato da vida. Recebemos conteúdo e serviços de graça, então tudo bem a gente ver esse monte de banners, vídeos e etc nos endereços que acessamos, mesmo que não cliquemos quase nunca neles. É uma barganha que tem servido mais ou menos para todas as partes envolvidas.


O problema é que como a publicidade na internet não paga muito bem assim (e cada vez menos), alguns sites apelam pela nossa atenção. Colocam janelinhas em pop-up, vídeos que tocam automaticamente, ou escondem o botão de fechar o comercial. É difícil tolerar tudo isso, então muita gente – pelo menos 144 milhões de pessoas – usa extensões do navegador para bloquear publicidade. Quem tem esses programinhas instalados vê uma internet diferente, sem nada que interfira na atenção. Parece um lugar mais aprazível, mas há um problema: quando a publicidade não aparece, o site não recebe dinheiro, já que ele não tem uma “impressão”, que é a medida por qual a publicidade é remunerada. Se todo mundo bloqueasse a publicidade, seria grande a chance de sites como o Yahoo – ou o Youtube – deixarem de existir, ou serem pagos. Por isso tanta gente do meio tem medo desses bloqueadores de publicidade, e evitam até mesmo falar no problema. Mas na última semana, foi inevitável.


Tudo porque o AdBlock Plus (ABP), que já teve mais de 300 milhões de downloads, virou, ele próprio, notícia. O motivo: descobriu-se que a empresa alemã que desenvolve o ABP está deixando passar a publicidade de grandes anunciantes. Basta eles pagarem uma bolada, que aparecem na cara de gente que paga justamente para que eles não apareçam.


Segundo reportagem do Financial Times, empresas como Amazon, Microsoft, Google e Taboola pagaram para não serem “desaparecidas” pelo Adblock Plus. O valor não foi divulgado, mas ele chegaria a até 30% do faturamento que essas empresas ganhariam com a publicidade antes bloqueada. Depois de pagar, as anunciantes passariam a constar em uma “lista branca”, que normalmente só aceita publicidade não-intrusiva, que não incomoda muito. Esse é o modo padrão quando se instala o ABP – quem quiser pode desligar toda e qualquer publicidade depois, ou permitir em alguns sites específicos. Como o default raramente é alterado, isso virou uma grande questão.


A princípio, a iniciativa do ABP de criar uma frente pela publicidade “sustentável” (com anúncios menos irritantes) parece bacana. Se a “lista branca” fosse de alguma forma automática, ou escolhida pela equipe que faz o Adblock Plus para garantir uma internet menos poluída, o resultado seria uma rede mais legal de se navegar – ainda que o método seja meio forçado. Agora, quando ela decide cobrar de gente que quer aparecer (só anunciantes grandes, ao que parece), isso parece demais com extorsão. É criar um intermediário onde não existia, potencialmente irritando as duas pontas que ela “serve”. O Taboola, que paga para estar na lista branca, é terrível e incomoda bastante gente. Mas como ele paga, ele não é bloqueado. Não me parece um sistema justo. E algumas empresas jornalísticas alemãs já estão lutando contra esse modelo de negócios na corte.


Alguém tem que ceder nessa história toda. As pessoas que visitam as páginas que são bancadas por publicidade tem que entender que usando essas extensões elas estão na prática prejudicando os sites que gostam. Ao mesmo tempo, as empresas precisam entender que há um (complexo) equilíbrio entre atender o desejo do anunciante, trazer coisas relevantes para suas páginas e não afugentar os visitantes. Acho que elas estão progredindo – e as empresas de software (como o Google, que com o Chrome implementou o bloqueador de pop-up por padrão), estão ajudando a acelerar a adoção desses anúncios sustentáveis. Mas os AdBlocks da vida podem colocar todo esse avanço a perder.


Fonte: Blog do Pedro Burgos/Yahoo!

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