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terça-feira, 16 de dezembro de 2014

A economia verde e a aproximação aos mais pobres


Coube ao professor indiano Surajit Mazumdar, da Universidade Jawaharlal Nehru, trazer para a mesa de debate sobre o padrão de acumulação global e a insustentabilidade desse modelo, o elemento muitas vezes esquecido nas discussões sobre desenvolvimento do mundo: o homem. O encontro, promovido pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), com parceiros, aconteceu nesta terça (18) no Museu da República, e foi aberto ao público em geral. No dia anterior eu havia estado em outro debate, promovido pela FBDS (veja aqui) onde as questões do meio ambiente foram o foco maior e o sistema financeiro teve uma participação menor. Mas lá também senti falta de visões menos estatísticas, mais humanizadas.

Só para ilustrar o que estou dizendo: alguém na mesa do FBDS propôs reflexão sobre um tema inquietante. Por conta do aquecimento global, as plantas estariam produzindo menos proteína. “Um desastre para a agricultura”, disse o palestrante. Comentei baixinho com alguém ao meu lado: “Um desastre para o homem, que precisa da proteína para sobreviver”. E esse alguém me lembrou: “É que este não é o foco dele, e sim os negócios”.

Mas, voltando ao seminário do Ibase. O tema posto na mesa era a desigualdade, a acumulação de capital, que fica lado a lado com o aquecimento global na lista dos assuntos mais inquietantes que a humanidade está enfrentando. E os protagonistas eram os Brics (Brasil, Russia, Índia, China e África do Sul), sigla criada em 2001 pelo economista Jim O’Neil, para identificar os países que se tornaram mais relevantes para a economia mundial. Na mesa estavam o professor indiano que já citei; o professor chinês Ho-fung Hung, da Universidade Johns Hopkins; o professor Giorgio Romano, da Universidade Federal do ABC; e o professor José Maurício Domingues, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp) da Uerj.

Ho-fung abriu os debates e, já que o tema era a desigualdade, não poupou os Estados Unidos e sua dominação financeira mundial. O que me deixou ligeiramente incomodada foi que, em seu discurso, havia muito mais um desejo de tomar esse lugar de soberania do que, propriamente, o de contestar sua eficácia. E assim fomos informados de que o poder de compra dos norte-americanos está 20% mais baixo, enquanto o do povo chinês vem aumentando; que a China está se tornando a economia número 1 do mundo e que sua estratégia tem sido acumular dólares americanos para usá-los internamente, financiando sua infraestrutura. É o jeito que encontrou para fazer reserva de sua própria moeda.

Por outro lado, o país que acabou de assinar um acordo sobre emissões de carbono com os Estados Unidos, tem se preocupado em aumentar sua exportação porque, por conta dos baixos salários, não há mercado interno para consumir tudo o que é produzido. Eis o ponto: “É preciso investir em maior distribuição de renda na China”, disse o professor, já no finalzinho de sua fala. Fico pensando se esse não seria o foco principal, não a disputa pelo poder com o atual número um do mundo.

Integrante do Grupo de Reflexão sobre Relações Internacionais (GRRI), Giorgio Romano traçou a história sobre como os Brics se tornaram o que são hoje. Do início do século até agora, o que se viu, focando no Brasil, foi uma diminuição da vulnerabilidade financeira que veio com o pagamento da dívida ao FMI. No total, os países do Brics fazem reservas e não têm dívidas, enquanto os países ricos estão endividados. Ficou faltando mostrar como essa situação se reflete no dia a dia da população dos Brics, envolvida com suas próprias dívidas.

O avanço do setor privado e das multinacionais sobre a Índia foi o foco na fala do professor Mazumdar. Sim, e o fenômeno tem aumentado a desigualdade no país pelo fato de os funcionários de empresas públicas ganharem cerca de 20 vezes menos do que os outros. “Isso não entra nos cálculos quando se fala sobre desigualdade na Índia”, disse o professor.

O crescimento indiano é baseado em serviços e o setor da indústria tem apresentado até um certo decrescimento, mas como usa carvão como principal fonte energética, o país é o terceiro no ranking dos mais poluentes. Isso não foi debatido na mesa, cujos integrantes preferiram focar seus pensamentos em questões financeiras.

Último a falar, o professor José Mauricio Domingues desconstruiu grande parte do discurso sobre o poder dos Brics. Segundo ele, esses países ainda estão longe de ser um poder estruturante e podem estar, isso sim, caindo na armadilha do padrão de acumulação global. A falta de investimento em inovação, por parte do empresariado latino americano, que o acadêmico denuncia, pode ser uma forma de condenação.

O cenário atual, segundo Domingues, é mais complicado do que foi no passado e estamos muito longe de assistir ao declínio dos Estados Unidos. “Isso põe a questão dos Brics sob outro ângulo e o fortalecimento desses países não significa um jogo de 1 a 0”, disse ele. As empresas estão enxutas, terceirizadas, têm centro de produção mas não de inovação aqui na América Latina. Para construir seus centros de inovação, os empresários preferem ainda os Estados Unidos e a Alemanha.

A classe média está consumindo mais, e esse fenômeno é registrado pelo professor, não exatamente como uma mudança para melhor, pois “pode estar apenas garantindo a acumulação de capital”. O que significa, de verdade, superar a pobreza?, pergunta-se o professor. Será a distribuição de cartões ou dinheiro para que as pessoas possam se alimentar?

“Nada indica que sim. As pessoas vão continuar pobres e vivendo dessa ajuda governamental”, disse ele.
Como vocês devem ter percebido, o debate foi muito interessante e trouxe muitas reflexões. A preocupação com uma nova ordem, que já está sendo imposta pela mudança climática e aumenta os limites de desigualdade à medida que tira dos mais pobres condições mínimas de sobrevivência (com eventos extremos), porém, ficou de fora. Quando alguém da plateia questionou, o professor indiano trouxe, como eu disse no início do texto, um paradoxo que ainda é entendido assim pela maioria: “O que importa são as pessoas que têm fome, não as mudanças climáticas”.

Dito assim, a tendência é concordar com ele. A economia verde, que busca gerenciar o aquecimento sob as normas industriais, de fato está distante dos mais pobres. Por outro lado, os eventos extremos que, segundo os cientistas, têm sido cada vez mais frequentes por causa do aquecimento global, colaboram para aumentar a pobreza e a desigualdade.



Este custo social é um impasse da nossa civilização atual. Inclui questões fundamentais, como qual o tipo de desenvolvimento que realmente se quer, se suporta, de que maneira devemos produzir e consumir. Uma percepção que não se torne cega à diversidade. Será que países tão diferentes culturalmente quanto Índia e China não teriam muito mais a acrescentar ao debate se não tivessem que seguir o modelo de desenvolvimento imposto por uma ordem global ocidentalizada? É só um pensamento para alimentar a reflexão.

http://g1.globo.com/natureza/blog/nova-etica-social/post/economia-verde-e-aproximacao-aos-mais-pobres.html

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